domingo, 6 de março de 2011

Uns e Peter Gast, "O hóspede do profeta sem morada"


Caetano Veloso já disse várias vezes que Uns é o disco que mais gosta, dos muitos que gravou na sua longa carreira. Tenho-o em vinil, comprado no momento em que foi editado em Portugal, e tenho-o também em cd, um em versão normal (digamos assim), e outro em versão remasterizada. Uns não é o disco de Caetano de que mais gosto. Nunca o foi, embora o tenha em tremendíssima conta. Trago-o hoje para aqui por causa de algumas canções que dele fazem parte, mas sobretudo pela capa que ilustra este post. Esta capa é diferente da que vem nos cds, como difere também da capa escolhida para as múltiplas edições em vinil que saíram em várias partes do mundo. Não direi que é exclusiva da edição portuguesa, porque julgo que a mesma capa apareceu na edição argentina do disco, embora não arrisque a pele na defesa desta ideia. Gosto imensamente desta capa, e lembro-me, quando jovem, de ter transformado uma t-shirt velha e de cor semelhante (morangueiro, diziam-me na altura) à que o baiano usa, numa peça de roupa idêntica à que a foto mostra, mais visível na contra-capa do disco. As coisas que fiz para estar mais próximo do meu ídolo nunca me envergonharam.
Dito o que se leu nas linhas acima, falo-vos agora de Uns, enquanto depositório de belíssimas canções. Deixo até de parte as mais óbvias, como Eclipse Oculto ou Você é Linda, por exemplo, embora me vá referir a elas, de passagem, noutro momento deste texto. Quero hoje dizer-vos da urgência que tenho, por vezes, em ouvir Peter Gast. Peter Gast não é uma canção fácil, das que imediatamente entram nos tops ou nos ouvidos menos exigentes. Peter Gast é uma canção de outro tipo, uma canção que vai passeando por vários tons, avançando e recuando como se dançasse à nossa frente, insinuante, e que se verbaliza em lindíssimos versos, centrando-se na ideia logo expressa no primeiro: "Sou um homem comum". A canção dita, na subjetividade da minha opinião, um ponto contrastante com alguma exuberância que certas canções de Uns mostram no alinhamento do disco. Peter Gast e Musical (4ª e 2ª canções do lado A, respetivamente) são importantes, essenciais até, para que Uns não se perca na doçura melodiosa de Você é Linda ou de Coisa Mais Linda, ou ainda para que não se perca nos ritmos mais dançantes de Eclipse Oculto, Quero Ir a Cuba ou É Hoje. Por tudo isto, porque considero Uns o disco mais deliciosamente desequilibrado da discografia do genial baiano, Peter Gast é de audição obrigatória. Para mim sempre foi, e sempre será um hino, uma canção (quase) sem par na obra de Caetano Veloso.

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