domingo, 6 de janeiro de 2008

Noche en San Juan

*este é um fim possível para uma história que começa aqui

Não sei se era música o que ouvira. Não sei. Ainda hoje tenho dúvidas sobre o que aconteceu ali, que sons eram aqueles que ouvi naquela sala, vindos daquele palco. Uma coisa era certa para mim: o mundo era só aquilo, naquele instante. Disseram-me mais tarde, pouco tempo depois, enquanto as guitarras continuavam, errantes, a ocupar-me o corpo, os poros, os sentidos, que havia desmaiado. Que perdera os sentidos depois de me ter levantado e caminhado em direcção ao palco. Não foi exactamente quando me dirigi ao tablao que desmaiei. Lembro-me de estar calor, muito calor, de ter dançado, de ter sido outra pessoa - coisa tão estranha em mim !!! -, durante alguns longos minutos. De ter visto alguma roupa, talvez minha, não sei, pelo chão… Depois sim, o desmaio.
O que aconteceu antes disso, não posso contar. Foi tudo muito estranho e muito intenso. Intenso e tremendamente revelador. Se o contasse aqui, estaria a expor-me mais do que pode suportar um ser humano como eu, frágil, de uma fragilidade quase doentia quando se trata das coisas do coração. Não posso fazê-lo. Não posso… Entendam-me. Peço-vos isso. Entendam-me. Só escrevo estas linhas porque estou agora a ouvir a mesma música. Pu-la a tocar ainda há pouco, para me recordar daquela noche en San Juan. Mas vou tirá-la já. Parece que me queima. Não consigo, não aguento…
Quero somente dizer-vos o porquê destas linhas. O que vos conto agora tem um sentido, um único sentido. E posso dizê-lo da forma como ouvi dizer naquela noite. Uma frase, apenas. Simples e crua: la vida es chula, no lo permitas que ella te mate por amor!


* outros fins para a mesma história: aqui, aqui e aqui também.

7 comentários:

Anónimo disse...

No permitas que ella te mate por amor? Se vale a pena morrer por alguma coisa....eu escolhia por amor!

Surpreendente Carlos! Obrigada! A música que queima.....ai!

Beijos de gata.

Carlos Lopes disse...

Morre por amor, ter amor à vida... É uma escolha impossível?

Anónimo disse...

Não.

Ter amor à vida é condição para se amar alguém. A outra condição está no "se valesse a pena morrer por algo"....


O teu texto tem algo que me prendeu....Ter dançado, ter sido outra pessoa....asas! asas!

Dani disse...

Antes queimar que passar por nós sem que nos toque.

Viajante pelos Sentidos disse...

Olá Carlos!
Gostei muito do final que deu à história... surpreendente!
Gostei particularmente da frase final... embora ache que o amor é o principal catalisador e o melhor motivo para se morrer... se a morte tiver de ter um motivo.

Um beijo viajante...

Wolf disse...

Será de mim, ou sou o único que concordo com o Carlos?

Há sempre muita vida para outro amor...
Porquê morrer por um?

Adiante,
O texto e o desfecho, sem dúvia surprendentemente muito agradável, obrigado.

"enquanto as guitarras continuavam, errantes, a ocupar-me o corpo, os poros, os sentidos"

...divinal!

Carlos Lopes disse...

wolf: acho que o amor vale bem uma vida, mas não o fim dela. Mas se calhar estou (ou estamos) enganado(s). Como quase sempre, "elas" é que sabem, e ainda bem;-)