sexta-feira, 4 de março de 2011

Sentinela


Em 1980 o disco Sentinela, de Milton Nascimento, começou a fazer parte da minha vida. Entrou, acomodou-se, e ficou até hoje em mim, como se de uma cicatriz sonora se tratasse. Lembro-me de o ter ouvido, nesse já distante tempo, tantas e tantas vezes, que o sabia de cor. Talvez ainda hoje isso aconteça. A começar pela capa (o tamanho xl dos álbuns de 33 rotações marcaram muito a minha adolescência) Sentinela tomou conta da minha cabeça durante largos meses, quase que exclusivamente. Só havia, nos meus ouvidos, espaço para "ê nós que viemos / de outras terras, de outro mar", ou para "amigo é coisa pra se guardar / no lado esquerdo do peito", ou ainda "eu vou cantando / com uma aliança no dedo / eu aqui só tenho medo / do mestre Zé Mariano". Sentinela soube envelhecer. Ouvi-o há dias e permanece intacto nas suas virtudes. Permanece parado no tempo, mas vivo nos dias de hoje, tão distantes já dos da primeira audição. Sou fiel a Milton desde sempre, e a Sentinela ainda um pouco mais. Ao ouvi-lo lembro-me dos tempos de liceu, dos tempos em que a mpb era vivida e sonhada diariamente, como se pouco mais houvesse no meu mundo. E enquanto a memória não se apagar, aqui estarei eu, sentinela desse tempo.

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