Estou em greve de palavras
munido apenas de ideias inconstantes
e por isso estes versos
não são versos
antes coisas que guardo
na cabeça e noutros lugares
passíveis de arrumação
Sinto-me grevista de poemas
eu que nunca fiz uma greve fora de mim
por receio de trabalhar a meio
de qualquer coisa que devesse estar parada
Decidi não escrever mais uma linha
até morrer da doce sede
que me vai matando aos poucos
e tenho a garganta tão seca de dizer
o que a palavra não escreve
não diz nem imagina
Talvez seja melhor abrir um livro de poemas
e apontar com o dedo indicador
os versos que gostaria de escrever
se soubesse desenhar letras
como se desenham versos
no meu interior
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