segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Poema

Os meus poemas
fazem-se de dúzia e meia
de palavras
sempre iguais

E só os olhos virgens de quem lê
os torna outros
(mesmo que os mesmos)
legíveis e originais

domingo, 29 de janeiro de 2012

Prazer

Será o prazer de quem faz, equivalente ao prazer de quem ouve?
(a propósito de Vespertine, de Bjork)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Laranja ácida

Revi há dias, e pela enésima vez, A Clockwork Orange, de Stanley Kubrick. Desde há muito que convivo com a obra (o livro de Burgess) e com o filme, este bem mais tardiamente. Li o livro ainda bastante jovem, e a surpresa foi total: o espanto da violência desmesurada, da atitude perversa e inquieta, do instinto sexual em ebulição, da acidez da linguagem utilizada. Fico sempre admirado com a violência da música de Beethoven, quando contextualizada, evidentemente. E por fim, uma última nota: o rosto perturbador de Alex (Malcolm Mcdowell) que não me sai da cabeça há já alguns dias...

* na imagem, uma belíssima recriação da cena inicial, em Lego

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Poema

Como se fosse da terra antes de ser
bicho carunchoso ainda em pé

Fazer-te um verso pode parecer
(a muitos olhos) ser aquilo que não é


terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Poema

A noite fez-se para dormir
mas é preciso estar desperto
para melhor a entender

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Poema

Não admira
que o sol nasça
radiante todos os dias:

descansa sempre bem
durante a noite

domingo, 22 de janeiro de 2012

Naquela noite

Um somatório de pequenas luzes, de pequenos pontos que nos guiam. Uns maiores, outros mais reduzidos, quase suspiros, suspensos na noite que acontece. Aconteceu lembrar-me de ti naquela noite, quando olhava o céu. Mas não te vi, não estavas lá, nem nunca mais soube o que te aconteceu.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Antonio Meliveo

Depois da referência ao filme, deixo-vos agora a banda sonora. Não conhecia Antonio Meliveo, mas já tomei nota do seu nome. Minimalismo quanto baste, sussuros de diálogos do filme, ambientes musicais enternecedores, envolventes. Hipnotizantes linhas de piano que se repetem ao longo das 35 (!) faixas do disco. Vive por si mesma, esta banda sonora, e dizer-se isso é sempre um enorme elogio.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

El Camino de Los Ingleses



El Camino de Los Ingleses é um filme de 2006, e que apenas entrou na minha vida em 2012. Esses 6 anos de espera (todo o tempo é uma espera, mesmo não se tendo consciência disso) foram compensados agora, que o vi 3 vezes quase seguidas. Na capa da edição espanhola (não há edição portuguesa, para variar) pode ler-se Hay un camino que te puede llevar a cualquier parte. Na contracapa há uma outra que diz Pero soñar es fácil y vivir difícil. Entre uma e outra frases, há um grande filme a não perder!

(capa do dvd)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

"O senhor ainda é jovem, parece ter..."

Ando a ler Tchékhov. Ando a ler Tchékhov aos 44 anos! Tenho a cabeça povoada de vozes que soam a gaivotas, vozes familiares, parentes de vidas que não são minhas, mas que o são tremendamente. Ler a vida destes outros é existir em outros que nem gente são. Ah, a literatura, sempre vitoriosa e magnânima!

* o título deste post é um excerto de um diálogo entre Elena Andréevna e Ástrov, retirado de O Tio Vânia.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Poema

Nada sobra
que não guarde
(como se guarda
um fim de tarde)
no lugar do coração

Nada guardo do que sobra
porque a sobra é ilusão

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A voz está de volta

David Sylvian: uma nova coletânea, em cd duplo, a 29 de fevereiro. O senhor David Sylvian anda a abusar nas compilações, e eu não me importo nada com isso!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Poema

O Guardador de Rebanhos
é uma obra sem corantes
nem conservantes

nela se observa (claro)
aquilo que a escrita diz
desenhando imagens

no papel em tudo iguais
a árvores rios e montes
e outros seres tão irreais

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

As Esganadas

A minha amiga Sassá trouxe-me do Brasil o último romance de Jô Soares, e já está lido. Leitura, por sinal, feita em delírio, porque As Esganadas é uma romance delirante. Sem ser uma obra prima, vale bem a pena a leitura do quarto romance de Jô Soares. Só para vos deixar água na boca (e quem leu o livro encontrará no sublinhado anterior uma deliciosa ironia), digo-vos apenas que uma das personagens principais é "o Esteves", do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos. Pelas páginas de As Esganadas passam, para além d' "o Esteves sem metafísica", o próprio Fernando Pessoa, o cineasta Manoel de Oliveira, e muita doçaria portuguesa!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

As quatro estações

O Senhor Stein percebeu a chegada do inverno, quando viu partir os pássaros da sua rua. Começaram a partir rumo a um destino melhor, era outono ainda. Se tivesse asas, o Senhor Stein faria o mesmo. Mas não tem, e resolve o seu problema com mais uma ou outra peça de roupa e algumas chávenas bem quentes de tisanas. O Senhor Stein não gosta do frio dos dias que correm, mas gosta das pequenas doses de verão com que se conforta. Para hoje, lá mais para o fim da tarde, o Senhor Stein tem em mente fazer uma infusão de jasmins e orquídeas para degustar, antecipadamente, o sabor da primavera.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

I have a train to catch!

Volto, vezes sem conta, aos meus adorados Kraftwerk! Numa altura em que a Europa não enfrenta um futuro radiante, e desunida como está, sabe bem ouvir Trans Europe Express, essa odisseia sonora que celebra, no significado simbólico do disco, a união da Europa através da junção, por via férrea, de mais de 130 cidades do velho continente. O disco é de março de 1977, e revela, no tempo presente, uma atualidade tanto melódica, quanto política. Quem não conhece o disco (mas haverá alguém?), pode nele encontrar uma obra de inspiração clássica, embora moldada aos sons modernos e revolucionários dos sintetizadores, um trabalho melódico estudado ao milímetro, linhas sonoras minimalistas, uma obra prima do século XX. Para terminar, aqui vos deixo as capas que Trans Europe Express foi tendo até aos dias de hoje. Boa audição!





(a capa original da edição alemã)








(a capa mais popular de Trans Europe Express)








( a capa da versão remasterizada, de 2009,

na qual se inclui a faixa Abzug)



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Separate twins (Anatomy of a Murder & Hey Wimpus, The Early Recordings of Paul Chastain & Ric Menck)

(Duke Ellington, Anatomy of a Murder)

Finalmente, terminando estes posts a propósito da capa de Anatomy of a Murder, uma última artwork surge, obviamente influenciada pelo disco de Ellington. Não conheço este Hey Wimpus (1998), de Paul Chastain e Ric Menck. Da pouca investigação que fiz, registei poucas ideias. Apesar de ser um disco bem acima da média (a insuspeita All Music assim o designa), a verdade é que não vingou. Faço-lhe aqui, portanto, a justiça de lembrar a bonita capa que ostenta, e pouco mais.

(Paul Chastain & Ric Menck, Hey Wimpus - The Early Recordings of Paul Chastain & Ric Menck)

domingo, 8 de janeiro de 2012

Refrão para uma canção por existir

Não contes com uma revolução
no meu peito
não estou do jeito
necessário para qualquer agitação

Do pouco que há cá dentro
eu já não lhe tenho mão

sábado, 7 de janeiro de 2012

Separate twins (Anatomy of a Murder & Clockers, Horns Up!, e Anatomy)


Ainda sobre a icónica capa de Anatomy of a Murder: no post de hoje surgem mais 3 art covers de discos que revelam bem a origem das mesmas. Spike Lee, na banda sonora do seu filme Clockers, usa uma semelhante "vítima", parodiando-a através da utilização de um cap de pala à banda, aproximando a imagem original da do universo dos drug dealers de Brooklyn.
Tappa Zukie, no seu Horns Up!, mistura reggae, jazz e dub e apresenta-nos uma art cover que imediatamente nos faz lembrar o disco de Ellington. Finalmente, Anatomy, de Stan Ridgway que brinca com capa e título, num disco que traça 12 retratos (12 faixas) do subconsciente humano. Enfim, a arte atualiza-se, transformando o midas touch original...


(Clockers ost, de 1995)


(Tappa Zukie, Horns Up, de 2009)


(Stan Ridgway, Anatomy, de 1999)


sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Separate twins (Anatomy of a Murder & Working For The Man / Donkeys 92-97)


Tendo como ideia a capa da banda sonora de Anatomy of a Murder, os Tindersticks lançaram duas coletâneas versando a imagem original do disco de Duke Ellington. Em Working For The Man as cores são próximas das do disco de 1959, embora um pouco mais esbatidas, o mesmo não acontecendo com a capa de Donkeys 92-97, onde as cores de origem são substituídas pelo verde e pelo azul.
(Working For The Man, coletânea de 2004)

(Donkeys 92-97, coletânea de 1998)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Poema

Soluçam as palavras
destes versos
e chove infernalmente
ao redor delas

Serão mais belas
as palavras sob a chuva
ou sob o sol
como quimeras

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Separate twins (Anatomy of a Murder & My Flame Burns Blue)

O disco de Duke Ellington data de 1959, e o de Elvis Costello surgiu em 2006. Quase 50 anos separam ambos os discos. O primeiro é uma banda sonora de um filme de Otto Preminger, o segundo um disco ao vivo. Para além das óbvias semelhanças das capas, ambos os discos habitam o território do jazz, e são magníficos os dois. Curioso é ainda o facto de Anatomy of a Murder (capa original da banda sonora de Duke Ellington) ter já sido alvo de várias homenagens, ao longo dos anos. O exemplo da capa do trabalho de Elvis Costello é apenas o primeiro de uma série de posts sobre essas homenagens.

(Duke Ellington, Anatomy of a Murder)

(Elvis Costello, My Flame Burns Blue)