Vem este texto a propósito de uma morte: a de Edith do Prato. Mas não só. Também, e acima de tudo, a propósito do disco em si mesmo, obra prima que prima por se distinguir de tantas outras pelo avesso do que geralmente apreciamos nas grandes manifestações de génio. Mas deixemos o tópico da morte lá mais para o fim destas linhas, porque é tempo de celebrar a estranha vida de Araçá Azul.
Não adianta muito dizer o que é Araçá Azul. Esse estranho objecto sonoro é inclassificável. Há conversa ( e pouco se percebe do que é dito enquanto decorre), há melodias presas por um fio sonoro frágil, há Caetano a bater no seu próprio peito em jeito de ritmo primitivo, há loucura suficiente para Araçá Azul ter ficado na história da MPB como o disco que mais devoluções proporcionou à sua editora, a Philips. Mas também há Cravo e Canela ("ê, morena, quem temperou, / cigana, quem temperou, o cheiro do cravo", de Milton e Ronaldo Bastos). Como há também Gilberto Misterioso, canção ladainha que nos fica na memória pela estranheza do pequeno poema de Caetano e Souzândrade; Tu Me Acostumbraste, magnífica canção que aparece no disco como se a estivéssemos a ouvir através de um velho rádio de pilhas... E ainda Júlia/Moreno, Sugar Cane Fields Forever e Araçá Azul, a faixa que dá título ao trabalho e que fecha o disco da melhor maneira. É uma mini-canção perfeita, um poema perfeito a terminar aquele que é o disco assumidamente mais experimental do mano Caetano.
Desde os meus 13, 14 anos que uma assonância melódica me habita a memória: "sou um mulato nato/ no sentido lato/ mulato/ democrático do litoral". Quem nunca ouviu Araçá Azul não merece perdão. Mesmo que saiba antecipadamente que o disco não é pêra doce: é araçá azul.
Não adianta muito dizer o que é Araçá Azul. Esse estranho objecto sonoro é inclassificável. Há conversa ( e pouco se percebe do que é dito enquanto decorre), há melodias presas por um fio sonoro frágil, há Caetano a bater no seu próprio peito em jeito de ritmo primitivo, há loucura suficiente para Araçá Azul ter ficado na história da MPB como o disco que mais devoluções proporcionou à sua editora, a Philips. Mas também há Cravo e Canela ("ê, morena, quem temperou, / cigana, quem temperou, o cheiro do cravo", de Milton e Ronaldo Bastos). Como há também Gilberto Misterioso, canção ladainha que nos fica na memória pela estranheza do pequeno poema de Caetano e Souzândrade; Tu Me Acostumbraste, magnífica canção que aparece no disco como se a estivéssemos a ouvir através de um velho rádio de pilhas... E ainda Júlia/Moreno, Sugar Cane Fields Forever e Araçá Azul, a faixa que dá título ao trabalho e que fecha o disco da melhor maneira. É uma mini-canção perfeita, um poema perfeito a terminar aquele que é o disco assumidamente mais experimental do mano Caetano.
Desde os meus 13, 14 anos que uma assonância melódica me habita a memória: "sou um mulato nato/ no sentido lato/ mulato/ democrático do litoral". Quem nunca ouviu Araçá Azul não merece perdão. Mesmo que saiba antecipadamente que o disco não é pêra doce: é araçá azul.
Edith Oliveira (Edith do Prato, como era mais conhecida por usar um prato e uma faca como instrumentos) morreu dia 9 deste mês. Mãe de leite de Caetano Veloso, Edith Oliveira participou no disco Araçá Azul, de 1973. No seu site Obra em Progresso, Caetano escreveu sobre Edith do Prato. O texto pode ser lido aqui. Vale bem a pena.
* a designação deste novo tag deriva do título da peça teatral de Nelson Rodrigues (1965) e do filme de Arnaldo Jabor, Toda Nudez Será Castigada (1973), de que gosto particularmente.
** Toda Surdez Será Castigada é também nome de uma canção da Nação Zumbi, bem como nome de blog.
*** Toda a Surdez Será Castigada passa agora a ser também nome de tag neste blog, dedicado a discos menos conhecidos, digamos assim.
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1 comentário:
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- John
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