quinta-feira, 30 de junho de 2011

Interrogação

Seremos mais mansos
cordeiros alados
pregados no chão

Por serem temíveis
o correr dos dias
daqueles que virão

Mas fechar os olhos
sabendo o que os olhos
abertos nos dão?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Poeminha

Eu quero uma canção triste
para alegrar o meu dia
...
Uma nota que amplifique
o tom da minha alegria
...
Pois que o prazer não existe
sem essa melancolia

terça-feira, 28 de junho de 2011

The Idiot


Eu não sou idiota!
Mas devo ter sido, durante anos e anos, por me ter separado de The Idiot.



* (na verdade, tive este disco em cassete e ouvi-o várias vezes, até me esquecer dele... Tinha 14 anos, e perdi muito tempo até ao atual reencontro)

domingo, 26 de junho de 2011

Uma sala que fosse minha

Confesso que gostava de ter uma sala (e digo sala por não gostar de escritório, palavra que me parece sempre inadequada...) para ouvir música, guardar discos e livros, um espaço onde contemplar as minhas pequenas e grandes obsessões. Nessa sala, entre muitas outras coisas, como já se percebeu, penduraria muitos quadros, que mais não seriam do que capas icónicas (para mim, claro está) de discos que conheço e admiro. Mais do que o disco ou o artista em questão, a ideia dos quadros teria sobretudo a ver com a imagem da capa. A imagem, como produto independente de tudo o resto. Seria uma sala, imagino-a sempre assim, muito ampla, cheia de cor, um espaço onde me sentiria mais em casa, do que no resto dela. Os meus amigos seriam bem vindos, especialmente a essa sala. E diriam, estou seguro disso, "falta-te aqui aquela capa do disco dos...", embora não possa garantir que fosse sempre concordar com essa amiga opinião. Uma sala que fosse minha, mesmo que apenas virtual, mesmo que apenas por escrito... A primeira escolha está feita. A porta da sala está aberta. Podem entrar.

* este post inaugura uma nova etiqueta neste blog.
** a capa (maravilhosa, convidativa, intemporal) é de Wild Planet, dos The B-52's.
*** a fotografia da capa é da autoria de Lynn Goldsmith

sábado, 25 de junho de 2011

Iggy mood

Como (quase) sempre, a minha tendência de chegar tardiamente a certos músicos fez-se sentir uma vez mais. No problem! São coisas que remeto para "a idade", sem pensar mais nisso. Há, no caso de Iggy Pop, quem possa considerar isso uma "regressão". Também não penso nisso. Seguir em frente é sempre um caminho que me satisfaz. Qualquer dia darei mais notícias sobre este Iggy mood que me tem acompanhado ultimamente. Fica a promessa.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Aspiração

Como um espelho
embaciado
da respiração
a acontecer...

E assim mesmo
sem que se note
desaparecer

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Raw Power Suite

Este disco tem muito que se lhe diga, embora não vá escrever sobre ele mais do que meia dúzia de linhas. Quem conhece Raw Power (Iggy & The Stooges) tem aqui material de sobra para amar ou detestar. Eu incluo-me no primeiro grupo. É um amor especial (mas não são assim todos os amores?), um amor do qual me orgulho, sem dele fazer alarido. O meu amigo Holy McGrail, já repetente neste blog, apoderou-se do célebre disco de Iggy e companhia, e fez dele uma outra coisa, digamos assim. Esta edição limitada da Brain Donor Records (2008) vale já bom dinheiro (de tão raro que é), para quem tiver ouvidos aptos para uma aventura sónica deste tipo. Prepare-se, se conseguir obter esta pequena rodela de som! Prepare-se para se incomodar, e acomode-se.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Eu nunca fui à Bahia


Conheço a Bahia sem nunca lá ter ido. Conheço-a pelo muito que li (romances, poemas, textos de conteúdo histórico, letras de canções, peças de teatro, receitas de culinária...) e pela arte pictórica tão típica da região, por filmes que fui vendo ao longo dos anos, e certamente também pelo imaginário que cimentei depois de tantas e tão variadas experiências implícitas no que escrevi nas linhas iniciais deste pequeno texto. Daí que hoje me tenha lembrado dos célebres versos da canção Você Já Foi à Bahia?, de Dorival Caymmi:

"Você já foi à Bahia, nêga?
Não?
Então vá!"

Mas a verdade é que nunca fui à Bahia, e por isso não a conheço, conhecendo-a apenas à minha maneira. Nessa mesma canção de Dorival, há ainda outros versos que conheci primeiro do que os da referida canção, porque roubados por Caetano Veloso para a letra da sua conhecidíssima Terra, embora não cantando o último verso do excerto original:

Nas sacadas dos sobrados
Da velha São Salvador
Há lembranças de donzelas,
Do tempo do Imperador.
Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito,
Que nenhuma terra tem!

Não sei se a vida alguma vez me levará à Bahia, mas se isso acontecer, essa primeira vez soará um pouco a repetida.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Seja marginal, seja herói


A célebre tela de Hélio Oiticica ainda hoje transmite uma válida opinião. Para mim ela estará sempre relacionada com o movimento tropicalista, mas a história diz-nos que ela foi pintada em homenagem a Cara de Cavalo, conhecido meliante morto pela polícia brasileira em 1965, ano em que a tela foi pintada. Durante muito tempo, (ó ignorância!!!) julgava que a imagem deitada na pintura de Oiticica era a do meu idolatrado Caetano Veloso, isto porque ela aparecia no encarte do disco Barra 69 - Caetano e Gil ao Vivo na Bahia, no Teatro Castro Alves, e também pelo facto de ser relativamente comum ver-se, nos concertos, Caetano Veloso deitado no palco durante alguns momentos do espetáculo, postura que ainda vai repetindo, aliás. Mas voltemos ao início deste texto, lembrando o conceito expresso no texto da famosa tela. A ideia heróica atribuída à marginalidade, entendida claramente por mim como distante da ideia que presidiu à sua aparição, parece-me cada vez mais válida nos dias que correm, embora cada vez menos representativa dos indivíduos deste tempo. Eu sou, ou tento ser, marginal. Marginal por não me rever em muito (em quase tudo, aliás) daquilo que nos chega de forma massificada aos olhos, aos ouvidos, através da imprensa escrita, falada, televisionada, através dos filmes que passam nas salas de cinema, dos espetáculos de música, e por aí fora... E sou, da maneira mais humilde que consigo, herói. Porque resisto, porque não vejo, não leio, não ouço aquilo que me impingem a torto e a direito, querendo sempre ser eu, para o bem ou para o mal, a escolher o que mais me apraz. Por isso dou razão a Oiticica, embora subvertendo o sentido da sua tela-bandeira que há tantos anos conheço.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Jóia (a outra metade é Qualquer Coisa)

O disco Jóia, de Caetano Veloso, chegou-me às mãos, pela primeira vez, e em vinil, a 30 de março de 1988. Disco minimalista, experimentalista (embora não à maneira de Araçá Azul), Jóia é um momento marcante no meu crescimento caetaneano, digamos assim. Jóia sempre me impressionou, muito mais do que Qualquer Coisa, o disco saído na mesma altura, espécie de complemento de Jóia, ou Jóia complemento de Qualquer Coisa... O ouvinte que decida. Para além de ser um trabalho de enorme sensibilidade, de rara beleza, inspiradíssimo até ao tutano, Jóia ficou marcado pela ditadura militar, devido à censura imposta à capa e contracapa originais. A capa mostrava a família de Caetano (ele, o filho Moreno e a mulher Dedé) desenhados pelo próprio, mas completamente nus. Nem mesmo a inclusão de pombas nas partes mais escandalosas do desenho foram suficientes para acalmar os censores, pelo que a capa saiu apenas com as ditas pombas. Na contracapa, o mesmo problema, agravado por não ser um desenho, mas uma fotografia da família Veloso totalmente nua. A solução encontrada passou, logicamente, por mais pombas... Só mais tarde, quando a censura terminou, se voltou à capa e contracapa originais, que aqui são reproduzidas na sua inteira beleza original, ou quase, visto que as pombas nunca desapareceram do desenho da capa, estando, como se vê, estrategicamente colocadas. Mas Jóia é muito mais do que esse episódio censurável. É um punhado de canções elegantes e eternas, como Minha Mulher, Lua, Lua, Lua, Lua, ou Canto do Povo de um Lugar. Canções de acentuado experimentalismo, melodiosas e serenas como Guá, Asa, Pipoca Moderna, ou Tudo Tudo Tudo. Mas é mais ainda: é Pelos Olhos, Na Asa do Vento, Gravidade e Help (de Lennon e McCartney), apenas ao som do violão de Caetano. A canção que fecha o disco é um samba, que parece, aparentemente, nada ter a ver com o resto do disco. Mas fica bem onde está, no fim, com os versos de Oswald de Andrade "no pão-de-açucar/ de cada dia/ dai-nos, Senhor/ a poesia de cada dia".
Ando a ouvir Jóia pela enésima vez, redescobrindo-o com a surpresa e o espanto da primeira. É bom sinal. Muito bom sinal.

(capa permitida pela censura)


(capa censurada)


(contracapa censurada)


domingo, 19 de junho de 2011

Poema sempre comigo

Certo poema
depois de lido
deve guardar-se no bolso

Também é físico
o poema que guardamos
como nosso

Poema que vem
perto da pele
é um sinal

Um outro eu
que habita em nós
numa incidência orbital

sábado, 18 de junho de 2011

Eu nunca serei ninguém

O Senhor Stein abriu o seu diário, e escreveu: eu nunca serei ninguém. Pensou bem sobre o que havia escrito, e assentiu com a cabeça. Acrescentou ainda mais uma ideia: eu sou um indivíduo estranho. E, mais uma vez, depois de bem pensar, concordou. Gostava deste exercício de escrever, para depois pensar. O Senhor Stein sabia, de uma forma muito sua, insondável, que a escrita não lhe pertencia, que provinha da cabeça de alguém que, depois de escrever, fechava o seu caderno e abanava, afirmativamente, a cabeça.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Poema

Arrisco um traço
numa folha
um risco em forma
de letra
um mero acaso
de papel
e de caneta...

Arrisco um traço
e começa o sonho
desse espaço

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Poema

Eu sei de um barco
sem rumo
perdido e sempre a caminho
de onde acostar

Sei de um barco sem destino
(ora adulto ora menino)
sem conseguir navegar

E por onde anda esse barco
que ainda agora existia?

Foi grande a onda que veio
e grande o azar
que trazia

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Jimmy Smith (eight classic albums)

Já saiu há duas semanas, e ando doido por pensar que qualquer dia tenho-o cá por casa. Oito discos de Jimmy Smith (em 4 cds) numa só embalagem da Real Gone Jazz, é mesmo um grande motivo de contentamento. Não tenho nenhum deles, pelo que a felicidade antecipada que já sinto, ainda se torna maior. I'm freakin' out!!!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Brian Eno

Há cada vez mais um inequívoco namoro entre mim e este senhor.

* Portrait of Eno with Allusions, por Peter Schmidt (na imagem)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Plight & Premonition


Julgo ter percebido a principal razão para ninguém ouvir este disco. Para se ouvir e apreciar Plight & Premonition é preciso algo que hoje é apenas previlégio de poucos: disponibilidade de tempo. Entendamo-nos: todos temos tempo, mas nem todos parecem estar convencidos, que através do seu gasto se pode ganhar muitas outras coisas, tão ou mais preciosas do que essa circunstância que nos consome vorazmente. Ouvir esta obra de David Sylvian e Holger Czukay requer tempo, paciência, e o pressuposto típico de quem colhe algo precioso, não tanto em busca de resultados imediatos, mas antes tentando entender silêncios, luminosidades que uma ou outra nota vão acendendo. Isso, nos tempos que correm, é pedir muito. Eu sei. No entanto, custa muito pouco. Custa apenas, e de facto, 34.52 minutos.
O disco foi gravado no estúdio dos CAN, corriam os anos de 86/87. Curiosamente, uma remixagem deste mesmo disco (feita por Sylvian) pode ser encontrada como Bonus Cd em Camphor, coletânea instrumental saída em 2002. Tenho a sorte de ter as duas edições, e mais sorte ainda de as ouvir sempre de forma deliciada, quando quero perder o meu tempo para ganhar um pouco mais de vida.

* o disco é composto por duas únicas faixas: Plight (the spiralling of winter ghosts) e Premonition (giant empty iron vessel).

sábado, 11 de junho de 2011

Um dia

Valerá a pena
mais um nascer de dia
na certeza ingrata
de pensar
que mais um dia
não é mais um tempo
que desfia o tempo
que falta acabar

Um dia é uma só fatia
de vida por abraçar

Viver é um verbo inconstante
viver é nada esperar

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Clube da Esquina (por escrito)

Li este fantástico livro (em pdf) há muito pouco tempo, e gostaria de o ter, preferencialmente, na edição especial a que foi sujeito em fevereiro, no Brasil (formato 32x21 cm), e a preço de amigo, em virtude do apoio do Ministério da Cultura (R$ 29,90), embora somente na quantidade de 5.000 exemplares. Para quem gosta, como eu, deste grupo de artistas que veio de Minas Gerais (músicos, letristas, homens de grande dignidade profissional, ética, e moral) para espantar o mundo, esta é uma leitura imperativa. Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges (autor do livro), Wagner Tiso, Ronaldo Bastos e tantos outros figuram nas mais de 300 páginas deste Os Sonhos Não Envelhecem: Histórias do Clube da Esquina. Esta edição especial inclui ainda um cd com o alinhamento que aqui se expõe:

1 – Clube da esquina 1 – Márcio Borges / Lô Borges / Milton Nascimento

2 – Ela – Márcio Borges / Lô Borges

3 – Alunar – Márcio Borges / Lô Borges

4 – Canto Latino – Milton Nascimento / Ruy Guerra

5 – Equatorial – Márcio Borges / Beto Guedes / Lô Borges

6 – Gira Girou - Márcio Borges / Milton Nascimento

7 – Gran Circo – Márcio Borges / Milton Nascimento

8 – Girassol – Lô Borges / Márcio Borges

9 – Tudo que você podia ser – Márcio Borges / Lô Borges

10 – Clube da esquina 2 – Márcio Borges / Lô Borges / Milton Nascimento

Imperdível, como se percebe!

quinta-feira, 9 de junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Alucinação


Eu conheço-me bem: era mais que provável eu não gostar deste disco, mas adoro-o! Isto acontece com Alucinação (1976), e com o artista que o fez. Belchior é, portanto, um case study para mim, para eu próprio resolver. Mas, na verdade, não me interessa perder o meu tempo arranjando argumentos para justificar aquilo que, no meu íntimo, sei ser injustificável. Prefiro ouvir o disco, uma vez mais.

(capa e contracapa nas imagens deste post)

terça-feira, 7 de junho de 2011

Cá por dentro

Olhavas para muito longe, e eu, de muito longe também, olho agora para ti. O que aconteceu, entretanto? Que olhar é esse, tão meu e tão distante? O que sobra desse instante, tão afastado de mim, e tão presente neste único momento? Talvez apenas uma única certeza: o que eras e foste pelos tempos fora, é o que sou agora cá por dentro.

* eu, há cerca de 40 anos (na imagem)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Milton

Rompendo a fronteira do tempo, "de novo na esquina os homens estão", e eu encontro este Milton, de 1970. É um lugar de paz, de Maria Três Filhos, de Lennon e McCartney, de ouvir Durango Kid, e de Felicidade também. Saravá, Bituca!

domingo, 5 de junho de 2011

Poema

Curiosamente
o dia caminha comigo
de mão dada
conscientes
(eu e ele)
que entre as nossas mãos
existe nada


sexta-feira, 3 de junho de 2011

A vida


A manhã acordou, maquinalmente. Fui eu que abri os botões de seda do seu vestido matinal, quando a noite começou a findar-se, devagarinho, quase sem incomodar. O dia rompeu, adormecendo a lua, o negrume da noite, o esplendor longínquo das estrelas, uma a uma. Também é assim que a vida se constrói, uma recusa ao tempo, mas que mesmo assim avança contra ele, com vento a favor, até um dia... Como terminar a vida, se ela renasce todos os dias? Como negar-te a existência, se a horas certas principias?

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Circular

A escrita nasce
do poço profundo
das memórias

A memória regurgita
uma líquida torrente
de imagens

A imagem espraia-se
no papel e
a escrita nasce

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Panic of Girls fan pack (os Blondie estão de volta)

Saiu hoje! Há tanto tempo que espero por isto, meu Deus! Já vem a caminho, de Inglaterra, e espero que chegue muito rapidamente. Este Fan Pack traz o novo disco dos Blondie, intitulado Panic of Girls, e muitas mais coisas boas que a imagem acima esclarece. Agora há que esperar, antes de atingir o céu...