quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Top discos 2016

Já vem sendo tradição. Uma vez mais, e quase no fim de 2016, aqui fica o meu Top 10 do ano em termos musicais.





  • 1) Sr. Chinarro - El Progreso
  • 2) Elza Soares - Mulher do Fim do Mundo * (saído em 2015 no Brasil, mas em 2016 no resto do mundo)
  • 3) David Bowie - Black Star
  • 4) Love of Lesbian - El Poeta Haley
  • 5) Benjamin Biolay - Palermo Hollywood
  • 6) Lambchop - Flotus
  • 7) Marconi Union - Ghost Stations
  • 8) The Divine Comedy - Foreverland
  • 9) Paul Simon - Stranger To Stranger
  • 10) Let’s Eat Grandma - I, Gemini
  • segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

    A morte de um poeta é sempre um poema triste


    Bela, bela
    Mais que bela
    Mas como era o nome dela?
    Não era Helena, nem Vera
    Nem Nara, nem Gabriela
    Nem Tereza, nem Maria
    Seu nome, seu nome era
    Perdeu-se na carne fria
    Perdeu-se na confusão
    De tanta noite e tanto dia
    Perdeu-se na profusão
    Das coisas acontecidas
    Constelações de alfabeto
    Noites escritas a giz
    Pastilhas de aniversário
    Domingos de futebol
    Enterros, corsos, comícios
    Roleta, bilhar, baralho
    Mudou de cara e cabelos
    Mudou de olhos e riso
    Mudou de casa e de tempo
    Mas está comigo
    Perdido comigo
    Teu nome
    Em alguma gaveta

    (poema de Ferreira Gullar, tão bem cantado por Milton Nascimento)

    terça-feira, 29 de novembro de 2016

    terça-feira, 22 de novembro de 2016

    segunda-feira, 7 de novembro de 2016

    segunda-feira, 17 de outubro de 2016

    Poema

    Pior do que tudo
    pior que as desgraças naturais
    que varrem o mundo
    com destruições
    a qualquer preço

    Pior do que tudo
    pior que as mortes e horrores
    sem endereço
    pior do que a sede
    e do que fome
    é saber que
    toda a saudade tem um nome

    segunda-feira, 10 de outubro de 2016

    Poema

    a literatura
    com tudo o que nela se mistura
    não é uma coisa só

    só é a vida pequena
    esboço de alma serena
    pedaço migalha pó

    literatura é mais acima
    lugar alto onde se avista
    a vida que se imagina

    quinta-feira, 6 de outubro de 2016

    Poema

    Apenas livros
    livros mais do que tudo
    livros em sinal de comunhão

    Ao darmos livros
    damos também a mão
    o gesto a palavra o coração

    quarta-feira, 14 de setembro de 2016

    Caetano e eu


    Depois de 35 anos de espera, aconteceu!
    (um retrato a branco e preto para alegrar o meu coração)

    quarta-feira, 10 de agosto de 2016

    Poema

    As línguas misturam-se em agosto
    enquanto o sol
    brilha na demência
    de ser rei

    As mágoas dissolvem-se também
    neste mês
    sem ponta da rancor
    ou acidez

    Por isso
    é por aqui que ficarei

    domingo, 26 de junho de 2016

    segunda-feira, 30 de maio de 2016

    sexta-feira, 13 de maio de 2016

    Love of Lesbian - El Poeta Halley (2016)

    “si las palabras se atraen que se unan entre ellas y a brillar”
    A música que se faz aqui ao lado, na vizinha Espanha, está cada vez mais presente no Altamont. Por aqui já passaram Antonio Luque e o seu projeto Sr. Chinarro (mais do que uma vez, até), Migala, e chegou hoje o momento de dar-vos conta de uma banda catalã (quase) totalmente desconhecida por terras lusas, o que é uma pena. Já com vários anos de carreira e glória recente, os Love Of Lesbian apresentam-se no topo da sua forma com este El Poeta Halley, fresquíssimo trabalho de longa duração que começa a marcar pontos logo pelo objeto físico (duplo vinil ou cd-livro), mesmo antes de ouvirmos o que nos traz dentro. E o que nele podemos escutar é um disco denso, complexo, pouco amigo de escutas apressadas, mas que mesmo num primeiro contacto nos prende através de algo difícil de explicar. As melodias, as canções nada radio-friendly (poucas são as que têm os três minutos e meio da praxe, havendo-as com seis, sete, e mesmo quase dez minutos), as letras crípticas deste disco, tudo parece não ajudar ao agrado final, mas o engano é redondo: El Poeta Halley é, para mim, a primeira grande surpresa deste ano! Tenho-o ouvido em repeat, num constante loop que me foi ajudando a perceber melhor o que o álbum tem para oferecer. Poderemos estar na presença, salvo o eventual exagero que nunca será grande, do primeiro disco indie literário da história da música.
    O trabalho que aqui vos trazemos encerra algumas temáticas. A infância, por exemplo, eterno retorno dos adultos que tentam fugir à sentença do tempo, é um dos pilares maiores desta obra conceptual. É nesse farrapo de memória que se funda a grande viagem que El Poeta Halley propõe realizar. Temos sonhos, fantasmas, drogas, temos musas inspiradoras, uma extensa narrativa envolta em música. E temos, sobretudo, um objeto sonoro que dá que fazer, que nos desassossega, que exige uma entrega paciente por parte de quem o coloca a rodar.
    El Poeta Halley vem de longe e conta-nos uma história: “¿Qué os puedo contar de la leyenda del aire / el indomable e inolvidable Halley Star? / Fue mi gran invención / pero no ha vuelto más a buscarme / adivinando antes que yo mi deserción”. É assim que o disco se inicia, de forma tranquila, para ir, aos poucos, ganhando uma forte pulsação de guitarras. A voz forte de Santi Balmes guia-nos por todo o disco, espécie de referência e ponto seguro que vamos seguindo enquanto conta e canta as aventuras de Halley Star. E assim, vamos por “Bajo El Volcán”, single de avanço do álbum, planeando “En Busca Del Mago” e por “Océanos de Sed”, “Psiconautas” estranhos no espaço musical e sideral que os Love Of Lesbian promovem com total mestria e segurança. Por entre as treze canções do disco há (como dizer de outra maneira?) um fogo lento, um lume brando que confere união a todo o álbum. E há também, obviamente, grandes e insinuantes canções como “Planeador”, a já referida “Bajo El Volcán”, “Los Males Pasajeros” (que delícia ouvir o verso “Todo eso se irá, huirá, fluirá, caerá, se irá” delicadamente cantado por Santi Balmes), a bela “En Busca Del Mago”, a tranquila “Canción de Bruma”, até que, na reta final do disco, surge “El Poeta Halley” com Joan Manuel Serrat recitando, na segunda metade da canção, o poema “Epílogo”. É assim que termina este último trabalho dos Love Of Lesbian, quatro anos depois do duplo La noche eterna. Los días no vividos.
    Para além das canções que aqui podemos ouvir, algumas dúvidas foram ganhando forma na minha cabeça: como compreender este El Poeta Halley? O que quer ele dizer, de tão denso de significações metafóricas e simbólicas? Talvez não seja boa a pressa de respostas mais óbvias, mas este artigo tem de ter um fim, e por isso não me parece absurdo definir o disco como um momento de grande introspeção poética, uma viagem ao interior do ser inventivo, tão divisível que se reparte por sonhos de personagens que são, ao mesmo tempo, o corpo do seu próprio criador. Como se a surpresa da descoberta do que fomos fosse agora mais do que um mero resíduo, um lastro tímido que se recuperou até ser de novo voz. El Poeta Halley representa, assim, um espaço onde a palavra (e a música, claro) ocupa o centro da criação. E, nesse sentido, a palavra é, ao mesmo tempo, a ordem que desencadeia a desordem dos encontros inesperados, e a força motriz que unifica todo o processo de criação.
    * texto de minha autoria saído no site Altamont - Music For The Music Generation

    quarta-feira, 4 de maio de 2016

    Os dias felizes! (una llamada a la acción)


    Sr. Chinarro (Antonio Luque) e eu.
    (Hotel Petit Palace, Calle del Arenal, Madrid, 29 de abril)


    (com Jaime Beltrán, dos Pájaro Jack)

    quinta-feira, 21 de abril de 2016

    Refrão para uma canção futura

    Tenho o coração partido
    que não para de doer

    mas serei um bom marido
    para quem gosta de sofrer

    sábado, 9 de abril de 2016

    Poema

    As palavras
    os versos
    os poemas
    feitos à mão

    Resta-me apenas
    refazer
    o coração

    segunda-feira, 4 de abril de 2016

    Poema


    Adília e eu
    temos o mesmo apelido
    mas nos géneros
    nada nos emparelha

    Ela bebe capilé
    eu sempre bebi groselha


    sexta-feira, 1 de abril de 2016

    quinta-feira, 24 de março de 2016

    O Herói Discreto


    Depois de me ter rendido ao livro A Civilização do Espetáculo (leitura recentemente terminada), ando agora fascinado por este O Herói Discreto. Na verdade, Mario Vargas Llosa é um velho e bom amigo com quem não convivia há já algum tempo. Com novo romance já publicado, embora ainda não entre nós, Mario Vargas Llosa continua a ser um dos meus romancistas de eleição. O Herói Discreto apenas me avivou, de novo, essa íntima certeza.

    sexta-feira, 18 de março de 2016

    Instruções de voo

    Prenda um cordel
    a uma palavra
    e atire-a para longe

    (se não voar
    alguém voará
    por si)

    quarta-feira, 9 de março de 2016

    quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

    Um imenso adeus


    «Do mundo, nós dizemos que as leis da gravidade universal são as enunciadas por Newton, ou que é verdade que Napoleão morreu em Santa Helena a 5 de maio de 1821. E todavia, se tivermos um espírito aberto, estaremos sempre dispostos a rever as nossas convicções, no dia em que a ciência enunciar uma reformulação diferente das grandes leis cósmicas, ou um historiador descobrir documentos inéditos que provem que Napoleão morreu num navio bonapartista quando tentava a fuga. Em contrapartida, em relação ao mundo dos livros, proposições como Sherlock Holmes era solteiro, a Capuchinho Vermelho foi devorada pelo lobo mas depois libertou-a o caçador, Anna Karénina mata-se, permanecerão eternamente verdadeiras e nunca poderão ser refutadas por ninguém. Há pessoas que negam que Jesus fosse filho de Deus, outras que inclusivamente põem em causa a sua existência histórica, outras que afirmam que é o Caminho, a Verdade e a Vida, outras ainda que consideram que o Messias ainda está para vir e nós, seja como for que pensemos, tratamos com respeito estas opiniões. Mas ninguém tratará com respeito quem afirmar que Hamlet se casou com Ofélia ou que o Super-Homem não é Clark Kent.» 
    Sobre a Literatura, Umberto Eco.

    sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

    Poema

    Chegou para ficar
    a notícia da tua morte

    Que má sorte o dia
    em que o sol fingiu nascer

    Pudera eu ficar contigo
    e a manhã não se faria

    Assim tão negra
    e tão vazia

    Fazendo-me duvidar se eras tu
    ou era eu que aí morria

    sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

    (I Am Still Touched by Your) Presence, Bowie.


    Capa da revista Uncut de março próximo. 
    Mais um tributo ao génio.

    * o título deste post recorda uma conhecida canção dos Blondie, um dos poucos ídolos vivos da minha juventude.

    segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

    Je Suis Bowie


    Caiu o pano sobre a vida de David Bowie. O mundo terá estremecido, sem que déssemos conta de que qualquer coisa estranha se passava. Devia estar a dormir, seguramente, mas quero acreditar que uma bonita melodia atravessou a minha noite, fazendo solto o sono que me embalou.
    Depois, já desperto para mais um dia, recebi a terrível notícia... Era o tal estremecimento que falava há pouco. Chegou tarde, da mesma forma como eu próprio cheguei a Bowie, algo tardiamente. É que passei algum tempo a ouvir coisas que só existiram porque Bowie existiu, e não dei conta disso durante um largo período, desperdiçando horas e horas e horas a ouvir sucedâneos, em vez de dar valor ao original. Coisas da juventude, de que ainda hoje me penetencio.

    Passei a manhã a dar aulas, e reservei os primeiros minutos de cada uma para falar de David Bowie. Disse aos meus alunos que eu, que tanto gosto de ser professor de Português e que não me vejo a ensinar qualquer outra matéria, gostaria de ser hoje, e apenas hoje, professor de Inglês. Se assim fosse, passaria as minhas aulas a falar do homem que inventou Ziggy Stardust, Threepenny Pierrot, The Thin White Duke e tantas outras marcantes personagens que soube encenar em toda a sua vida. A encenação, o teatro, a vida artificial, mesmo que coincidente com a verdadeira, foram o palco estético e musical de Bowie. Foi aí, nesse limbo entre o que existe e o que queremos que exista, que David Bowie soube viver, e viveu uma vida cheia, com toda a certeza. Eu continuarei a viver a minha parca vida, agora sem ele, mas sempre com ele também. Passaremos os dois, como neste preciso momento, a ouvir o que nos deixou, lado a lado. Umas vezes em silêncio, pensativo, outras de forma mais enérgica, quase rebel rebel. Nunca mais me atreverei a deixá-lo longe de mim por muito tempo. Até porque já tenho idade suficiente para perceber que a eternidade é uma mentira, sobretudo para alguns. Para Bowie, ao contrário, a eternidade não terá fim.

    sexta-feira, 8 de janeiro de 2016