quarta-feira, 30 de abril de 2008

Agora em Português: disco, livro, filme.

Pois é, meninos e meninas: andei em conferência com o Artur (do blog As Partes do Todo) e chegámos à conclusão que era giro fazermos de novo as escolhas (Disco, Livro e Filme), mas desta vez só com portugueses. Eu alinho. O Artur também.
Não nos vão deixar os dois sozinhos, pois não? Então aqui vai de novo a lista dos convidados:

A Traição de Wendy, A Caixinha dos Meus Botões, As Partes do Todo, Em Bicos de Pés, Homo Zappiens, Just- a-Lazy-Cat, Meia Laranja Inteira, My Crazy Little World, Red Jan, Ideias e Bocados, e Zoo.

Estou mesmo curioso!!!

*as regras e as datas podem ser as mesmas, ok?

Para matar saudades, enquanto To Survive não vem...


JOAN AS POLICE WOMAN - THE RIDE

Poema

Sou um pouco assim
calado
à espera
que as palavras dos outros
não tropecem
sobre mim

Sou um pouco assim
quieto
como um suspiro inerte
que antes
de começar
chegou ao fim

Disco, livro, filme...

Eat To The Beat foi o primeiro disco que comprei em toda a minha vida. Tinha 13 anos e fez-me perceber que a música era extraordinariamente importante para mim. E que música e sedução são almas gémeas. Os Blondie reinaram durante muitos anos da minha juventude. Ainda tenho por este disco um soft-spot indisfarçável.

O Meu Pé de Laranja Lima foi lido quando era criança. Nele compreendi que a literatura exige tanto de nós que nos desarma, que nos eleva aos mais altos sentimentos e que palavras e lágrimas e riso podem misturar-se perfeitamente. Uma lição de vida!


A Mulher Pública, filme polémico, detestado por muita crítica e tolerado por outra tanta, vi-o com 16 anos, talvez. Inspirado num romance de Dostoevsky, este filme realizado pelo maldito Andrzej Zulawski, mostra a loucura das personagens à procura da sua arte, o desgaste físico e mental de quem está vivo na pele dos outros e a insanidade de certos filmes franceses, tão do meu agrado. E tem a nudez deslumbrante de Valérie Kaprisky...

Poema

E quando a fonte secar
onde iremos nós beber
as palavras
que assegurem
o amanhecer
dos dias?

terça-feira, 29 de abril de 2008

Desafio - quem se atreve?

Um desafio! Quem se arrisca? Não custa muito, porque mesmo que custe é o custo do prazer de pensar sobre o que aqui vos peço em desafio. Por isso mesmo, não custa nada!
Aqui vai:

a
) escolher UM disco que tenha sido muito importante nas nossas vidas e sobre ele dizer algo em TRÊS linhas apenas, não mais.

b
) escolher UM livro que tenha sido muito importante nas nossas vidas e sobre ele dizer algo em TRÊS linhas apenas, não mais.

c
) escolher UM filme que tenha sido muito importante nas nossas vidas e sobre ele dizer algo em TRÊS linhas apenas, não mais.

As respostas devem ser dadas até 2ªfeira, dia 5 de Maio.

* se quiserem colocar as imagens do disco, livro e filme eleitos, tanto melhor.

** os desafiados são A Traição de Wendy, A Caixinha dos Meus Botões, As Partes do Todo, Em Bicos de Pés, Homo Zappiens, Just- a-Lazy-Cat, Meia Laranja Inteira, My Crazy Little World, Red Jan, Ideias e Bocados, e Zoo.

Poema

Acordo no sol da manhã
os primeiros raios
farejam até me encontrarem
ainda adormecido
pelos últimos suspiros do luar

E nisto se esconde a vida:
entre adormecer e acordar

segunda-feira, 28 de abril de 2008

No Surprises


Parece-me bem para acabar o dia. Não há canção mais bonita de Tom York & companhia do que esta. Quem não estiver de acordo, ponha o dedo no ar.

Histórias esquecidas

Parecia que caminhavam em busca do que não tinham. Velhas, com a idade bem marcada nos gestos dos passos que davam, iam em frente empurradas pelo vento e por uma vontade que lhes parecia alheia. Mas seguiam, triunfantes, como que fugindo ao passado mais recente, mais vizinho. Seguiam porque era esse o seu destino. E o destino está sempre um pouco além daquilo que alcançamos. Por isso seguiam, caminhavam com o peso dos anos e das vidas. E nesse caminho traçavam mais uma das histórias que ninguém conta, que ninguém conhece. Histórias como árvores esquecidas nas esquinas de um tempo sempre em linha recta.


*esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com

Poema

Nos livros raros
não há espaço
para olhares cansados
nem encantos lentos
nos livros raros
vivem-se os momentos
como se fossem últimos
desesperados
nos livros raros
a ordem é outra
e outra a noção dos tempos
e só os livros raros
são capazes
de nos lerem em silêncio

*a propósito de A Criança em Ruínas, de José Luís Peixoto

domingo, 27 de abril de 2008

Voltar a casa

"... Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero..."

*estes versos são da (belíssima) canção Encontros e Despedidas, de Milton Nascimento e Fernando Brant.

**amanhã cá estaremos, ao nascer do dia.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Pausa

Por uns dias. Lá para domingo à noite, talvez se dê o regresso. Ou segunda de manhã. As malas estão feitas e há alguma estrada pela frente. Fiquem bem. E como a porta está aberta, vão aparecendo. Não se esqueçam de abrir as janelas para que a casa fique arejada. Até breve. Beijos e abraços, consoante os casos...

Poema sem rosto

Sabes amigo
um dia a tua cara
parecer-me-á estranha
porque nem cara será

A ausência não tem rosto
e o teu rosto
onde andará?

Sabes amigo
quando esse dia chegar
também o meu rosto
nada te dirá

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Poema


Fios
fios que nos ligam
que nos afastam
que se insinuam
nos corpos
na pele
na voz

Fios
fios que se cruzam
e que em fios
se agrupam
até sermos nós

* esta imagem foi retirada do site http://bocadosdetudo.blogspot.com/

Poema

O tempo é uma doença mortal
que ao contrário das outras
nos dá vida
lentamente
até que uma noite escura
e sem estrelas
nos ensina o caminho
de volta ao que nunca fomos

Som bom

Há nas imagens imprecisas uma estranha beleza fulgurante. Como se tivessem voz, um fio de som que nos enreda, aranha de sentidos que nos prendem a um passo do abismo. E assim, antes da queda, o que nos salva é o encantamento que nos eleva até nos sentirmos mais puros, mais capazes de ouvirmos o som que antecede o paraíso.

* é só o que consigo escrever depois de ouvir Hvarf/Heim, dos Sigur Ros.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Existir

Não pedia nada. Não falava, respirava a medo, como se temesse não ter mais ar para respirar. Não sabia que futuro teria, nem tinha certamente ideia do que isso era. Era assim a sua vida, uma aflição em cara de anjo caído nas desgraças do mundo. E era também criança. Criança que brincava até o corpo se cansar. As horas passavam, os dias também. E somente os olhos escondiam a verdade que nem mesmo Deus parece conhecer: a verdade de existir sofridamente.

* esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

LER (de novo)

A nova revista LER já anda por aí. O director é Francisco José Viegas e a revista continua nas mãos do Círculo de Leitores. Já fazia falta. É uma velha companheira - lembras-te, Janeca, que conseguimos milagrosamente a número zero (com o José Cardoso Pires na capa), já lá vão anos demais para nos lembrarmos ao certo quantos? - e uma excelente publicação. Sempre foi. Para este novo fôlego, a escolha da capa não podia ser melhor: o mestre maior António Lobo Antunes, que tem novo romance a sair em Outubro. Que tenha uma longa vida, a revista e o senhor da capa.

O mestre na voz de outros e a vontade de ir a Londres

Ando com vontade de ir a Londres. Por enquanto vou no som...



* a soberba Cibelle e o genial Devendra Banhart

Into my arms

O que ontem acabei por não ver...



E não consigo perdoar-me...

Poema

No dia seguinte
a casa estava deserta
a porta sem trinco
as janelas soltas ao vento

No dia seguinte
as marcas dos pés no chão
tinham traços de poeira
e sentia-se no ar
restos de uma vida inteira

Mas era o vazio
que enchia o espaço
o que mais me assustava
como se antes desse dia
já nada em nós acontecia

segunda-feira, 21 de abril de 2008

The Chapin Sisters

Já alguém ouviu as deliciosas irmãs Chapin? Ainda não? Faça um favor a si mesmo e vá ao My Space das senhoras e escolha, por exemplo, a canção Hey. Vai ver que o dia lhe corre melhor. Este post é só uma primeira aproximação à banda. I will be back soon...

Poema

Nessas alturas
fechava os olhos
para melhor sentir a ausência
que é sempre uma sombra sem luz

Nessas alturas
os ciprestes eram do tamanho
da distância entre as estrelas
e eu
nessas alturas
sabia que a morte nos visitava por dentro
profética
saloia
desprezível

Nessas alturas
sem saber se tardavas
abria os olhos
para não ver por onde andavas

domingo, 20 de abril de 2008

sábado, 19 de abril de 2008

Poses (all day long)

Por causa do post abaixo, hoje passei o dia a ouvir Poses, do genial Rufus.
Quando o disco saiu, há mais ou menos sete anos, Poses era a faixa que punha em repeat para adormecer ao colo o meu filho Lourenço. Era assim que ele gostava de adormecer. Exigia Poses, ou então nada feito. Enquanto a música ia tocando, eu cantava baixinho, movimentava-me pela sala como se dançasse com ele. Durava apenas o tempo de ouvirmos Poses três ou quatro vezes. Era sempre um prazer a dois.
Hoje ouvi Poses o dia inteiro e sei que vou dormir com os anjos...


A irmã do génio

Martha Wainwright prepara-se para lançar o seu segundo disco a solo. A capa é magnífica, o título não lhe fica atrás, a voz é o que se conhece, e no alinhamento, como se não bastasse tudo o que acima é dito, encontramos See Emily Play, canção lendária do mad Syd, dos Pink Floyd. O disco chega ao público no próximo dia 12 de Maio, pelo menos lá por fora. Eu aguardo com a curiosidade à flor da pele. E é tanta a ansiedade que me obrigo a não a ranger os dentes permanentemente, embora nem sempre com sucesso.

* o génio, como é de bom tom entre irmãos, colabora numa das faixas.

Poeira do tempo

A poeira assenta nas palavras dando-lhes a dimensão do tempo.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Decisão de (mais ou menos) última hora

Já não suporto mais esta chuva e este ventinho que teima em ser fresco, de uma frescura maricas que faz arrepiar penugens a precisar de sol. Chega de casacos, de camisas, de pólos de mangas compridas, de sweatshirts... Declaro que para a semana as t-shirts saltam das gavetas a toda a força. Estou nisto de coração aberto, como se vê. Alguém alinha?

* este imagem foi retirada do site http://www.2manytshirts.net/index.php

Utopia

Soprar a vela para acender o mundo: eis a utopia mais apetecida.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Hot - Cold

Um verdadeiro achado ao alcance de todos. Como o tempo está incerto e a temperatura também, hoje dou-vos a liberdade de controlarem tudo ao vosso gosto. Depois, quando chegar a factura, acertamos contas, ok?

Poema falhado

Quero criar um novo estilo
um espaço onde pescar plantas e pó
e ter nos pés a terra adjacente
na certeza da dor de não estar só

Quero criar um novo estilo
mais liberto da prisão além dos versos
um estilo onde se encontre em rodopio
níveos encantos perversos

Um estilo novo sem ambição ou castigo
em que as palavras não se moldem ao que digo

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Outras novas palavras

São outras as palavras necessárias
com outro enleio
com outra voz
palavras que escondam o que dizem
até ao osso de si mesmas
outras palavras
palavras para lá da existência
entre o limiar do que propõem
e o da sua desistência

"Parafins gatins alphaluz sexonhei la guerrapaz
Ouraxé palávoras driz okê cris espacial
Projeitinho imanso ciumortevida vivavid
Lambetelho frúturo orgasmaravalha-me Logun
Homenina nel paraís de felicidadania:
Outras palavras"

*em itálico laranja, a última estrofe da letra da canção Outras Palavras, de Caetano Veloso.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Poema

Vai distante o tempo
sinto uma ausência
no meu corpo
no corpo dos outros

A minha filha chora
e o choro dela vem de mim
o sal das lágrimas são gotas
do copo d'água à minha frente

De um trago
de um só golo
bebo o único som das lágrimas
deste tempo

*este poema foi escrito a 14/11/1997, num momento em que a minha filha chorava. Tinha quase 5 meses de vida. Encontrei-o ontem, por mero acaso, ao desfolhar um livro de Eugénio de Andrade.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Bom dia

Só ao fim de 427 postagens me lembro de começar a manhã dando-vos os Bons Dias!
Que vergonha!

domingo, 13 de abril de 2008

Poema

É noite
ninguém repara
nos brilhos do dia
ao redor das casas

Aos meus olhos
as sombras
os gestos
a luz dessas palavras
são corpos
que vibram
as derradeiras asas

Poema

Afastarás de mim
as tuas mãos
para que me solte
do corpo de que me afastas?

E afastar-me-ás
por não me quereres
ou porque o desejo é maior
quando me afastas?

E nestas minhas dúvidas
são as nossas vidas que desgastas


sábado, 12 de abril de 2008

Love letter

E porque qualquer dia é dia de Nick Cave, e porque esta é uma das suas mais belas canções de sempre, e porque o tempo está para isso, e porque não preciso de quaisquer outros argumentos para me deliciar, aqui vai uma carta de amor...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

E por falar em Tom Waits...

Uma destas capas será a oficial do disco de Scarlett Johansson com versões de temas de Tom Waits. O disco sai em Maio e David Bowie dá uma ajuda. A bela e o monstro em versão musical, já tem título: Anywhere I Lay My Head.

Anywhere I Lay My Head tracklist
"Fawn" (from Alice)
"Town With No Cheer" (from Swordfish Trombone)
"Falling Down" (from Big Time)
"Anywhere I Lay My Head" (from Rain Dogs)
"Fannin' Street" (from Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards)
"Song for Jo"
"Green Grass" (from Real Gone)
"I Wish I Was in New Orleans" (Small Change)
"I Don't Want To Grow Up" (from Bone Machine)
"No One Knows I'm Gone" (Alice)
"Who Are You?" (from Bone Machine)

Who's afraid of the big bad Waits...

Uma das faixas mais soturnas e spooky do mestre Tom Waits dá pelo nome de What's He Building, do seu magnífico Mule Variations (1999). Nessa faixa, mais do que uma canção (que não é, de facto) ouvimos uma espécie de mini-banda sonora do medo, ouvimos e imaginamos aquilo que adivinhamos ser uma tragédia escondida, assustadora, acima de tudo pelo que não nos informa, mas pelo que pressentimos estar a acontecer ou ter acontecido. As palavras de Waits e o tom com que são ditas arrepiam-nos até à ponta dos cabelos. É um belo exercício sobre o horror, sobre o macabro. Sobre o que se pressente e se adivinha.

* vale a pena experimentar aqui.
** ou aqui, em versão desenhada.
*** ou ainda aqui, numa cover version.

Talvez comecemos a olhar para certos vizinhos de outra maneira...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

I won't shave myself until May

No próximo dia dezanove de Maio, Sweeney Todd sairá em dvd. Há esperas que demoram mais do que a contagem dos dias. Esperas cortantes, que nos deixam o sangue a ferver.

Em seis palavras

O desafio da Lazy Cat é escrever uma memória em seis palavras. Não é fácil, mas aí vai:
Quando beijar tinha sabor a futuro...

*
os desafiados são a Wendy,
a menina dos pés descalços
e o Jorge.


Avenidas

Os cabelos soltos ao vento lembram avenidas. Nelas ando como quem dança ao som do vento. Também eu me solto nas avenidas dos teus cabelos e não há semáforos que me impeçam de as percorrer, correndo, sôfrego por atingir o seu fim. E nos cabelos me prendo, aguardando as luzes dos caminhos que em breve se acenderão. Cabelos onde passeio sem pressas, cabelos estradas que me levam ao encontro do que quero.

*imagem retirada do site http://gaivotapoesia.blogs.sapo.pt/

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Poética

Permite-lhes a desordem inicial do espanto. Dá-lhes tempo para que se entendam, para que se moldem aos desígnios do que anseiam. A escrita que fazemos delas não é o bastante. Serão sempre uma outra coisa, um outro poema em desordem inicial aos olhos do leitor em espanto. Ele construirá a poesia que há em si mesmo. O poema será sempre uma outra coisa, um outro olhar. Não te preocupes com as palavras. Dá-lhes essa preocupação e o mundo será melhor.

terça-feira, 8 de abril de 2008

O homem do momento

Alguém faz ideia de quem é este homem? Até me custa escrever isto, mas este homem tem preenchido a minha vida nestas últimas semanas... Espero que me entendam. O que ele fez é ma-ra-vi-lho-so. Music for my ears...
Alguém quer arriscar? Quem é ele?

PEZ

A marca Austro-Húngara PEZ comemora oitenta anos de existência. Os famosos pocket mechanical dispensers fazem parte do imaginário de todos nós. Quem nunca comeu um Pez é marciano, seguramente. Desde pequeno que tenho um fascínio por esses objectos e pelos sabores dos seus candy. Ao longo dos anos fui guardando alguns. São irresistíveis. Por isso merecem destaque neste espaço. Vai um Pez? Não se acanhem. A menina oferece...

Janela (in)discreta

O mundo era a sua janela, o seu quadro por pintar. Mostrava-se ao mundo conforme as vontades dos dias. Por vezes com olhar casto e puro, noutras horas a seda que lhe cobria o corpo dizia tudo sobre ele, sobre ela. Corpo e vontade! Quem os domina? E, muitas vezes, nas espirais do fumo dos cigarros mais carnais estava a resposta inferida.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O breve dia do rapaz balão

O rapaz que tinha cabeça de balão
enchia-a de manhã levantando-a do chão

E andava o dia inteiro
com a cabeça a vagar
até que chegava o tempo
de ter de a esvaziar

Logo o sorriso se ia
perdendo até aterrar
no chão que agora via
ser cama para repousar

E pensava:
é bom ter a cabeça cheia
das coisas que andam no ar

* esta imagem foi retirada do site http://olhando-mundo.blogspot.com/
** texto vagamente inspirado nos poemas do livro A Morte Melancólica do Rapaz Ostra & Outras Estórias, de Tim Burton

Dias assim

Só as artérias da natureza resistem aos dias assim. Dias sem sol, sem luz da terra. Dias em que o que vemos é sempre incerto, sem brilho capaz de nos dizer, sem equívocos, que estamos vivos. Dias sem retorno aos dias de ontem, dias onde os segundos são maiores do que os minutos. Dias de cinza em nós.

*esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

domingo, 6 de abril de 2008

Palavra?

A palavra adoça
a palavra amarga
a palavra concerta
o que a palavra estraga

Imagens

A tontura dos dias, a vertigem da vida, a tensão dos tempos que passam. E apenas um refúgio: as imagens que ficam dos filmes da vida.

sábado, 5 de abril de 2008

Poema

Fosse a vida
um gesto simples
traço de luz
sem luz ao fundo
talvez assim
fossem mais amplos
os abraços
e os dias mais intensos

Fosse a vida
um único caminho
feito entre a terra e o mar
e os destinos dos meus passos
saberiam naufragar

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Hoje é noite de Adriana

A mais camaleónica das intérpretes brasileiras da nova vaga dá hoje um concerto exclusivo no Teatro Municipal de São Luiz, em Lisboa.
Primeiro surgiu-nos muito loira (em Enguiço), depois foi simplesmente Adriana Calcanhotto durante algum tempo, até ser Partimpim. Agora é Adriana de novo, como gostamos mais de a ver e ouvir. Vem de prancha de surf, pintada como se fosse um ser marítimo, bem na onda da Maré que traz consigo. Mas já foi, por exemplo, Frida Kahlo nas fotografias de Marcelo Faustini, para o Caderno Ela, do Jornal O Globo. Mesmo sabendo que vem apresentar o seu novo trabalho, parece-me bem possível que nos cante temas mais antigos, como Esquadros. E se assim for, será camaleónica uma vez mais.

"Eu ando pelo mundo prestando atenção
em cores que eu não sei o nome
cores de Almodóvar
cores de Frida Kahlo, cores..."

Daqui a pouco lá estarei.

Sobrepoema

Por sobre a vida
por sobre a luz
por sobre a sombra
que a não traduz
por sobre o corpo
por sobre a voz
por sobre os restos
que somos nós
por sobre o tempo
por sobre o riso
por sobre o choro
se for preciso
por sobre o molde
da pele que visto
e sobretudo
por tudo isto

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sete anos

Um filho somos nós mesmos, um prolongamento do que somos e seremos, sem sermos o filho que temos.

O meu filho faz anos. O dia de hoje é todo para ele. Como escreveu Mia Couto, quando nasce um filho, nasce um pai também. Portanto, nascemos. Um para o outro. E sempre de mãos dadas.
Parabéns, Lourenço.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O pólen dos dias

Apanhavas do chão
o pólen dos dias
e era esse o tempo
nu e puro
em que a vida
era apenas
a certeza das coisas
que sabias

terça-feira, 1 de abril de 2008

LER

A revista Ler voltará a estar disponível fisicamente no próximo mês de Maio. Francisco José Viegas será o director. Mas enquanto isso não acontece, podemos sempre espreitar a recente oferta online da mesma revista. É só carregar aqui. E Ler...

Roam-se de inveja...



Adriana Calcanhotto vai dar um Concerto Exclusivo Fnac no Teatro São Luiz, para cerca de seiscentas pessoas, na próxima sexta-feira, dia 4 de Abril. Eu já tenho o meu bilhete e vou lá estar. E na primeira fila! Depois conto tudo, prometo.

Poema

Abrir Abril
sem agenda
por cumprir

Dizem que Abril
tem dias livres
tem cheiro de liberdade
nos dias que hão-de vir

E que as flores
vão invadir
o que somos
e o que nos faz existir

É este o cheiro de Abril?