sábado, 18 de abril de 2009

Zie e Zie - o disco

Depois de vários dias a ouvir Zii e Zie, decido-me a escrever sobre ele. Já fiz, seguramente, mais de 10 audições integrais do último disco de Caetano Veloso, e por isso atrevo-me a dizer agora o que penso... Começo por dizer que Zii e Zie é um disco que chega aos ouvidos sem fazer alarde, devagar, com a subtileza das coisas sem pressa. É um disco tranquilo, sem a energia eléctrica mais ou menos contida de (o trabalho anterior). É um disco menos coeso em termos das letras das canções (ainda comparando-o com , que mostrava uma vertente mais carnal, sexual, despojadas de qualquer pudor, bastando para isso lembrar apenas o exemplo do verso tantas vezes repetido da canção Porquê? - "estou-me a vir"). As letras das canções de Zii e Zie versam assuntos tão diferentes como sejam a política norte americana ou o Rio de Janeiro.

(Pedro Sá, Ricardo Gomes, Caetano Veloso e Marcello Calado)

Este é um disco muito carioca, muito centrado na ideia do samba, mas como com Caetano as coisas nunca são assim tão simples, o samba que aqui se ouve tem um acentuado travo rock (transambas e transrock são subtítulos ajustadíssimos) e é isso que une o disco e faz dele uma obra bem equilibrada. Apenas a canção Menina da Ria (de longe a canção menos conseguida, na minha opinião, e muito distante do belíssimo hino masculino que é Menino do Rio, que merecia uma melhor canção como companheira) foge um pouco ao esquema samba-rock. É, não me custa dizê-lo, uma marchinha sem grande graça, apenas com uma particularidade lusíada, quando se canta "Ai, Portugal, ovos moles, Aveiro", mas que destoa no tom do todo das canções do disco.

Os grandes momentos são Lapa (magnífica, um futuro clássico), Sem Cais (arrepiante), Por Quem (sensível, imensa), A Cor Amarela (que resultará muito bem ao vivo, certamente), Tarado (uma das mais estranhas letras de Zii e Zie) e a versão de Incompatibilidade de Génios (deslumbrante versão do samba de João Bosco e Aldir Blanc). Os outros momentos (Perdeu, Lobão Tem Razão, Base de Guantanamo, Ingenuidade e Diferentemente) são também canções maiores, não nos iludamos, mas um semi-furo abaixo das mencionadas primeiramente.
Zii e Zie é um disco de um jovem de 66 anos, acompanhado por três jovens de 20 e poucos anos, mas que não é para todas as idades. Ou melhor: até poderá ser, desde que quem o ouça seja capaz de ser um ouvinte sensível, porque Zii e Zie é um disco que transborda de sensibilidade. Não é um disco fácil? Claro que não. É mais um disco para entendidos (como Araçá Azul)? Talvez não. Julgo mesmo que não. Ou então sou eu que já entendo Caetano há tanto tempo, que já não estranho a estranheza daquilo que faz: música apontada à perfeição.

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