terça-feira, 14 de abril de 2009

O Padre e a Moça


Há dias atrás comprei a Box com 5 longas metragens do realizador brasileiro Joaquim Pedro de Andrade. Sempre gostei de cinema brasileiro, do Cinema Novo, principalmente. No fundo, o que talvez procure nesse cinema é um pouco daquilo de que gosto particularmente na Nouvelle Vague: a montagem inesperada, o destaque dado à força da palavra, a liberdade narrativa, o facto de os filmes nos colocarem perante o incómodo de questionarmos permanentemente a nossa própria inteligência e sensibilidade...
Comecei por ver Macunaíma, partindo de seguida para O Padre e a Moça (de 1965). A história gira em torno de Mariana (a muito bonita Helena Ignês), única mulher jovem num povoado isolado do mundo, no nordeste brasileiro, onde a solidão, o desconsolo, o desespero tomam conta das vidas dos que por lá se arrastam. Mariana quer conhecer a vida, uma vida que a roube daquele local, dos costumes daquele local, da moral que tudo abafa e mortifica. Com a recente chegada de um jovem padre (Paulo José) devido à previsível morte do pároco da aldeia, novos sentimentos começam a crescer no coração da jovem Mariana e também no do jovem padre. Esta é a linha primária do enredo do filme, cujo final trágico ajuda a realçar. Mas o que mais me agradou foi a fotografia. Belíssima! O preto e branco confere ao dramatismo das situações uma dor muito especial. Não é difícil encontrarmos um pouco de Buñuel no filme de Pedro de Andrade, e isso é bom, devo dizê-lo.
O filme foi baseado no poema O Padre, a Moça, de Carlos Drummond de Andrade. É denso, negro, árido como as paisagens que circundam as personagens. Filmar um poema não é fácil, mas por vezes resulta. Assim queiramos lê-lo (ou será melhor dizer vê-lo?) com um olhar mais íntimo, mais próximo do lugar do coração.

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