quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Poema

Devia anoitecer
sempre que te despes

Mas o pudor do mundo
muito se compraz
ao ver-te sem vestes



terça-feira, 29 de novembro de 2011

This must be the place



This Must Be The Place é um filme que quero muito ver. Todos os ingredientes me agradam: a intriga (um velho rocker gótico dos anos 80 quer encontrar e vingar-se do nazi que fustigou a vida do seu moribundo pai); um ator de exceção (Sean Penn), uma grande banda sonora (com David Byrne e Will Oldham nos comandos, mas também Iggy Pop, por exemplo) e Paolo Sorrentino como realizador. Estreou em Cannes, e não se sabe se estreará em Portugal.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Poema

Não olhes agora
que mudo a pele de mais um dia

Eu não gosto que me vejas
em momentos de agonia

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Bjork: imaginários (VI)


(Volta, capa original)

Volta surgiu em 2007. Sobre o curioso título (tão português...) Bjork escolheu-o por saber, depois de googlar bastante, que ele significa várias coisas: que é o apelido do físico italiano que inventou a pilha voltaica (Alessandro Volta, 1745-1827), um rio africano feito pelo homem, uma lagoa também feita por mãos humanas (Lake Volta), e uma dança medieval muito difícil de dançar, segundo a minha islandesa preferida. Assim, juntando-se a energia da pilha, o ambiente marinho de rio e lagoa, mais a dança de tempos ancestrais... percebemos melhor o que é Volta. O que Bjork não sabe, suponho eu, é que Volta quer dizer, por exemplo, regresso, e isso é algo que me apraz sempre registar. Gosto mais de Volta hoje do que quando apareceu. Cresceu em mim, aos poucos, lembrando a energia de um rio que dança uma linguagem cada vez mais próxima dos meus ouvidos. E assim, o que Volta é (nas palavras de Bjork) está de acordo com o que eu sinto. Sintonia e imaginário perfeitos. Antes de ter encontrado o título pretendido, Bjork verificou que as palavras "voltage" e "voodoo" (que aparecem nas letras das canções do disco) lhe pareciam sintonizadas. Depois, como se disse antes, o Google fez o resto.
A imagem da capa pertence a Nick Night, e a escultura que molda o corpo da cantora é de Bernhard Willhelm.

(associado à excentricidade de Carmen Miranda)

(associado à obra prima que é Vespertine)

(associado ao imaginário dos candy)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Blondie + Arcade Fire


Pegaram em Heart of Glass, dos Blondie, e juntaram-lhe Sprawl II (Mountains Beyond Mountains), dos Arcade Fire... e deu isto:

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Bjork: imaginários (V)


(Medulla: capa original)

Não gostei de Medulla, quando saiu. Estávamos em agosto de 2004, e desde essa data até ao presente dia, ainda não estou em paz com esse disco. Bjork queria mudar tudo, como sempre, e dizia-se cansada de instrumentos musicais. O disco, como se sabe, é predominantemente vocal, e o título entronca bem nessa ideia, uma vez Medulla é essência, e a um disco de voz, tal título assenta como uma luva. Ao que se sabe, o título surgiu depois de Bjork e Gabriela, uma amiga do mundo das artes, terem bebido demasiadamente, tendo esta última sugerido a designação futura do que viria a ser o quinto disco de originais da islandesa. Bjork aparece na capa, e o que mais nos espanta é a escultura do cabelo, feita por Shoplifter. Como já em anteriores disco havia acontecido, o fundo da imagem, bem como a pele da cantora, naturalmente, são níveos, contrastando com o negro do cabelo e do colar, que desenha o título do disco. Nas sessões fotográficas participaram Mathias Augustyniak, Michael Amzalag, Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin. Mais uma imagem forte, como Bjork gosta. Mais um imaginário muito próprio que se edificou.

(desenhando-se uma outra Bjork)

(sensualmente, Medulla)


(em formato Lego, novamente)

domingo, 20 de novembro de 2011

I love the eighties

Estes foram os anos da minha juventude! Estes anos estão na moda! O presente nunca foi tão retrô como nos dias de hoje. Sorte a minha, tanto antes como agora.

sábado, 19 de novembro de 2011

Bjork: imaginários (IV)


(Vespertine: capa original)

Estávamos em 2001 quando Bjork nos deu Vespertine. Na altura, a islandesa referiu-se a ele não como um simples disco, mas mais como um sentimento: quando lá fora neva há dias e estamos em casa, intimamente radiantes, com um cacau quente entre as mãos. Vespertine é a obra maior de Bjork, na minha opinião. É quase um disco de música de câmara com elementos eletrónicos, apenas por instantes tocado pela excentricidade bjorkiana, que tão bem conhecemos. Na capa, Bjork aparece vestindo um swan dress (de Marjan Pejoski) que marcou a época de Vespertine. A pose e a face de Bjork sugerem interpretações sensuais, a boca entreaberta, os olhos fechados, os braços parecendo contorcer-se ligeiramente... A imagem, no entanto, transparece pureza. Os tons são pálidos, uma quase luz, uma quase sombra. Um cisne, desenhado, parece erguer-se de um outro, adormecido. A fotografia da capa pertence a Inez Van Lamsweerde e Vinoodh Matadin. O que desse imaginário saiu pertence a todos nós...


(uma outra Bjork)

(e mais outra Bjork)


(e uma última Bjork, em estilo South Park,
lembrando a contracapa de Vespertine)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O que você quer saber de verdade

Ainda não consegui enamorar-me, como esperava. Ainda me falta o clique da paixão. Sou um amante exigente, e ainda não se deu em mim o sorriso eterno do reconhecimento. Será defeito meu, não tenho dúvidas. Mas sabes Marisa, por vezes não é fácil sentir que o que mais esperamos é o que menos acontece. Mas é essa, de momento, a realidade. E o que mais desejo, sempre que te ouço, é saber o que você me quer dizer de verdade.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Bjork: imaginários (III)


(Homogenic: capa original)

Homogenic veio ao mundo em setembro de 1997. Novo disco de estúdio, nova mudança sonora e visual. Mas, no fundo, a mesma Bjork de sempre, experimentalista, desbravadora de terrenos sonoros tão ao seu jeito. A ideia de um disco de canções mais homogéneas resultou em título. Na capa, o fotógrafo Nick Knight registou uma Bjork penteada com cerca de 10 kg de cabelo, lentes de contacto especiais, um colar de mulher-girafa, vestes de samurai japonesa, e unhas de dimensão anormal. O fundo prateado, glacial, fará pensar na sua Islândia natal? Talvez. Homogenic foi um trabalho largamente saudado pela imprensa mundial, e é fácil perceber as razões da crítica. Nunca, até então, um trabalho seu se mostrou tão enigmaticamente belo, tão etéreo, tão espiritual. Para a história, tudo ficou: as canções, o ambiente sonoro, e o imaginário de tudo isso.

(em formato Lego)

(em formato Barbie)

(em formato Mangá)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Bjork: imaginários (II)


(Post: capa original)

A capa do segundo cd da carreira adulta de Bjork (não contamos aqui com o disco gravado aos 12 anos, nem com Telegram (disco de remixes de Debut), nem com os discos dos Sugarcubes) é em tudo diferente da do primeiro, à exceção de nela constar, em grande destaque, a sua figura. Quanto ao resto, as diferenças são óbvias, a começar pela presença da cor. Há, de facto, muita cor, muita animação de fundo, um certo sentido festivo que encontrará concordância em algumas das canções do disco. Jean Baptiste Mondino terá, originalmente, proposto uma foto para a capa de Post tirada nas sessões fotográficas de Debut, mas que acabou por não ser aceite. Bjork, ao que parece, decidiu que na capa de Post deveria aparecer a sua imagem rodeada de coisas da sua casa, da sua terra, mas também essa imagem não foi a que vingou. Num terceiro momento, decidiu-se que Bjork deveria aparecer à frente de enormes postcards, simbolizando a comunicação entre a artista e os seus amigos/fans. De forma estilizada, a imagem final foi fotografada por Stéphane Sednaoui, e é a que surge no cimo deste post. Assim, a partir de todo o imaginário subjetivo da capa original, outros trabalhos referentes à imagem de Post foram surgindo, como aqui se pode ver. Bjork, a sua música, e a imagem forte que a acompanha deixam sempre marcas...

(a lembrar South Park?)


(a lembrar Klimt?)


(a lembrar um certo estilo nipónico?)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Poema

Pudera eu sair da vida
com o passo firme
e de cabeça
sempre erguida

Pudera eu saber da lida
que depois virá
quando o corpo anunciar
o sinal da despedida

domingo, 13 de novembro de 2011

Bjork: imaginários (I)


(Debut: capa original)

O imaginário associado a Bjork e aos seus discos não deixa, até hoje, de me espantar. Bjork é um caso à parte no mundo da canção (em formatos múltiplos e registos por vezes impensáveis), mas também artista da imagem, capaz de motivar processos criativos dignos de registo. Este post inaugura uma série de postagens com o intuito de mostrar uma ínfima parte do olhar dos outros sobre o olhar de Bjork, acompanhando todos os seus álbuns de estúdio, à exceção do mais recente Biophilia. Comecemos, então, por Debut, trabalho de julho de 1993. A cantora aparece na capa, num quase preto e branco, toda ela transbordando emoção, de mãos unidas, como que rezando. Dois pequenos brilhantes (por baixo de cada olho) acentuam um certo ar de melancolia, que a imagem, no seu todo, não pode desmentir. A fotografia é de Jean Baptiste Mondino.


(Debut: rosto de criança oriental)

(Debut: rosto de criança ocidental)

(Debut: rosto de adulta)

sábado, 12 de novembro de 2011

Ontem sonhei contigo

Vê lá tu: de tanto te ouvir, ontem sonhei contigo. Não cantaste uma única nota! Fizeste-me festas durante todo o sonho, e acordar foi um castigo. Hoje não canto outra coisa, a não ser aquela parte de Pagan Poetry, embora subvertendo um pouco a letra da canção: "I love you, I love you, I love you, I love you..."

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mudar, verbo impossível!

E aí está ele de novo, com o mesmo disco, as mesmas canções, os mesmos tiques. Tom Waits não sabe mudar, e ainda bem. Ninguém espera mudanças quando um novo trabalho de Waits nos chega aos ouvidos. O que havia para mudar já mudou, há quase 30 anos. Bad As Me é good as he (se é que entendem a brincadeira).

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

The genius of Hergé

Uma nova biografia de Hergé, desta vez em inglês, na tentativa de explorar o mercado norte americano, seguramente. Trará algo de novo, algo que não se saiba já? O melhor é ler...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Dois senhores

A conversa entre estes dois senhores ocupa 19 páginas da edição de novembro da Ler, Livros e Leitores. Sobre a poesia, sobre o poema, Steiner diz apenas o seguinte: "Mas a poesia, um poema... É esta a bagagem essencial da alma, a pequena mala que levamos connosco, o poema." Agora, façam o favor de ler o resto.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Inquérito de verão

O Senhor Stein respondeu a um inquérito de verão, daqueles que incidem sobre gostos pessoais e que, como conclusão, dão nota do tipo de pessoa que o inquirido é. Sobre as suas preferências acerca de filmes, livros, músicas e coisas afins, o Senhor Stein respondeu sempre "Não Sei". Depois, consultado que foi o veredito ditado pelas suas respostas, estranhou a sentença que lhe era atribuída. Dizia assim: "Pessoa pouco assertiva, sem referências culturais, com fraca noção de auto-conhecimento." Por fim, discordando do que acabara de ler, pensou: "Logo eu, que me conheço tão bem!"

domingo, 6 de novembro de 2011

Impossibilidade (II)

Que ideia é essa
tão esbatida
que a palavra ilustra?

Nada se diz no poema
que a palavra
seja ou mostra

sábado, 5 de novembro de 2011

O homem e o tempo

O Senhor Stein comprou uma versão antiga de L'Homme Qui Regardait Passer Les Trains, de Georges Simenon, num velho alfarrabista da baixa, e leu-o num ápice de TGV. Depois, pensando em tudo o que a frase anterior sugere, ponderou sobre os mecanismos do tempo, e das particularidades que ele encerra.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Impossibilidade (I)

A palavra esconde e mostra
anedótica metáfora que dá
e rouba ao mesmo tempo

Dá e rouba o que não tem
de vazia que é por ser apenas
paradoxo do momento

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Poema

Conheço as tuas mãos há longos anos
assim como os teus cabelos fio a fio

Nos teus ombros eu encosto o meu sorriso
e o teu peito é o meu espaço de pousio

Só um corpo assim como o que tens
será sempre aquele que fantasio

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Poema

Não tenhas medo do escuro
a luz que se apaga
torna-te mais a sós contigo

A longa noite que virá
não impede o teu caminho
nem será nenhum castigo