segunda-feira, 30 de junho de 2008

Somos?

Somos tão pouco aquilo que somos!

Poema

Enquanto a tarde não passa
sento-me à esquina de um verso
e contemplo a vista
que se estende
à minha frente

Vejo o que dizem as palavras
antes mesmo de nascerem
e baptizo-as assim:
poema

Poema

Passeio por dentro
enquanto durmo

A minha vida
é um regato manso
que transborda a cada esquina
e há dias em que finjo
ser de uma raça divina
e ter asas de anjo torto
como as que o poeta tinha

Passeio por dentro
enquanto durmo

A vida é imensa e repentina


* os versos 8 e 9 são uma clara referência ao Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade

domingo, 29 de junho de 2008

Fim

A-do-rei!

Lá mais para norte...

Hoje à noite era em Famalicão que gostava de estar. A ouvir Rufus ao piano e na companhia do meu amigo Jorge. Fica o desejo, a vontade e o vazio. A vida é ingrata.

Poema

Nada a dizer
apenas a vontade
de ser chão e estrelas
quando o dia amanhecer

sábado, 28 de junho de 2008

Parabéns, Babá!

Como está crescida! Como está bonita, a minha filha! Como tudo aconteceu no tempo de um quase instante. São onze os anos de ser pai, são onze os anos de seres filha. São muitos mais os anos de alegrias desdobradas nos lençóis do tempo. E como hoje está um lindo dia de verão, vamos estender-nos ao sol da praia e aproveitar as maravilhas do momento.

Parabéns, Babá!

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Poema

Perder-me
na memória do tempo

Eis um plano com grande futuro

O tempo que resta

Tenho a memória dispersa em pequenos fragmentos, peças de um puzzle que dificilmente se encaixam. Lembro-me das loucas correrias da infância! E penso que talvez tenha quebrado a barreira do tempo e envelhecido mais depressa de tanto correr. A intensidade dos dias, o ruído das vozes nos pátios, o eco dos sons e das palavras, o que ficou por fazer e por dizer...
Talvez seja esse o sentido da existência: fazer da memória o travão mais seguro para retardar o fim da corrida do tempo que resta.

* esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

quinta-feira, 26 de junho de 2008

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Boleia auditiva

Não fossem alguns deles e os meus últimos dias teriam enredos ainda mais sinistros...

*já agora, quantos consegue reconhecer?
(clique a imagem para aumentar)

Os poemas

Os poemas
são caminhos por andar

Os poemas
não perguntam nem respondem

Os poemas
desaguam noutro mar

terça-feira, 24 de junho de 2008

As artérias do céu

O que importa é perceber que no céu também há vida. No céu existe a luz dos dias quentes, porque o sangue lhe corre nas artérias, no ar que se move perante o nosso olhar descrente. Era nisto que pensava quando adormecia nas sombras das árvores do jardim. Nisto e noutras incertezas que se espelhavam no azul do céu sem fim.

* esta foto foi gentilmente cedida pela Sara e pode ser vista no blog http://olharesperdidos.blogspot.com/

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A Cor Amarela (o trem das cores continua...)

A Obra em Progresso, de que já aqui falei, continua suscitando as mais diversas opiniões. É sempre assim com Caetano Veloso. O baiano não facilita, não se acomoda e por isso vai na frente. Agora mostra-nos "uma menina preta de bikini amarelo", destacando-se "entre o mar e o marron". E fica no ouvido, na cintura, no mexer dos pés ao som "da pele tesa dela".

"Que onda, que onda, que onda que tá
que bunda, que bunda!"


Eucalipto (uma espécie de metáfora)

Eucalipto: são raros os seres assim, tão egocêntricos e altruístas ao mesmo tempo.

domingo, 22 de junho de 2008

Poema para os olhos do verão

No limite
o verão trará consigo
o mercúrio escaldante
dos dias sem fim
a nudez da noite
o suor das horas
e o desejo absoluto
de ver
na cor azul dos teus olhos
a maré que nos molha os pés
a cada minuto

sábado, 21 de junho de 2008

Luísa Mandou Um Beijo (e eu aceitei)

Ultimamente tem girado no meu iPod uma banda de rock brasileiro chamada Luísa Mandou Um Beijo. Que belo nome! No Brasil alguém afirmou tratar-se de uma banda que mistura rock com dadaismo, o que até faz algum sentido, se tivermos em linha de conta as letras das suas canções. São muito imagéticas e desconexas, pelo menos aparentemente. É aquele tipo de banda que apetece ouvir no verão, sem que isso seja, necessariamente, uma coisa negativa. Luísa Mandou Um Beijo mistura ritmo, melodia, trompetes sonhadoras (fazem lembrar Belle & Sebastian) e fazem canções certeiras e duma eficácia irrepreensível. São viciantes. É melhor terem cuidado.



* na faixa Anselmo - a do vídeo que pode ver aqui em cima - há uma citação (incorporada na canção) de O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, primeiro filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro do Festival de Cannes. O vídeo foi feito por fãs da banda. E há tantas imagens de filmes que eu adoro...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

My Blueberry Nights

Tenho andado a ouvir a banda sonora de My Blueberry Nights. É um disco agradável. Bonitinho, até. E isso tem feito com que me apeteça ver o filme. Não faço a mínima ideia sobre o que dele posso esperar, mas algumas das imagens que já vi fazem-me pensar que deve ser, digamos, aconchegante.... E conta com a presença de Chan Marshall, o que não é de menosprezar. Gosto do título, frutado e sonhador.
Tudo se conjuga, portanto, para que venha a apanhar uma enorme decepção. Digo eu, que percebo muito pouco de cinema.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sangue

É muito raro, mas por vezes o sangue escreve na pele o percurso do nosso destino.

*imagem do filme Pierrot, Le Fou

Poema

Escrevo com a mão ainda em fogo
do calor da noite

É quente a escrita destes versos
tórrida intensa infernal

Escrevo com a mão ainda em chama
e se me demoro no que penso
pode incendiar-se este poema

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Até um dia...

A vida vive-se de uma vez, todos os dias. Essa foi a lição que aprendeu à custa de lágrimas e risos. A nada deu importância. Depois de um momento vem outro, até findar o jogo. Por isso continuava assim, obediente ao ímpeto do corpo. Pouco sabia da sorte que tinha. Ou do azar que sempre nos evita até doer, certeiro e sem remédio. É tão fácil mudar o vento. É tão fácil apagar-se o rasto. A vida vive-se de uma vez, até um dia.

Poema

Poucos são aqueles
que se deixam afogar
sem o mínimo sinal de resistência

Pode ser um grito
um infinito suspiro
ou um adeus sem tempo
a desafiar a existência

terça-feira, 17 de junho de 2008

A luz dos anjos

Há uma luz sobre os anjos que nunca se apaga. Mesmo quando sonham no sossego da noite mais escura, há uma luz que os ilumina e os faz um pouco mais humanos. Que bonita! Que leveza! Que paz! Que paisagens escondem os anjos quando estão a sós? Que sorrisos são esses que se escondem nas sombras que os nossos olhos não vêem?
A resposta, a resposta talvez um dia se ilumine em nós.

* esta imagem foi gentilmente cedida pela minha amiga Ana Sofia Victor.

Koo Koo

Foi em Agosto de 1981. Os sinais de que os Blondie estavam com graves problemas internos foi feito através deste disco. Debbie Harry lançava Koo Koo. Produzido pela dupla dos conhecidíssimos Chic, Koo Koo era uma prova de vitalidade da dupla Debbie Harry / Chris Stein. Ficou, no entanto, mais famoso pela capa. O talentoso H. R. Giger encarregou-se de fazer o belíssimo trabalho que a imagem documenta. Debbie Harry, ícone da beleza de há três décadas atrás, aparecia sem a cor dos cabelos que a notabilizou, com o rosto cravado de espetos, desconstruindo, numa capa de disco, aquilo que era a identidade edificada à sua volta. Arriscou muito. Muito mesmo. E fez, uma vez mais, história.

Fractura

Um pequeno som
estalido surdo
a lembrar que somos
osso e pele

Tudo quebra
ao redor desse momento

Um pequeno som
sombrio instante
sem lugar no pensamento

Equações (os exames começam hoje)

Poema

Permanece na sombra
não mostres o que és
ao sol que queima

Deixa que floresça em ti
a perdição dos dias
em sossego

Eu serei sempre a voz
que te reclama

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Os dias assim são beijos longos

Ah, os dias em que a vida se agarra a nós com a força promissora do futuro! Os dias em que as mãos dadas são a força da existência! Depois, olhar para o céu e ter vontade de dançar ao teu redor, à vista de todos, e gritar as palavras que só te digo ao ouvido para que o mundo inteiro core de vergonha e estremeça de prazer... Os dias assim são beijos longos, instantes que duram o tempo do encanto infinito que trazes na cor dos teus olhos. Ah, os dias assim só acontecem no aconchego alado dos teus braços!


* esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

A chama acesa

Esgotava-se o pavio do tempo. Faltava pouco. Quase nada era o tempo que restava. O tempo, esse fôlego que a vida nos dá até se extinguir por entre as mãos... Era frágil o tempo em que vivia e quaisquer que fossem os seus próximos passos, uma certeza percorria-lhe o pensamento: às vezes estamos tão pouco resistentes que a mais pequena brisa contrária à nossa vontade pode apagar a chama breve da vida que teima, ainda assim, em estar acesa dentro de nós.


* esta foto foi gentilmente cedida pela Sara e pode ser vista no blog http://olharesperdidos.blogspot.com/

domingo, 15 de junho de 2008

Temos todo o tempo do mundo



"Temos todo o tempo do mundo...", diz a canção. Há mentiras que nos ajudam a perceber as verdades da vida.

* esta canção intitula-se Tempo Perdido e faz parte do álbum Dois, da grande Legião Urbana.

Por água abaixo

Um banho rápido para lavar a vida, um banho para que a água tudo pudesse lavar. Nada restava fazer senão isso. Há instantes atrás um súbito esgar de lucidez fê-la querer esquecer-se do que fizera com a sua vida. Com os homens, com a rapidez dos seus amores, com as marcas sujas desses encontros marginais. Um banho seria a salvação, a melhor maneira de expurgar a vida. Depois, depois logo se via o que lhe traria a consciência de mais um dia que começava.


* esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

sábado, 14 de junho de 2008

Poema

Vamos comer amoras silvestres
correr pelos campos
como se a Primavera
estivesse em flor

Vamos correr
mundo afora
tempo afora
até não estarmos
mais em nós

Vamos de mãos dadas
até não termos mais
os pés no chão

Vamos correr
lamber as nossas bocas sujas
do sangue dos frutos
com sabor a coração

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Let Me Go



Para começar o dia com o coração em chamas...


* vídeo oficial de Let Me Go. As meninas dão pelo nome de The Chapin Sisters.

Poema

Para começar o dia
abro-te os olhos
dispo-te a pele
com o toque melódico dos dedos
encosto a boca
à tua boca
e faço nascer o sol
no interior dos teus segredos

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Um

Um ano. Um ano é já algum tempo. É todo o tempo que tenho e sou já deste tamanho. Um ano não é um tempo qualquer. Um ano é o tempo de começar a crescer. Um ano parece pouco, mas é o tempo que tenho. Tempo de anos com um ano. Um ano de tempo sem sair deste lugar. Um ano de tempo a passar sem que me sinta pequeno. Tenho já este tamanho e é só isso que tenho. Um ano. Um ano para começar...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Obedeça-me

Este blog tem o poder de hipnotizar. Por isso não se esqueça de participar na festa do primeiro aniversário. Obedeça. Você está enfeitiçado por mim. Sou eu que comando as suas vontades. Faça o que lhe pedem já aqui em baixo, por favor. Isso, vá, não custa nada...


* O I Blog Your Pardon faz um ano dia doze deste mês. Para saber como participar na festa carregue aqui.

O lençol do palco

Os corpos abandonavam o palco vergados ao peso da eternidade. Tinham sido ginastas, bailarinos, acrobatas das coisas do amor. Apenas o lençol branco e puro guardava nos seus vincos em desalinho os moldes dos malabaristas, os cheiros próprios das noites assim, os segredos partilhados que diziam aquilo que ambos sabiam desde sempre: há sempre tempo para o abandono, para a sofreguidão macia dos desejos, para o ópio da pele nua disposta a gritar por mais.

* esta imagem foi gentilmente cedida pelo blog http://coisas-parvas.blogspot.com/

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terça-feira, 10 de junho de 2008

Tropicália - 40 (e tal) anos depois

Foi recentemente posto à venda entre nós, o disco de 2006 de Júpiter Apple ( ou Maçã, na edição brasileira) intitulado Uma Tarde na Fruteira. Todo ele tem cheiro a Tropicalismo e isso enche-me de alegria. O Tropicalismo, revolução musical surgida nos finais da década de 60 no Brasil, está ainda bem vivo na memória melómana do mundo e nos intérpretes que a homenageiam em alguns dos seus trabalhos. É este o caso. Tipicamente. As explícitas referências (na estrutura melódica da canção e no vídeo) ao primeiro disco de Caetano Veloso não deixam margem para dúvidas. O eco do passado triunfou...
Desde os meus anos de adolescente que me habituei a ouvir os sons da Tropicália. Ouvi-los de novo agora é um prazer imenso.



A Marchinha Psicótica do Doctor Soup

Antes de nada eu gostaria de explicar
Segue agora um mosaico de imagens mil
Chamado "A Marchinha Psicótica do Doctor Soup"

A noiva do arlequim e o malabarista chegaram juntos com a fada e o inspetor nazista
Chacretes e coristas em teatro de revista
Bem-vindos a orgia niilista
Ai que gostoso, que delícia, muito mais paulista
Anunciados o homem-bala e a mulher canhão
A musa do pinóquio era bolchevista
A mais formosa melindrosa pega na suíça
Suíça pra ela era pegar rapaz

E pra provar minha querida, o meu amor tão radical
Eu escrevi essa marchinha para tocar no carnaval
O milênio passaria, e a marchinha seguiria sendo cult, underground...
Mas até 2020 seria revisitada e virar hit nacional...

O timbre do Caetano é super bacana
Não pense que eu estou copiando, que eu sou banana
Peguei emprestado pras artes da semana
Abrindo as portas da percepção
Um tal de Aldous Huxley de cara ficou doidão
Tomando toda a solução.
Doidão é apelido para a paranóia
Toda jibóia, toda bóia, toda clarabóia
Querida, que tal baixar o televisor?
Deitado no divã com Woody Allen
Eu tive um sonho com aquele estranho, velho alien
Que era cabeça Bob Dylan, barba Ginsberg, Allen

E pra provar minha querida, o meu amor tão radical
Eu escrevi essa marchinha para tocar no carnaval
O milênio passaria, e a marchinha seguiria sendo cult, underground...
Mas até 2020 seria revisitada e virar hit nacional...


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Poema

A novidade do dia:
uma pétala soprada pelo vento
desenha no ar as tuas formas


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Poema

A voz da terra que pisamos
chama por nós sem alarido

É uma lenta canção sem melodia
que só aos poucos ouvimos

A voz da terra que habitamos
acabará por triunfar

Chama por nós e sentimos
o encontro por marcar


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segunda-feira, 9 de junho de 2008

Goddess: para admirar


* O I Blog Your Pardon faz um ano dia doze deste mês. Para saber como participar na festa carregue aqui.

Goddess: para ver, ouvir e suspirar



To be loved

I'm so happy to be loved
Throw me down and light me there
'Cause I'm an awful mess
I haven't a care
We're eternity
Oh I feel the sigh on
Every breath that's met us here
This night dreams fantastic
And it's ours my dear
And you love me too

How on earth could you have found me
Huddled under grapes of wrath
I will never know but forever ask
How I got so lucky
All this time proceeding
Silent in processional
The words they escape me through my singing cage
Of how I love you too

It's safe to be alone
And be lonely
But I found a gun
With no safety
And I am going to shoot down
My ghost town completely
'Cause I know there's a place for us
I made it, I made it

I am through with sharing all my love
I have outgrown crowding up my house
When you found me, I could not be loved
But then I found me and I'm happy to be loved


* o disco de Joan As Police Woman, To Survive, é posto hoje à venda em todo o mundo. Disco do ano, até agora.

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Poema

A morte dói
pelo que é
pelo que deixa ao seu redor

Mas sofrer sem ter esperança
é uma dor muito maior


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domingo, 8 de junho de 2008

And now she sings...



Rainy Orteca é mais conhecida como baixista de Joan As Police Woman, muito idolatrada por aqui, como se sabe. No entanto, tem vida própria, e ainda bem. O seu projecto dá pelo nome de Dead Air e até ao momento apenas um ep existe, mas já é o bastante para me ter cativado. Lembro-me de a ver na banda de Joan As Police Woman quando ela actuou por cá em 2006. Discreta, eficiente, olhar estranho e penetrante. Continua assim, mas agora canta. Tin Drum é o vídeo que aqui mostramos. Fique bem e renda-se à beleza das imagens e da canção.

* repare no momento em que Orteca canta "I have a face / and a beautiful body" e depois diga lá se a rapariga não faz aquilo melhor do que o José Rodrigues dos Santos (brrrr, que arrepio...).

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sábado, 7 de junho de 2008

Poema

Há dias
em que olhamos ao espelho
e o que vemos somos nós:

O rosto da história que fazemos

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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Despedida

Hoje despedi-me dos alunos das minhas três turmas de 9º ano. O percurso que fiz com eles desde o 7º ano de escolaridade terminou com as aflições do costume. Há quem chore, há quem chore muitíssimo, há quem consiga mostrar que não chora, porque consegue o milagre de chorar para dentro. Hoje foi um dia de emoções vulcânicas...
O texto que se segue foi escrito pelos meus alunos do 9ºC. Reproduzo-o aqui, porque me orgulho deles e porque eles sempre tiveram orgulho no professor de Português. É, portanto, com uma ponta de vaidade que não consigo disfarçar, que utilizo este post para lhes agradecer mais uma vez. Todos eles fizeram de mim um melhor professor. Tenho isso como absolutamente certo. E, neste tempo em que os professores lutam pela dignidade daquilo que mais gostam de fazer, publico aqui a carta de despedida que me obrigaram a ler perante uma emoção muito sentida, como forma de mostrar que os professores têm orgulho no que fazem e que não precisam do apoio de quem os devia apoiar e não o faz. Não precisamos deles. Apenas precisamos dos nossos alunos.


Prof. Carlos Lopes:

Em poucas palavras não o conseguiríamos descrever, apenas diríamos parte de si. Sabemos que o professor não gosta de despedidas, mas não podíamos deixar de lhe escrever qualquer coisinha. Depois destes três anos a aturar-nos, só temos de lhe agradecer por tudo o que fez por nós e para nós. Consigo fizemos poesia, consigo fizemos um livro, consigo aprendemos a gostar de Português, consigo tornámo-nos excelentes escritores, consigo aprendemos a viver cada dia como se fosse o último. Surgiram sempre mais e melhores inovações, novas actividades que nos motivavam. Umas pareciam impossíveis, MAS NÃO FOI POR ISSO QUE NÃO CONSEGUIMOS. Aprendemos e crescemos tanto! Não foi um período, não foi um ano, FORAM TRÊS ANOS!. Sempre juntos. Aturou-nos talvez na pior fase das nossas vidas, a adolescência. Não é fácil aturar umas "pestinhas" como nós e nós sabemos isso. Mas conseguiu cativar-nos de uma maneira especial como nenhum outro professor o fez. É impossível não termos por si a maior admiração e consideração. O professor é e vai ser sempre muito importante para nós. Quando todos falavam mal de nós, o professor sabia que nós éramos muito mais do que aquilo que os outros professores diziam, muito melhores, porque consegue ver o nosso "outro lado". O professor é tão diferente da ideia que temos de "professor"!
Aprendemos muito, mas não aprendemos somente português. Aprendemos a ver certas coisas de uma outra perspectiva, aprendemos lições de vida, aprendemos tudo e mais alguma coisa que contarão muito para a nossa formação como pessoas. Temos de lhe agradecer por isto. É tão difícil mostrar que tudo isto não é uma prenda, nem meras palavras, mas sim um sentimento de gratidão. Como alguém dizia, um obrigado pode ser muito pouco, mas também pode ser TUDO! É sentir que o professor não é apenas professor, mas também um amigo que ganhámos. É ter uma relação muito próxima, ao ponto do professor conhecer bem cada um de nós, saber o que valemos, aconteça o que acontecer.
Vai deixar saudades, esperemos que saiba isso. Gostamos muito de si, tanto como professor como como pessoa, mas especialmente como " O PROFESSOR DE PORTUGUÊS QUE NOS MARCOU". Nunca nos iremos esquecer. Isto é tudo muito difícil de escrever, porque é... O QUE ESTÁ CÁ DENTRO e é tão difícil explicar... tudo o que sentimos por si. Pense apenas em todos os sentimentos bons que existem e vai perceber o que está "por detrás deste texto".

* as lágrimas que consegui evitar no momento em que li esta carta perante os meus alunos, apareceram agora, ao redigir este post...

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Poema

Sei de histórias de homens sós
que morreram sem sorrir

Aprendi que a solidão é uma palavra
também só, um vazio preenchido

Os homens sonham calados
as melodias do tempo

e não sabem

Que são mais lindas as estrelas
quando as vemos com alguém

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quinta-feira, 5 de junho de 2008

Eu não vou

Desculpem, mas achei uma delícia. Apenas isso.

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Encore une fois


Já não há trailers assim. Já não há filmes assim. Já não há homens assim. Já não há mulheres assim. Já não há loucos assim. Já nada é assim. Só neste filme.

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Uma voz

Maria Bethânia foi sempre uma intérprete que nunca me fascinou. Sempre gostei, mas nunca convivi muito de perto com a sua música. A única excepção é o álbum Ciclo, disco absolutamente imprescindível, mas que para este post pouco interesse tem.
Neste último ano e meio o meu convívio com a intérprete baiana tem-se estreitado. E de tal forma que por vezes é com um surpreendente prazer que volto aos seus trabalhos mais antigos. Ouvi-la é cada vez mais um prazer que guardo para certos momentos, doseadamente. A idade também traz destas coisas, uma outra capacidade de ouvir o que os ouvidos mais moços iam, de alguma forma, recusando. Uma outra compreensão das palavras cantadas por uma voz forte e intemporal. Talvez seja isso, talvez não. Pouco importa. Importam mais as descobertas dos dias que correm...

* pela primeira vez na sua história (desde 1981), o Prémio Shell para a Música Brasileira foi atribuído a uma intérprete e não a um compositor. Maria Bethânia foi a contemplada. A minha vénia fica aqui registada.

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Poema

Silêncio

A paz dos dias
também pode
ser quebrada assim

Silêncio


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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Poema

Um novelo
um novelo de cabelos
que se arrasta no meu corpo
um arrastão na pele
e uma pergunta
a incomodar os gestos
do momento:

porque nos perdemos
tantas vezes
nas razões do sentimento?

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terça-feira, 3 de junho de 2008

Branquíssimo

Este é o novo equipamento alternativo do meu Benfica. Na época que se aproxima seremos sempre vermelho e branco. E gloriosos, como nunca deixaremos de ser.

* pormenor interessante: as três estrelas douradas, uma por cada dez títulos de campeonatos nacionais já conquistados.

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O amor é incomunicável

À força de escrever turvou-se o olhar. É tanto o que quero dizer-te que os dedos não param, o pensamento não pára e nessa pressa, nessa angústia, o coração ameaça parar. São tão poucas as palavras para o que sinto. Tão poucas que por vezes penso na tragédia suprema: se um dia as palavras deixassem de existir, perder-te-ia entre os dedos desta escrita...?

* esta foto foi gentilmente cedida pela Sara e pode ser vista no blog http://olharesperdidos.blogspot.com/

** o título deste texto é vagamente inspirado num verso do poema Segredo, de Carlos Drummond de Andrade.

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segunda-feira, 2 de junho de 2008

Poema

Lembro-me dos olhos
e das mãos e seus contornos
como me lembro do azul
do céu grande e infinito

Lembro-me tão bem
de ser bonito
menino em calções
em frente ao mundo

Lembro-me dos sorrisos
das meninas bonitinhas
que sorriam para mim

Lembro-me de tudo
lembro-me tão bem de ser assim...

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Caetano Veloso (quase em minha casa)

No Cool Jazz Fest, em Julho, dia 26, no Jardim do Marquês de Pombal. E não digo mais nada a não ser que vou já tratar de comprar bilhetes.

* imagem: Caetano Veloso na pedra do Arpoador, no ano de 1977.

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Demónios interiores

Foi há muito tempo. E nesse tempo todos notavam que andava diferente, que a loucura havia-lhe tomado a vida de assalto. Ele próprio dizia que venceria a batalha dos seus demónios interiores. Conta-se que foi tudo muito súbito, que numa noite - porque era de noite que as maiores batalhas se travavam -, foi deitar-se e que levou consigo, junto ao corpo, uma faca de fio muito cortante que ele mesmo passara o dia a afiar. Foi a noite dos demónios. Ainda hoje é assim que se referem ao que aconteceu. Nada se viu. Nada se ouviu até ser manhã. Com os primeiros raios de sol, a visão do quarto mostrou-se sinistra e demolidora. Um corpo esvaído em sangue, até à última gota, até ao último suspiro, inerte, deitado na cama de todos os pesadelos. E há quem garanta, que num canto do quarto, pequenos demónios dançavam em festa em jeito de libertação.

* esta foto foi gentilmente cedida pela Sara e pode ser vista no blog http://olharesperdidos.blogspot.com/

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domingo, 1 de junho de 2008

I Blog Your Pardon

Este blog faz um ano no próximo dia 12. Um ano é já uma idade decente para um blog. Daí que me tenha lembrado de vos propor este desafio: no espaço dos comentários deste post podem escrever uma frase (até 10 palavras) sobre o que pensam do I Blog Your Pardon. De todas as frases que aparecerem, escolherei uma como sendo a vencedora. E, como acontece a quem vence alguma coisa, terá direito a prémio. Um bom prémio, posso garantir-vos. Todos podem deixar o seu comentário até dia 11. No dia do primeiro aniversário deste blog o vencedor e o prémio serão revelados. Até lá, fico ansiosamente esperando.

* até ao dia 12 de Junho, todos os textos que aqui vier a escrever terão uma chamada de atenção para este post.

Poema dos pequenos deuses nascidos dos homens

Deixem-nos brincar
deixem-nos ser deuses
enquanto dura a eternidade
as crianças são sem tempo
sem razão e sem idade

* para a Bárbara e Lourenço, na brincadeira dos dias.