Ainda há menos de um mês lhe disse que não. Um não definitivo, embora haja uma ou outra palavra que ela nunca conseguiu ouvir. A verdade é que está agora a bater-me à porta, e tive sorte, mesmo assim, porque tenho as luzes apagadas por causa de uma dor de cabeça, e por isso acho que ela não deve ter a certeza se estarei ou não em casa. Mas insiste, do outro lado da porta, ofegante. Quase sinto a sua respiração. Se ela me visse agora... Estou encostado à porta de casa, ouvido colado à madeira que nos separa. Acabou de tocar outra vez, mecanicamente. Primeiro à campainha, depois três pancadas leves, à altura do rosto. Eu permaneço quieto, calado, quase sem pestanejar. Sei a razão do que faço. Há portas que nunca se devem abrir segunda vez.