sábado, 31 de dezembro de 2016
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
Top discos 2016
Já vem sendo tradição. Uma vez mais, e quase no fim de 2016, aqui fica o meu Top 10 do ano em termos musicais.
1) Sr. Chinarro - El Progreso
2) Elza Soares - Mulher do Fim do Mundo * (saído em 2015 no Brasil, mas em 2016 no resto do mundo)
3) David Bowie - Black Star
4) Love of Lesbian - El Poeta Haley
5) Benjamin Biolay - Palermo Hollywood
6) Lambchop - Flotus
7) Marconi Union - Ghost Stations
8) The Divine Comedy - Foreverland
9) Paul Simon - Stranger To Stranger
10) Let’s Eat Grandma - I, Gemini
sexta-feira, 23 de dezembro de 2016
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
A morte de um poeta é sempre um poema triste
Bela, bela
Mais que bela
Mas como era o nome dela?
Não era Helena, nem Vera
Nem Nara, nem Gabriela
Nem Tereza, nem Maria
Seu nome, seu nome era
Perdeu-se na carne fria
Perdeu-se na confusão
De tanta noite e tanto dia
Perdeu-se na profusão
Das coisas acontecidas
Constelações de alfabeto
Noites escritas a giz
Pastilhas de aniversário
Domingos de futebol
Enterros, corsos, comícios
Roleta, bilhar, baralho
Mudou de cara e cabelos
Mudou de olhos e riso
Mudou de casa e de tempo
Mas está comigo
Perdido comigo
Teu nome
Em alguma gaveta
Mais que bela
Mas como era o nome dela?
Não era Helena, nem Vera
Nem Nara, nem Gabriela
Nem Tereza, nem Maria
Seu nome, seu nome era
Perdeu-se na carne fria
Perdeu-se na confusão
De tanta noite e tanto dia
Perdeu-se na profusão
Das coisas acontecidas
Constelações de alfabeto
Noites escritas a giz
Pastilhas de aniversário
Domingos de futebol
Enterros, corsos, comícios
Roleta, bilhar, baralho
Mudou de cara e cabelos
Mudou de olhos e riso
Mudou de casa e de tempo
Mas está comigo
Perdido comigo
Teu nome
Em alguma gaveta
(poema de Ferreira Gullar, tão bem cantado por Milton Nascimento)
domingo, 4 de dezembro de 2016
terça-feira, 29 de novembro de 2016
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
terça-feira, 22 de novembro de 2016
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
Poema
Pior do que tudo
pior que as desgraças naturais
que varrem o mundo
com destruições
a qualquer preço
Pior do que tudo
pior que as mortes e horrores
sem endereço
pior do que a sede
e do que fome
é saber que
toda a saudade tem um nome
pior que as desgraças naturais
que varrem o mundo
com destruições
a qualquer preço
Pior do que tudo
pior que as mortes e horrores
sem endereço
pior do que a sede
e do que fome
é saber que
toda a saudade tem um nome
segunda-feira, 10 de outubro de 2016
Poema
a literatura
com tudo o que nela se mistura
não é uma coisa só
só é a vida pequena
esboço de alma serena
pedaço migalha pó
literatura é mais acima
lugar alto onde se avista
a vida que se imagina
com tudo o que nela se mistura
não é uma coisa só
só é a vida pequena
esboço de alma serena
pedaço migalha pó
literatura é mais acima
lugar alto onde se avista
a vida que se imagina
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
Poema
Apenas livros
livros mais do que tudo
livros em sinal de comunhão
Ao darmos livros
damos também a mão
o gesto a palavra o coração
livros mais do que tudo
livros em sinal de comunhão
Ao darmos livros
damos também a mão
o gesto a palavra o coração
quarta-feira, 14 de setembro de 2016
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
sábado, 13 de agosto de 2016
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
Poema
As línguas misturam-se em agosto
enquanto o sol
brilha na demência
de ser rei
As mágoas dissolvem-se também
neste mês
sem ponta da rancor
ou acidez
Por isso
é por aqui que ficarei
enquanto o sol
brilha na demência
de ser rei
As mágoas dissolvem-se também
neste mês
sem ponta da rancor
ou acidez
Por isso
é por aqui que ficarei
terça-feira, 2 de agosto de 2016
terça-feira, 19 de julho de 2016
sexta-feira, 8 de julho de 2016
domingo, 26 de junho de 2016
quinta-feira, 16 de junho de 2016
segunda-feira, 30 de maio de 2016
segunda-feira, 16 de maio de 2016
sexta-feira, 13 de maio de 2016
Love of Lesbian - El Poeta Halley (2016)
“si las palabras se atraen que se unan entre ellas y a brillar”
A música que se faz aqui ao lado, na vizinha Espanha, está cada vez mais presente no Altamont. Por aqui já passaram Antonio Luque e o seu projeto Sr. Chinarro (mais do que uma vez, até), Migala, e chegou hoje o momento de dar-vos conta de uma banda catalã (quase) totalmente desconhecida por terras lusas, o que é uma pena. Já com vários anos de carreira e glória recente, os Love Of Lesbian apresentam-se no topo da sua forma com este El Poeta Halley, fresquíssimo trabalho de longa duração que começa a marcar pontos logo pelo objeto físico (duplo vinil ou cd-livro), mesmo antes de ouvirmos o que nos traz dentro. E o que nele podemos escutar é um disco denso, complexo, pouco amigo de escutas apressadas, mas que mesmo num primeiro contacto nos prende através de algo difícil de explicar. As melodias, as canções nada radio-friendly (poucas são as que têm os três minutos e meio da praxe, havendo-as com seis, sete, e mesmo quase dez minutos), as letras crípticas deste disco, tudo parece não ajudar ao agrado final, mas o engano é redondo: El Poeta Halley é, para mim, a primeira grande surpresa deste ano! Tenho-o ouvido em repeat, num constante loop que me foi ajudando a perceber melhor o que o álbum tem para oferecer. Poderemos estar na presença, salvo o eventual exagero que nunca será grande, do primeiro disco indie literário da história da música.
O trabalho que aqui vos trazemos encerra algumas temáticas. A infância, por exemplo, eterno retorno dos adultos que tentam fugir à sentença do tempo, é um dos pilares maiores desta obra conceptual. É nesse farrapo de memória que se funda a grande viagem que El Poeta Halley propõe realizar. Temos sonhos, fantasmas, drogas, temos musas inspiradoras, uma extensa narrativa envolta em música. E temos, sobretudo, um objeto sonoro que dá que fazer, que nos desassossega, que exige uma entrega paciente por parte de quem o coloca a rodar.
El Poeta Halley vem de longe e conta-nos uma história: “¿Qué os puedo contar de la leyenda del aire / el indomable e inolvidable Halley Star? / Fue mi gran invención / pero no ha vuelto más a buscarme / adivinando antes que yo mi deserción”. É assim que o disco se inicia, de forma tranquila, para ir, aos poucos, ganhando uma forte pulsação de guitarras. A voz forte de Santi Balmes guia-nos por todo o disco, espécie de referência e ponto seguro que vamos seguindo enquanto conta e canta as aventuras de Halley Star. E assim, vamos por “Bajo El Volcán”, single de avanço do álbum, planeando “En Busca Del Mago” e por “Océanos de Sed”, “Psiconautas” estranhos no espaço musical e sideral que os Love Of Lesbian promovem com total mestria e segurança. Por entre as treze canções do disco há (como dizer de outra maneira?) um fogo lento, um lume brando que confere união a todo o álbum. E há também, obviamente, grandes e insinuantes canções como “Planeador”, a já referida “Bajo El Volcán”, “Los Males Pasajeros” (que delícia ouvir o verso “Todo eso se irá, huirá, fluirá, caerá, se irá” delicadamente cantado por Santi Balmes), a bela “En Busca Del Mago”, a tranquila “Canción de Bruma”, até que, na reta final do disco, surge “El Poeta Halley” com Joan Manuel Serrat recitando, na segunda metade da canção, o poema “Epílogo”. É assim que termina este último trabalho dos Love Of Lesbian, quatro anos depois do duplo La noche eterna. Los días no vividos.
Para além das canções que aqui podemos ouvir, algumas dúvidas foram ganhando forma na minha cabeça: como compreender este El Poeta Halley? O que quer ele dizer, de tão denso de significações metafóricas e simbólicas? Talvez não seja boa a pressa de respostas mais óbvias, mas este artigo tem de ter um fim, e por isso não me parece absurdo definir o disco como um momento de grande introspeção poética, uma viagem ao interior do ser inventivo, tão divisível que se reparte por sonhos de personagens que são, ao mesmo tempo, o corpo do seu próprio criador. Como se a surpresa da descoberta do que fomos fosse agora mais do que um mero resíduo, um lastro tímido que se recuperou até ser de novo voz. El Poeta Halley representa, assim, um espaço onde a palavra (e a música, claro) ocupa o centro da criação. E, nesse sentido, a palavra é, ao mesmo tempo, a ordem que desencadeia a desordem dos encontros inesperados, e a força motriz que unifica todo o processo de criação.
* texto de minha autoria saído no site Altamont - Music For The Music Generation
sábado, 7 de maio de 2016
quarta-feira, 4 de maio de 2016
Os dias felizes! (una llamada a la acción)
Sr. Chinarro (Antonio Luque) e eu.
(Hotel Petit Palace, Calle del Arenal, Madrid, 29 de abril)
(com Jaime Beltrán, dos Pájaro Jack)
segunda-feira, 25 de abril de 2016
quinta-feira, 21 de abril de 2016
Refrão para uma canção futura
Tenho o coração partido
que não para de doer
mas serei um bom marido
para quem gosta de sofrer
sábado, 16 de abril de 2016
sábado, 9 de abril de 2016
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Poema
Adília e eu
temos o mesmo apelido
mas nos géneros
nada nos emparelha
Ela bebe capilé
eu sempre bebi groselha
sexta-feira, 1 de abril de 2016
quinta-feira, 24 de março de 2016
O Herói Discreto
Depois de me ter rendido ao livro A Civilização do Espetáculo (leitura recentemente terminada), ando agora fascinado por este O Herói Discreto. Na verdade, Mario Vargas Llosa é um velho e bom amigo com quem não convivia há já algum tempo. Com novo romance já publicado, embora ainda não entre nós, Mario Vargas Llosa continua a ser um dos meus romancistas de eleição. O Herói Discreto apenas me avivou, de novo, essa íntima certeza.
sexta-feira, 18 de março de 2016
Instruções de voo
Prenda um cordel
a uma palavra
e atire-a para longe
(se não voar
alguém voará
por si)
a uma palavra
e atire-a para longe
(se não voar
alguém voará
por si)
quarta-feira, 9 de março de 2016
segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Um imenso adeus
«Do mundo, nós dizemos que as leis da gravidade universal são as enunciadas por Newton, ou que é verdade que Napoleão morreu em Santa Helena a 5 de maio de 1821. E todavia, se tivermos um espírito aberto, estaremos sempre dispostos a rever as nossas convicções, no dia em que a ciência enunciar uma reformulação diferente das grandes leis cósmicas, ou um historiador descobrir documentos inéditos que provem que Napoleão morreu num navio bonapartista quando tentava a fuga. Em contrapartida, em relação ao mundo dos livros, proposições como Sherlock Holmes era solteiro, a Capuchinho Vermelho foi devorada pelo lobo mas depois libertou-a o caçador, Anna Karénina mata-se, permanecerão eternamente verdadeiras e nunca poderão ser refutadas por ninguém. Há pessoas que negam que Jesus fosse filho de Deus, outras que inclusivamente põem em causa a sua existência histórica, outras que afirmam que é o Caminho, a Verdade e a Vida, outras ainda que consideram que o Messias ainda está para vir e nós, seja como for que pensemos, tratamos com respeito estas opiniões. Mas ninguém tratará com respeito quem afirmar que Hamlet se casou com Ofélia ou que o Super-Homem não é Clark Kent.»
Sobre a Literatura, Umberto Eco.
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
Poema
Chegou para ficar
a notícia da tua morte
Que má sorte o dia
em que o sol fingiu nascer
Pudera eu ficar contigo
e a manhã não se faria
Assim tão negra
e tão vazia
Fazendo-me duvidar se eras tu
ou era eu que aí morria
a notícia da tua morte
Que má sorte o dia
em que o sol fingiu nascer
Pudera eu ficar contigo
e a manhã não se faria
Assim tão negra
e tão vazia
Fazendo-me duvidar se eras tu
ou era eu que aí morria
terça-feira, 26 de janeiro de 2016
sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
(I Am Still Touched by Your) Presence, Bowie.
Capa da revista Uncut de março próximo.
Mais um tributo ao génio.
* o título deste post recorda uma conhecida canção dos Blondie, um dos poucos ídolos vivos da minha juventude.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Je Suis Bowie
Caiu o pano sobre a vida de David Bowie. O mundo terá
estremecido, sem que déssemos conta de que qualquer coisa estranha se passava.
Devia estar a dormir, seguramente, mas quero acreditar que uma bonita melodia
atravessou a minha noite, fazendo solto o sono que me embalou.
Depois, já desperto para mais um dia, recebi a terrível
notícia... Era o tal estremecimento
que falava há pouco. Chegou tarde, da mesma forma como eu próprio cheguei a
Bowie, algo tardiamente. É que passei algum tempo a ouvir coisas que só existiram porque Bowie existiu, e não dei conta disso
durante um largo período, desperdiçando horas e horas e horas a ouvir
sucedâneos, em vez de dar valor ao original. Coisas da juventude, de que ainda
hoje me penetencio.
Passei a manhã a dar aulas, e reservei os primeiros minutos
de cada uma para falar de David Bowie. Disse aos meus alunos que eu, que tanto
gosto de ser professor de Português e que não me vejo a ensinar qualquer outra
matéria, gostaria de ser hoje, e apenas hoje, professor de Inglês. Se assim
fosse, passaria as minhas aulas a falar do homem que inventou Ziggy Stardust,
Threepenny Pierrot, The Thin White Duke e tantas outras marcantes personagens
que soube encenar em toda a sua vida. A encenação, o teatro, a vida artificial,
mesmo que coincidente com a verdadeira, foram o palco estético e musical de
Bowie. Foi aí, nesse limbo entre o que existe e o que queremos que exista, que
David Bowie soube viver, e viveu uma vida cheia, com toda a certeza. Eu
continuarei a viver a minha parca vida, agora sem ele, mas sempre com ele
também. Passaremos os dois, como neste preciso momento, a ouvir o que nos
deixou, lado a lado. Umas vezes em silêncio, pensativo, outras de forma mais
enérgica, quase rebel rebel. Nunca mais
me atreverei a deixá-lo longe de mim por muito tempo. Até porque já tenho idade
suficiente para perceber que a eternidade é uma mentira, sobretudo para alguns. Para
Bowie, ao contrário, a eternidade não
terá fim.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2016
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
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