segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Estação terminal


Com estas breves linhas deixo 2007 para trás. O ano que daqui a pouco termina não me deixa boas recordações. Por isso não perco tempo em mencioná-las...
O facto de estarem vivas as pessoas que mais amo, alguns amigos perdidos no tempo, mas reencontrados neste último trimestre, este blog, e pouco mais me interessa agora destacar como positivo. Parece pouco, mas a verdade é que tudo o que referi tem um valor incalculável para mim.
Resta-me apenas agradecer e desejar a todos os que passaram por aqui, um Bom Ano de 2008. Um ano onde aconteça aquilo que mais desejamos. Um ano que nos permita viver a alegria que merecemos. Até para o ano.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Poema

Se eu fosse poeta
os versos seriam
rosas por abrir
libertariam aromas
os meus versos
e esconderiam sentidos
por existir

Mas nunca serei poeta
apenas alguém
que faz das palavras casa
frágil casa sem estrutura
e a um passo
de ruir

sábado, 29 de dezembro de 2007

It's all about flying saucers, ridiculous plots and bad acting


De volta ao cinema... Não é muito normal ocupar espaço neste blog com referências a filmes, mas estive ontem à tarde a ver um clássico! Trata-se de Plan 9 From Outer Space (1959), filme pertencente à categoria dos so-bad-they're-good movies. O realizador é Ed Wood, pois claro. Por lá andam Bela Lugosi, Vampira, Tor Johnson e Paul Marco, entre outros. Aquele que é por muitos considerado o pior realizador de sempre da história do cinema, tem neste filme a sua obra-prima. Tudo gira à volta de seres de outro planeta que ressuscitam mortos (em formato zombie) para tentarem impedir os humanos de criar solaranite, espécie de bomba solar que destruiria todo o universo. Pelo meio há um ou outro vampiro, não se sabe bem porquê! Na caixa dos dois dvds (com seis filmes de Ed Wood e algumas entrevistas sobre a vida do excêntrico realizador que adorava roupa feminina feita de angorá) pode ler-se The Ed Wood Collection - A Salute To Incompetence. E é disso mesmo que se trata. Incompetência em filmes de culto!
Que tarde bem passada!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Poema


Um verso
para dizer
toda uma vida
um verso
apenas
que tudo diga
uma palavra
que espelhe
a distância
desmedida
entre o ponto
de partida
e a dura
linha
da meta
um só verso
uma só palavra
na existência
do poeta

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Have you ever been in Fleet Street?


Já é oficial: o último filme de Tim Burton chega a Portugal a 31 de Janeiro de 2008. Como (quase) sempre, conta com a companhia de Johnny Depp, Helena Bonham Carter e o grande Christopher Lee. Sweeney Todd é um anti-herói, um vilão, um serial killer que faz uso da sua navalha para cortar as gargantas dos clientes da sua barbearia. Esta adaptação do thriller musical de Stephen Sondheim conta-nos a história de um homem que jura vingar-se da injustiça que lhe foi cometida. Esteve preso, foi torturado e a sua família (mulher e filha) sofreram consequências devastadoras... De regresso a Fleet Street, rua onde trabalha na sua barbearia, as navalhas estão mais afiadas do que nunca!!!
Se quiserem mais uma razão para a rápida chegada de 2008, aqui está ela.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Traços em silêncio


O que mais queria era que tudo passasse rapidamente. Que tivesse a leveza de todos os outros dias do ano, que se cumprisse em duas penadas, dois traços, gestos breves e sucintos. Que tivesse a simplicidade de um desenho de criança. Estava cansado. E o cansaço é terrível, quando anoitece. Desejava os braços da mãe, perdida na memória do tempo e das noites de Natal. Essa mesma noite que agora custava tanto a passar. Todos se riam à sua volta, falavam alto, erguiam taças à eternidade do momento. E ele, timidamente, guardava no silêncio dos desejos as vontades impossíveis de realizar...


*esta imagem foi retirada do site http://aspartesdotodo.blogspot.com/

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Poema das estrelas verdadeiras de Natal

Hoje
quando a noite
nos tingir a vista
com a escuridão
do seu encanto
o céu não terá estrelas

Elas estarão connosco
ao nosso lado
doces e prazenteiras

Hoje
nos olhos
das crianças
estão as estrelas
verdadeiras

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Poema

Diz-me o que quero ouvir
mas sem pressas
sem rodeios
Di-lo antes que amanheça
e o orvalho
chore por nós

Diz-me o que sentes por mim
quando te acordo
quando te abraço
e deixa que as palavras
ganhem forma
no manto
do teu regaço

Eu ouvirei
o que disseres
pois é no silêncio
que me satisfaço

domingo, 23 de dezembro de 2007

Rufus Does Judy At Carnegie Hall, thanks God!


Este é o único presente de Natal que sei de antemão que vou ter. E isso conforta-me, não o nego. Trata-se de um duplo cd do genial Rufus Wainwright recriando a célebre noite de Judy Garland no Carnegie Hall, em 1961. Agora é ele que reinventa o lendário show, e quem assistiu ao seu último concerto no Coliseu dos Recreios, sabe bem do que falo, pois Rufus brindou-nos nessa noite com algumas canções do disco, como o incontornável Over The Rainbow, por exemplo. Este disco celebra também um género caído um pouco em desgraça nos tempos que correm: o musical. E se Rufus se mostra competentíssimo nos trabalhos de sua autoria, não há razões para não esperar o mesmo em ralação a este “Rufus Does Judy At Carnegie Hall”. E nunca mais é Natal...

sábado, 22 de dezembro de 2007

O Natal das pessoas más


"Como será o Natal das pessoas más?"
Esta era uma pergunta que me assaltava o espírito quando era criança. Pensava que se o Pai Natal oferecia prendas aos meninos bons como eu, também deveria haver um Pai Natal para os meninos maus, para as pessoas más. A verdade é que ainda hoje acho que há alguma lógica neste estranho pensamento. E talvez seja até possível que exista um Pai Natal mau, cruel, um Pai Natal que tire em vez de dar, ou que, mesmo dando, ofereça coisas terríveis, letais. Seria até bom que houvesse um mau Natal para as pessoas más, em tudo igual ao Natal das pessoas boas, mas ao contrário. Onde se cantasse "I wish you an awful christmas and an unhappy new year..."
Mas o mundo não é assim, definitivamente. E por isso, a criança que antes fui e que hoje tomou de assalto a escrita deste texto, pode deixar de ter ideias e continuar à espera de um mundo melhor do que este em que vivemos.

Poema em segredo

Já quase
não há segredos
nem adianta
fazer de conta
que nada sabemos

O mundo
é de quem o sonha
e de quem o tem
nas mãos

Apenas isso
apenas essa verdade
antes de adormecermos

Um sorriso
é só um instante
e os segredos proferidos
serão de todos
amanhã

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Acordar sublime


Hoje, por volta das 8 da manhã, dei comigo enfiado na cama, às escuras, de iPod nos ouvidos, a deliciar-me com um disco intemporal. Volta e meia vou repescá-lo ao fundo de catálogo das minhas audições e pasmo!!! Que disco bonito! Que obra maravilhosa, tão frágil, tão simples e tão verdadeira nas histórias que conta! Estas canções contam histórias, enredos entre pessoas como nós e isso é cada vez mais raro. Quem pode resistir a The State I Am In (sublime), a Expectations (sublime) e a We Rule The School (também sublime)? Todo o disco é sublime. Já para não falar na capa, outra obra-prima de bom gosto e ternura. O disco é dos Belle and Sebastian, e como se diz na contra-capa, "They've called it TIGERMILK".


* a senhora da capa dá pelo nome de Joanne Kenney e a foto foi tirada por Stuart Murdoch, o lead singer dos Belle & Sebastian

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Nós e os outros


Como naqueles puzzles antigos que encontramos nos sótãos empoeirados das casas dos avós… Como na memória que temos tirada da poeira do tempo das nossas recordações…

Cada vez acredito mais que nesses puzzles, nessas memórias, faltam sempre peças e muitas vezes esse vazio, essa falta, somos nós. Nós já lá não estamos, já não fazemos parte desse filme antigo das nossas vidas. Somos agora protagonistas de outros enredos. Mas quando voltamos um pouco atrás, está lá quase tudo. E escrevemos com os sentimentos da memória para conseguirmos sobreviver ao tempo que já não existe. Pode existir a bola, o pião que ainda roda, o baloiço improvisado feito de corda e árvore, o riso sempre fresco e nítido dos amigos, as vozes dos amigos, a imagem dos amigos. Mas nós, nós já só existimos nos sentimentos dos outros.

Gostos e desgostos

Gosto de acordar e de ser acordado pelos meus filhos. Gosto dos meus filhos mais do que gosto de viver. Gosto de quem os fez nascer. Gosto de dias de sol e acho que devia ser sempre verão todo o ano. Gosto de calor. Não gosto do tempo que o inverno demora a passar. Gosto das folhas do tapete do outono no chão da minha rua. Gosto da minha rua mais do que das outras ruas. Gosto do que faço. Gosto cada vez menos de carne e cada vez mais de peixe. Gosto do sabor de certas águas. Gosto de frutas sumarentas e de descascar tangerinas com as mãos. Gosto de janelas grandes com vista para o infinito. Gosto de pensar que o infinito pode estar ao alcance da vista ou da mão. Gosto de repetir frases. Gosto de repetir frases. Gosto de ter amigos e de pensar que gosto ainda mais deles do que eles de mim. Gosto de encontrar amigos que já não via há muito tempo. Gosto de música. Gosto muito de música. Gosto tremendamente de música até ao ponto de me fundir com ela. E de livros. Do prazer táctil dos livros e do cheiro que têm. Não gosto das tardes de domingo. Gosto do momento em que me cantam os parabéns. Gosto de pensar que fui feliz enquanto criança. Não gosto de saber que certas pessoas de quem gostava muito nunca irão poder ler este texto. Gosto de escrever. Nem sempre gosto do que escrevo. Não gosto quando certos textos acabam.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Poema

Por ser inverno
e estar frio
busco o conforto
da pele
que se molde à minha

Acende-se o fogo
incêndio fatal da existência
e seguro a chama
que nos aquece
assim

Depois
já só é inverno
fora de mim

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Espreitar para lá da vida


Ai, os mistérios da vida!!!
Quando era bem miúdo, a vida escondia-me coisas que tinha à mão de semear: o que estava por baixo das saias da minha prima Carlota - mais crescida e sinuosa de modo a me agradar até à exaustão -, os decotes profundos da minha prima Carlota, a pele nívea das mãos da minha prima Carlota quando me pegava ao colo e acariciava os nove anos da minha existência. A minha prima Carlota era o centro do meu mundo e pouco mais havia de interessante para além dela.
O tempo passou e eu cresci, tenho outra idade e hoje pouco me interessa o que esconde a roupa de quem passa por mim.
Os mistérios do mundo ganharam outras dimensões. Hoje vivo espreitando a vida, suspeitando dos seus caminhos, tentando perceber o que ela esconde.
A minha prima Carlota já deve saber tudo sobre o assunto!
Agora é Deus que deve andar de olho nela...



*esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

Poema do amor que chega

Sentado
num qualquer canto
do mundo
quieto
sem respirar

Ao longe
o aviso dos teus passos
a sirene
dos teus olhos
a dança
da tua voz
nos meus ouvidos

E é quando chegas
que começa
a tontura dos sentidos

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Poema dos instantes do amor

Para amar
basta um minuto
um só segundo
mínimo instante
dos momentos
deste mundo

Para amar
só é preciso
respirar fundo...



* este é o centésimo primeiro poema que deixo nas páginas deste blog!!!
Nunca mais tenho juízo...

As janelas do poema

A minha casa
tem janelas para o mar
e as paredes
são do branco dos nevões

Vê-se o mundo lá ao longe
só à distância do olhar

Na minha casa
corre um rio
onde lavo a minha cara
quando quero despertar

E se a noite
chega fria
sem tampouco me avisar
não me importo
porque sei
que a minha casa
tem janelas para o mar

domingo, 16 de dezembro de 2007

Pedaços de vida


Foi à beira-mar. Estava cinzento o dia. Lembro-me que quase chovia. Lembro-me porque percebi nesses instantes que lágrimas e chuva são água apenas. Água que tudo lava, que tudo limpa.
A minha vida havia sido destroçada. Sentia que as marcas desse naufrágio não desapareceriam facilmente. Só que era preciso esquecer depressa, seguir um caminho novo, ter asas para outros destinos...
Entretanto, enquanto o mar brincava com o que restava de mim, provocando-me, tocando-me nos pés para que o frio das águas me despertasse do pesadelo recente, um pássaro bicava pedaços que o mar não quisera. E, nesse momento, lembro-me de ter sorrido perante tão bela metáfora da vida.


* esta imagem foi retirada do site http://bocadosdetudo.blogspot.com/

Poema ao deitar do dia

Assim
nus
entre os lençóis
as palavras
estão em carne
e os meus dedos
são anzóis

sábado, 15 de dezembro de 2007

Cê viu?


Agora já podemos recordar aquele que foi um dos melhores concertos que Portugal viu este ano. Está cá todo, na íntegra. E a espera valeu bem a pena. Filmado com pormenores de imagem encantadores, este show mostra-nos Caetano Veloso em muito boa forma, andando pelo rock com uma ligeireza fantástica, mas também pelas canções de banco e violão como só ele sabe fazer. O génio não tem limites e isso é bem visível aqui.
O Natal tem mais gosto assim.


* os extras do dvd são igualmente a não perder.

Poema

Pudesse a vida
ser isto:
os traços claros
do teu rosto
em linhas alvas
e esguias
e um par
de rosas
nas mãos
para te entregar
todos os dias

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Poema dos últimos dias

Nos últimos dias
celebrarei a vida
com a voz límpida
da memória
dos afectos

Nos últimos dias
espalharei palavras
para acordar
a noite
nos meus olhos

E assim
levarei para sempre
as madrugadas
dos instantes
incompletos

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Poema

Que ardência é esta
que me queima o corpo

Que silêncio é este
que emudece os tempos

Que loucura é esta
que respira em nós

E nos deixa juntos
unidos
e sós

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Encantamento

Os teus olhos
brilham mais
quando anoitece

E no momento
em que nos vemos
acendemos juntos
a chama
insana
dos encantos

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Poema para o frio do Natal


Hoje
Na luz intensa
das palavras
sente-se o aroma
dos pinheiros
e o frio ganha
contornos cintilantes
de cristal

Hoje
enfeitei
as nossas vidas
com promessas
de Natal

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Fernanda Takai


Chegou-me aos ouvidos mais uma pérola vinda do Brasil! Já há muito que conheço a sua voz. Que me encanta, aliás. Gosto de vozes frágeis, quase tímidas, cristalinas e transparentes. É assim a voz de Fernanda Takai, líder da banda Pato Fu. Agora a solo, com produção de Nelson Motta (sim, esse mesmo, o que lançou Marisa Monte), Fernanda edita Onde Brilhem os Olhos Seus, homenagem a Nara Leão. Neste disco, velhos clássicos de Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinicius de Moraes entre outros, aparecem com roupagens mais modernas, contemporâneas, envoltas em beats e loops, mas sem nunca perderem o sentido original. É um trabalho de enorme bom gosto!
Quem não conhece esta senhora não sabe o que perde. E continuará a perder se fizer ouvidos moucos do sentido destas linhas.



* duas notas: enquanto vocalista e guitarrista da banda Pato Fu, Fernanda canta uma das músicas mais arrepiantes que conheço. Chama-se Canção Pra Você Viver Mais. O título diz tudo...
E mais isto: reparem na elegância da capa do disco. Um verdadeiro achado com ar retrô e toque de modernidade. Há capas fantásticas, não há?

História de um Natal diferente

Faltavam apenas dois dias para ser Natal. Isso, de certa maneira, incomodava-o. A razão era simples e podia ser dita em duas palavras: estava só. Pela primeira vez na sua vida de adulto, não tinha ninguém com quem comemorar a data que se aproximava.
Ia a caminho da sua aldeia. Pela janela do carro olhava a paisagem e sentia-se parte dela. Lá fora, a neve e o frio vestiam de branco o dia que chegava ao fim, timidamente.
Por vezes - pensava enquanto conduzia -, era preciso abandonar certos confortos e rumar a um destino que sabia ser o seu. Porquê esperar mais tempo e adiar o que tinha como certo? Não valia a pena. Estava consciente disso. Estava até orgulhoso da atitude tomada. Um homem não pode ceder. Nunca.
Preocupava-o o facto de não ter ninguém à sua espera. A solidão pode ser uma noite muito fria. Quem iria encontrar por lá? Ainda se lembrariam dele? Como estaria a Teresa? Nem ao certo se recordava da sua exacta fisionomia. Lembrava-se bem dos seus olhos grandes e brilhantes, poderosos, que o faziam estar acordado noites inteiras. Como seria o encontro, mais de vinte anos depois? Mas que encontro? Nem mesmo sabia se o que pensava agora poderia vir a acontecer. Seria uma enorme coincidência. Alguém, por certo, já a teria levado daquele lugar... Era melhor não pensar nisso.
Daqui a pouco mais de três horas chegaria ao fim da viagem. Estava disposto a abrir os braços ao rumo incerto da vida. E, ao pensar nisso, acelerou mais um pouco.


*esta história será continuada aqui

domingo, 9 de dezembro de 2007

Esquecer a vida


É tão difícil aguentar o peso das horas, o sorriso forçado dos outros, o nosso próprio sorriso ensonado em mais uma manhã que se levanta...
Adormecer seria tão bom! Tão importante!
Mas a vida pega-nos pela mão como se fosse pessoa íntima, da família, com liberdades que não permitimos a ninguém. É assim. Sempre foi assim. Abusa de nós, faz-nos dançar nas suas mãos, morde-nos as rugas da pele, atira-nos para o mundo todos os dias, mesmo que não queiramos.
Por vezes apetecia-me despir-me dela, virar-lhe as costas, pendurá-la numa qualquer parede e esquecer-me que existe.
Talvez assim a vida tivesse o brilho dos astros distantes...


*esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

Poema

É preciso esquecer
que nas palavras que digo
escondo o perigo
de existir

Quanto ao resto
tudo é limite e prazer

sábado, 8 de dezembro de 2007

Os minutos do fim


As horas custam a passar, mas os minutos parecem custar mais ainda. Não percebo tanta demora! Não há trânsito, a noite está estrelada, a mesa posta, o jantar à espera de ser servido... Sinceramente, não percebo. Recuso-me a pensar que se tenha esquecido. Não pode ser isso. E espero que não seja como da última vez... Ficou quase três anos sem aparecer. "Enjoou", confessou mais tarde. Por isso mesmo, por causa desses enjoos que nunca cheguei a entender muito bem, hoje fiz saladas, coisas simples, sem molhos, porque sei que ele não gosta desse tipo de coisas. Preocupa-se com o peso, com o aspecto...
Vou esperar apenas mais meia hora. Depois, se não aparecer, vou deitar-me e tentar dormir. Já é tão tarde, já passa da meia-noite. É que amanhã levanto-me com o raiar do dia... Mas queria tanto que chegasse!

Poema

É preciso
alguns versos de tristeza
para entender este dia

É assim o tempo
que agora se anuncia

Numa mão a vida
na outra o que nela havia

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Destino por chegar


Agora que a idade já se notava em todos os poros do seu corpo, fazia contas à vida. Nunca conseguira o que sempre desejou: um abraço forte e sentido que a arrastasse para a profunda viagem de um tempo a dois, um tempo de partilha, de cumplicidade, que a passagem dos anos não fez acontecer. Compadecida, mantinha um grão de esperança de o ver chegar, de o ver dobrar a esquina, mesmo que nunca o tivesse visto. Imaginava-o com as formas e as maneiras do seu jeito. Ruborescia quando se entretinha a pensar em momentos mais íntimos, pele com pele, perdida no leito dos sonhos.
Ainda agora, sempre só, prendia o olhar no tempo de o ver chegar. E, sem pressa de antecipar o seu futuro, vestia-se a preceito, arranjava o cabelo e esperava que o destino se lembrasse dela.


*esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

Poética

Uma pétala de flor
como aroma
do que é dito

E um sentido marginal
no silêncio
do infinito

Este é o poema
a poética final
do interdito

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Poema

Já não vivo
o que sonhei

Hoje sei
que há menos sentido
no que havia
e sei também
que noites quentes
e manhãs frias
não cabem mais
na cama estreita
dos meus dias

Little sad song to three lullaby stars


It's hard to imagine
a night without a moon
without a star

Three stars were up last night
but now they are all gone

Goodbye moon
goodbye stars
au revoir simone

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Bienvenue Simone


É hoje o dia. É hoje o concerto. Hoje, no Santiago Alquimista. A partir das dez da noite, as meninas Au Revoir Simone vão seguramente maravilhar quem por lá esteja. Eu vou estar, como sempre, sentado no palco onde os artistas actuam. Abençoado este espaço alquimista como nenhum outro em Lisboa!
Diz-me quem as viu ontem em Braga, que o concerto foi fabuloso, que elas são lindas de morrer e que são a simpatia em pessoa. E que têm as mini-saias mais envergonhadas do planeta - esta ideia de grandeza já sou eu que adivinho vir hoje a constatar...
E bem de perto, desejo eu!

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Uma voz

Ainda brilham
as lembranças de outros tempos
que ficaram sempre em mim

A estrada é longa
e repleta de mistérios

Mas uma voz de menino
faz-se ouvir
na poeira do caminho

E na berma dos passeios
vai colhendo
as sobras do destino

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

TOPas?

Sempre gostei de Tops: Não tanto pelo que valem, mas pelo que podem proporcionar em termos de discussão de ideias. E gosto, no final de cada ano, de ver os Tops dos melhores discos, dos melhores livros, dos melhores filmes.
Nunca, como agora, tive a oportunidade de fazer e publicar o meu Top e de ouvir os comentários de quem o lê. Aqui ficam as minhas escolhas, na esperança de vir a ler os vossos comentários.

1- Au Revoir Simone: The Bird of Music
(pela simplicidade, pela inocência...)

2- Caetano Veloso: Multishow ao Vivo - Cê
(porque é Caetano, porque é deus...)

3- Devendra Banhart: Smokey Rolls Down Thunder Canyon
(por ser o disco mais tropicalista alguma vez feito fora do Brasil...)

4- Electrelane: No Shouts, No Calls
(porque estas meninas cheiram a kraut, cheiram a rock...)

5- Julian Cope: You Gotta Problem With Me
(because he is a forward thinking mofo...)

6- Nedelle: The Locksmith Cometh
(pela delicadeza da voz, pela beleza etérea das canções...)

7- Panda Bear: Person Pitch
(porque subitamente os anos 60 parecem ter uma face nova e moderna...)

8- Rufus Wainwright: Release The Stars
(porque este homem não se cansa de ser genial...)

9- The National: Boxer
(pela lembrança dos meus anos 80...)

10- Thurston Moore: Trees Outside The Academy
(porque é bom ouvir um disco que cresce até se tornar gigante...)


E pronto. A palavra agora é vossa...


* a ordenação dos discos é meramente alfabética.
** o autor do comentário mais interessante terá um cd gravado por mim onde encontrará 2 faixas de cada uma das minhas 10 escolhas. E era tão engraçado que outros tops surgissem nos blogs que me visitam. Tops de livros, discos, filmes...
Pode ser? TOPam?

domingo, 2 de dezembro de 2007

Com um Ourozinho nos olhos

Com este blog tenho conhecido gente a quem gosto de chamar amigos. Amigos que nunca vi, com quem nunca estive na conversa a não ser pelos posts que vou escrevendo e que vão fazendo o favor de comentar. Tudo isso enche-me de vida, faz-me bem à alma, sabe-me deliciosamente. Mas o que me aconteceu hoje, e escrevo ainda com o coração a bater muito forte por causa disso, não podia imaginar vir a ser possível: encontrei uma das minhas mais antigas amigas!!! A minha querida amiga Teresa Ouro apareceu. Ou melhor, reapareceu. Parece magia, coisa de filme, ficção. Mas não é, e isso devo-o ao meu blog. Abençoado o dia em que timidamente me pus a escrever nestas páginas. E enquanto escrevo estas palavras vou cantando para dentro uma certa canção, alterando-lhe um pouco a letra, porque hoje é assim que ela faz sentido:

" É que hoje refiz um amigo/ E coisa mais preciosa/ No mundo não há".

Um beijo de Ouro para ti, Teresa. E até já...

sábado, 1 de dezembro de 2007

Oh, mon Dieu !!!


O último número da Playboy francesa traz Juliette Binoche. Aos 43 anos de idade, fotografada por Marianne Rosenstiehl e mais bela do que nunca, a actriz que todas as pessoas de bom gosto veneram, aparece nua, dançando.
E nós, nessas páginas, dançamos também.