terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Os Melhores Discos de 2015


Já é uma tradição antiga aqui no I Blog Your Pardon, pelo que se repete, uma vez mais, este ano. Cá estão os eleitos!

  • 1) Kamasi Washington - The Epic
  • 2) Ana Cláudia Lomelino - Mãeana
  • 3) Julia Holter - Have You In My Wilderness
  • 4) Sufjan Stevens - Carrie & Lowell
  • 5) of Montreal - Aureate Gloom
  • 6) Dônica - Continuidade dos Parques
  • 7 Benjamin Clementine - At Least For Now
  • 8) FFS - FFS
  • 9) Revolutionary Army of The Infant Jesus - Beauty Will Save The World  
  • 10) Boogarins - Manual ou Dia Livre de Dissolução dos Sonhos
  • sábado, 5 de dezembro de 2015

    terça-feira, 24 de novembro de 2015

    Ninguém escreve como tu

    Andei a vasculhar pens antigas e deparei com alguns textos meus que escrevi para jornais e revistas. Recuperei este, que deve ter sido escrito há uns 16 ou 17 anos, era a minha filha muito pequena. Tudo a propósito de uma extraordinária entrevista que António Lobo Antunes deu à Pública (revista do jornal Público), se não me engano, e que tinha como título Ninguém Escreve Como Eu. Deixo-o aqui, para "memória futura".

    ...

    Ninguém escreve como tu. Ninguém. E não era preciso dizê-lo. A verdade, por muito que custe a muitos, é que ninguém escreve como tu. Nem mesmo tentando, como agora, na febre da escrita às três da manhã, onde o silêncio é tanto que paro e escuto a memória já um pouco adormecida de uma voz que diz
    - «Você é um anarquista, um marginal, você pactua com o leste, você aprova a entrega do Ultramar aos pretos»
    e olho para o teto para aliviar os olhos no branco da tinta do teto sem as linhas do papel por cima do branco imaculado das folhas, e de súbito a voz da minha filha que me chama
    - «você aprova a entrega do Ultramar aos pretos»
    do fundo do seu quarto e sei que deve estar de joelhos por cima do edredon da Disney com os braços abertos para o colo que só os pais sabem dar
    - papá, papá
    largo a caneta e o caderno, tiro os olhos do branco do tecto e reparo numa ponta de humidade ( porque o inverno vai longo e húmido, pouco chuvoso é certo, mas que está a ser húmido, está )
    - papá, papá
    e os chinelos que não estão no sítio para os calçar e a voz de novo a trovejar
    - «você é um anarquista, um marginal»
    os braços da minha filha esticados para o conforto dos meus, e ao contornar a cama tropeço nos chinelos fora do sítio habitual e digo
    - já vou pipoquinha, já vou
    sempre com a ideia da voz distante que a razão não apagou ainda, procuro a luz do quarto para não tropeçar em mais nada, para não assustar a minha filha já de si assustada por sonhos que todas as crianças teimam em ter a meio da noite, a meio dos sonhos dos adultos, tomo-a nos braços e faço o percurso inverso até ao ponto de partida, esquivando-me das armadilhas dos chinelos e das vozes
    - «você aprova a entrega do Ultramar aos pretos»
    quando são já quase quatro horas da manhã e a vontade inicial destas linhas era apenas dizer que ninguém escreve como tu, António, por muito que custe a muitos, ninguém escreve como tu.
    (Os excertos entre aspas foram retirados da sua primeira obra publicada, Memórias de Elefante. )

    sábado, 14 de novembro de 2015

    Paris sera toujours Paris


    Poema

    O senhor Ricardo Reis
    nunca chegou a saber
    que a sua Lídia
    casou com
    Álvaro de Campos

    E que foram viver para
    perto da foz
    de um rio importante
    onde os dois
    (antigamente)
    nunca estiveram

    Não sei se foram felizes
    ou não
    mas que fizeram muitos
    e bons disparates
    lá isso fizeram

    terça-feira, 10 de novembro de 2015

    Poema

    Há aves aflitas
    no íntimo de certas
    palavras

    O mesmo acontece
    quando te deitas
    ou quando te levantas

    Enquanto as aves procuram
    espaço no interior
    das gargantas das palavras

    No teu corpo
    a pele liberta a voz
    de aves infinitas

    sábado, 7 de novembro de 2015

    1, 2, 3, Ação!


    (clique na imagem para a visualizar melhor)

    O regresso de mais uma personagem mítica da BD franco-belga: Bernard Prince. Que comece a aventura. É já para a semana. Com o jornal Público, pois claro. De 11 de novembro a 27 de janeiro de 2016. Todas as 4ªs feiras. Que bom!!!

    quarta-feira, 28 de outubro de 2015

    Poema

    Por onde quer que ande
    haverá sempre
    uma casa onde ficar

    (uma casa
    não é um lugar
    apenas)

    Uma casa é
    um qualquer espaço
    grande
    cheio de coisas
    pequenas

    quarta-feira, 14 de outubro de 2015

    Milton em tons de jazz


    Haverá sempre espaço para mais um disco de Milton Nascimento neste blog, mesmo quando feito em parceria. Tamarear é o mais recente trabalho do meu bom e velho Bituca.

    quinta-feira, 8 de outubro de 2015

    Poema

    Pesam as pedras
    como pesam as estrelas

    Assim o corpo pesa
    o sangue que balança

    Pesa mais o corpo adulto
    do que o sonho na criança

    sexta-feira, 2 de outubro de 2015

    terça-feira, 15 de setembro de 2015

    Primo Rufus


    E de repente, volto a ouvir ópera e a gostar do que ouço. A culpa é de Rufus Wainwright, e ainda bem que é ele o culpado, uma vez que gosto tanto dele. Prima Donna já faz parte da minha vida. Baseada em entrevistas dadas por Maria Callas à BBC quando já caminhava para o final da sua carreira, Prima Donna revela-se uma ópera acessível, cheia de sentimento, boa de se ouvir. O que mais posso querer, quando a ópera sempre foi para mim um enorme desafio, poucas vezes ganho. Agora ganhámos todos. Ganhou o Rufus Wainwright e ganhei eu.

    quinta-feira, 3 de setembro de 2015

    É sempre assim


    É sempre assim. Quando as férias acabam, começa o trabalho. Depois de 18 anos na mesma escola, talvez tenha agora de mudar. Ainda não sei, mas logo se verá. O que não mudará, isso certamente, é a vontade de ensinar, explicar, e de aprender. Os alunos não só alunos, e os professores não são só professores. Valha-nos isso. Já apetece começar. É sempre assim.

    sábado, 8 de agosto de 2015

    Chegou a hora!



    Sim, é verdade. Chegou a hora. O I Blog Your Pardon voltará em setembro. Até lá pode perder-se, mas chegada a hora, o encontro far-se-á aqui, uma vez mais. 

    sexta-feira, 7 de agosto de 2015

    73


    Parabéns, Caetano! Todos os anos são teus. 
    Os teus, e os meus. Abraçaço!

    terça-feira, 4 de agosto de 2015

    quarta-feira, 15 de julho de 2015

    Poema para musicar

    Nunca mais era sábado
    e nunca foi
    a relva por cortar
    as unhas por roer
    até os pássaros
    em volta decidiram
    não cantar

    Nunca mais era sábado
    e nunca foi
    houve uma sexta
    que falhou
    mas que ninguém
    à nossa volta
    reparou

    O que faltou afinal
    não foi nada
    de concreto
    mas tardou-se
    na procura
    e ficou tudo
    a céu aberto


    terça-feira, 23 de junho de 2015

    Mil Tom x 2



    Alguns dias depois da morte do grande Fernando Brant, deixo-vos aqui dois discos de homenagem a Milton Nascimento. Em várias das canções destes álbuns, a escrita de Brant está bem presente, e se os leitores destas linhas conhecerem algo do universo da música mineira dos anos 70, sobretudo do Clube da Esquina, terão muitos motivos de contentamento ao fazer o download legal que vos proponho. É só preciso aceder aos respetivos links.



    Disco dois

    * este post inaugura um nova etiqueta: downloads legais

    quarta-feira, 17 de junho de 2015

    quinta-feira, 11 de junho de 2015

    Poema

    Mergulho nas palavras
    agora que o verão
    escolhe as mais belas
    e as mais frescas

    Deito-me à sombra
    sentindo-lhes o travo 
    madrugador e inquieto
    das surpresas

    As palavras servem-se
    do que são e do que valem
    mostrando-me a luz
    permeável das certezas 

    quinta-feira, 21 de maio de 2015

    E vão 34!


    C'um caneco!
    (o atraso deste post em relação ao dia da grande vitória
    deve-se ao facto de ter estado em intensas comemorações)

    quinta-feira, 7 de maio de 2015

    Poema

    Tudo vale um só aceno
    no assomo final
    da despedida

    E a memória deixa livre
    o gesto em abandono
    da partida

    quarta-feira, 22 de abril de 2015

    Poema

    Foi tudo assim
    repentino
    o sangue do destino 
    fez tudo secar
    quando a chuva veio
    e acabou por
    me inundar

    sábado, 11 de abril de 2015

    Coisas novas, coisas antigas

    Fosse sempre assim, a vida: 
    o prazer das coisas antigas e a delícia das coisas novas.



    Popol Vuh - In Den Garten Pharaos (1971)



    David Sylvian e Holger Czukay - Plight & Premonition (1988)



    Eef Barzelay - Eldorado 13 Slash 14 (2015)



    Stealing Sheep - Not Real (2015)

    quarta-feira, 1 de abril de 2015

    Poema

    Queria a água 
    toda minha
    imensa 
    a cobrir as terras 
    até ao teto
    do céu

    Só bem depois
    mergulharia
    a estranheza 
    do meu corpo
    até vir ao de cima
    um novo eu


    sexta-feira, 27 de março de 2015

    sexta-feira, 20 de março de 2015

    Gong Est Mort



    Há notícias que custam a digerir. Mesmo tendo sabido do acontecimento da morte de Daevid Allen no dia em que ocorreu o óbito, só agora faço menção ao facto, numa espécie de celebração de 7º dia.



    Goodnight Daevid Allen

    terça-feira, 17 de março de 2015

    Imortalidade


    Nunca tinha visto esta imagem. Por vezes olho para ela, e parece-me estar na presença de uma montagem. Mas, na verdade, isso pouco importa. Dois dos meus mais adorados brasileiros estão aqui, lado a lado, e parece-me ser a Nara Leão por trás deles. Dos três, só Caetano se encontra entre nós, fisicamente falando. Nara partiu cedo, Drummond mais tarde, mas cedo também, uma vez que o queria imortal. No entanto, é a própria imortalidade que aqui se encontra retratada. O som, a palavra, as vozes de quem viveu e vive para fazer o (meu) mundo mais feliz. 

    domingo, 8 de março de 2015

    É preciso amar Tom Zé (desde o início)

    A editora inglesa Mr. Bongo reeditou os dois primeiros álbuns de Tom Zé. Esse acontecimento merece o meu inequívoco aplauso, e torna presente dois álbuns (os primeiros dois) do seu longínquo passado. Em boa hora, claro. Esquecidos no tempo, e afastados há muito do olhar crítico que ambos os discos merecem, Grande Liquidação e Tom Zé estão de novo disponíveis no mercado discográfico. Um deles, o segundo, ainda não o tinha em formato físico, pelo que já vem a caminho. Que chegue depressa e bem, que tem cá um lugarzinho especial à sua espera.



    Tom Zé - Grande Liquidação (1968)



    Tom Zé - Tom Zé (1970)

    quarta-feira, 4 de março de 2015

    Aznavour (II)



    (um homem e uma mulher)


    (um homem e uma mulher: na vida como nos filmes)


    (a pele e o aço)


    Tirez Sur Le Pianiste é um filme de culto. Truffaut deu-nos um drama policial de grande beleza, mas o que aqui importa hoje, mais do que o filme e os seus encantos, é a presença de Aznavour. O mestre da canção também fez cinema, e bem. 

    sábado, 28 de fevereiro de 2015

    Aznavour (I)


    Charles Aznavour é um monstro da canção francesa, e paixão crescente em mim. Ultimamente é com ele que tenho andado, de ouvidos atentos à arte incomparável do seu canto. Também no cinema o conheço há muito, mas isso ficará para outro post. Por hoje, e para que estas linhas se tornem som e imagem, recordo apenas «La Bohème», momento mais que perfeito da sua longa carreira. A melodia, o texto, a interpretação, a voz, tudo é sublime. Deixo-vos dois videos da mesma canção por não ter conseguido decidir-me apenas por um. Vale mesmo a pena vê-los, lendo depois o texto para que o maravilhamento se complete.


    a preto e branco
    e a cores 



    Je vous parle d'un temps
    Que les moins de vingt ans
    Ne peuvent pas connaître
    Montmartre en ce temps-là
    Accrochait ses lilas
    Jusque sous nos fenêtres
    Et si l'humble garni
    Qui nous servait de nid
    Ne payait pas de mine
    C'est là qu'on s'est connu
    Moi qui criais famine
    Et toi qui posais nue

    La bohème, La bohème
    Ça voulait dire on est heureux
    La bohème, La bohème
    Nous ne mangions qu'un jour sur deux

    Dans les cafés voisins
    Nous étions quelques-uns
    Qui attendions la gloire
    Et bien que miséreux
    Avec le ventre creux
    Nous ne cessions d'y croire
    Et quand quelques bistros
    Contre un bon repas chaud
    Nous prenaient une toile
    Nous recitions des vers
    Groupés autour du poêle
    En oubliant l'hiver

    La bohème, La bohème
    Ça voulait dire tu es jolie
    La bohème, La bohème
    Et nous avions tous du génie

    Souvent il m'arrivait
    Devant mon chevalet
    De passer des nuits blanches
    Retouchant le dessin
    De la ligne d'un sein
    Du galbe d'une hanche
    Et ce n'est qu'au matin
    Qu'on s'asseyait enfin
    Devant un café-crème
    Epuisés mais ravis
    Fallait-il que l'on s'aime
    Et qu'on aime la vie

    La bohème, La bohème
    Ça voulait dire on a vingt ans
    La bohème, La bohème
    Et nous vivions de l'air du temps
    Quand au hasard des jours

    Je m'en vais faire un tour
    A mon ancienne adresse
    Je ne reconnais plus
    Ni les murs, ni les rues
    Qui ont vu ma jeunesse
    En haut d'un escalier
    Je cherche l'atelier
    Don't plus rien ne subsiste
    Dans son nouveau décor
    Montmartre semble triste
    Et les lilas sont morts

    La bohème, La bohème
    On était jeunes, on était fous
    La bohème, La bohème
    Ça ne veut plus rien dire du tout

    terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

    Peter Greenaway is back


     2015 é ano de novo filme de Greenaway, o que é, pelo menos para mim, uma excelente notícia. O filme trata dos 10 dias passados no México pelo cineasta russo, durante os quais Eisenstein realizou o documentário "Que Viva Mexico!", sobre o dia dos mortos. A par do filme (primeira boa notícia) há ainda a banda sonora, que geralmente é excelente nos filmes do realizador. A ver e a ouvir, portanto.

    sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

    quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

    sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

    segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

    Poema

    Ontem esqueci-me de dizer
    todas as coisas que queria
    o tempo é curto
    eu bem sei
    e tu sabes que o tempo das palavras
    não tem fim
    nem tem começo

    Talvez por isso eu me esqueço
    desde o início
    de dizer o que queria
    não fosse este sobressalto
    este reboliço
    e as palavras teriam
    um dom maior e um outro viço

    Mas não as culpemos assim
    são tão frágeis
    tão singelas
    que mesmo quando não dizem
    o que queria dizer-te
    eu só me zango comigo
    nunca me zango com elas

    No fundo
    o que acontece é bem simples:
    o que venho aqui dizer
    posso dizer-to em voz muda
    no silêncio de algum verso
    que ainda está
    por escrever

    Fica o recado assim dado
    e fico eu mais tranquilo
    por te dizer o que queria
    é bom saber que o que digo
    te satisfaz por inteiro
    pois não dizer o que é dito
    é o dizer mais verdadeiro

    sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

    terça-feira, 27 de janeiro de 2015

    Poema

    (sem sofrimento aparente
    a aurora rasga as horas nuas do dia
    sem um só gemido seu

    e quando um pássaro dormente de sono
    levanta as asas abanando o céu
    o dia nasce e amanheço eu)

    sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

    Humor


    Depois de um início de ano trágico (ver post anterior) há que olhar com sentido de humor para as coisas que mais nos agradam no mundo. Mesmo que uma certa ideia de autocensura permaneça.