quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Poema

As palavras
dizem tão pouco
do que somos

E por isso
é no silêncio
que nos encontramos

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Poema

É quase o fim
o depois aterrador dos dias
sem que nada venha
ou aconteça

É o fim solar
da palavra
por mais clara que apareça

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Lazer Guided Melodies

Lazer Guided Melodies é um disco perfeito. Sim, bem sei que a perfeição é coisa que não existe, mas em todas as regras há excepções. Este é um trabalho excepcional. O primeiro LP dos Spiritualized veio ao mundo em 1992 e ficou como um marco sónico da carreira de Jason Pierce. É hipnótico, verdadeiramente hipnótico. Psicadélico, delicadamente psicadélico. Quando ouvido em silêncio e de uma ponta a outra, Lazer Guided Melodies deixa-nos em transe. Por isso este é um disco tão precioso. You know it's true, Shine a light, Step into the breeze, 200 bars, bem como todas as outras canções do álbum, têm efeito terapêutico. E para que se atinja o objectivo pretendido - a tranquilidade absoluta -, deve ser "ingerido" em dosagem única, e repetida de quando em quando. Ao longo dos anos, ao longo da vida. Para sempre.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Play It Loud: Best Of 2008

Estes 10 discos acompanharam-me no ano que está quase a terminar. Mais do que todos os outros que ouvi. Por isso, o meu best of de 2008 mostra-se assim:

* Beck - Modern Guilt

* Bon Iver - For Emma, Forever Ago

* Fleet Foxes - Fleet Foxes

* Fujiya & Miyagi - Lightbulbs

* Joan As Police Woman - To Survive

* Julian Cope - Black Sheep

* Little Joy - Little Joy

* Marcelo Camelo - Sou

* Nick Cave - Dig!!! Lazarus Dig!!!

* Spiritualized - Songs in A&E

(a ordenação é alfabética, apenas isso . clicando nos títulos dos discos podem visualizar as capas)

Estes foram para mim os 10 melhores discos do ano. Alguns outros poderiam ter entrado nesta lista. Assim sendo, bubbling under, aqui ficam mais alguns:

Billy Bragg - Mr. Love and Justice // Sigur Ros - Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust // Roberto Carlos e Caetano Veloso - E a Música de Tom Jobim // Sr. Chinarro - Ronroneando

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O dia depois

Hoje é dia de descanso. O Natal cansa!
Os excessos já não são para a minha idade...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Barrete


Curiosidade: alguém vai enfiar o barrete
mais logo
à noite?

A todos um Bom Natal
A todos um Bom Natal
Que seja um Bom Natal, para todos vós
Que seja um Bom Natal, para todos vós

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Poema

na folha de papel

sentir o vazio
do branco a preencher

escrever o teu nome
ou o nome que não tens

desenhar as letras na ponta
dos dedos que me escrevem

eu preciso ler-me assim
no cheiro carmim da pele

e virar o pó dos dias
sem que me esqueça de mim

ou o que sou
por entre vírgulas

na folha de papel

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Insomnia


Para as noites de olhos bem abertos...
As nossas noites podem ser mais belas do que os vossos dias!

domingo, 21 de dezembro de 2008

Fleet Foxes

Chamam-se Fleet Foxes e são absolutamente imperdíveis. A canção é White Winter Hymnal.


White Winter Hymnal from Grandchildren on Vimeo.

É tudo belo. A música, as imagens, as palavras. Perfeito.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Roberto, Caetano e eu (que não apareço na capa...)

Apetece cantar até perder a voz. Apetece mesmo. Por cá ainda não se encontra à venda. É pena, com o Natal aí mesmo a chegar. Mas aqui por casa a coisa é bem diferente. Roberto Carlos, Caetano Veloso e eu somos o trio do momento!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Amiga Alba e Delgada

Para mim, Emílio Cao é a voz da Galiza. Uma voz sóbria, doce, terna. Músico com pouca projecção fora do seu próprio país, Emílio Cao gravou na década de 90 um álbum belíssimo, intitulado Amiga Alba e Delgada. Lembro-me bem de o ouvir vezes sem conta, em repeat, maravilhado com as canções, que ao mesmo tempo me pareciam frescas e delicadas, mas também carregadas com o peso do tempo da cultura que as produziu. O disco chegou-me aos ouvidos através do meu amigo Jorge (esta é só mais uma das muitas coisas boas da minha vida que te devo, compadre), sempre atento ao que de bom os sons do mundo vão produzindo e sempre generoso na partilha das suas descobertas. Voltei nestes últimos dias ao convívio de Amiga Alba e Delgada e não tenho dúvidas em afirmar que passou muito bem no teste sempre difícil da passagem do tempo. Talvez porque as coisas verdadeiramente belas depuram as suas qualidades com o passar dos anos... Por isso, esta obra de museu abre os seus sons aos visitantes de passagem.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Freaky-weird-hippies with beards (A.K.A. Little Joy)

A banda do outro Hermano. Apreciem...



* este blog tem dado destaque aos Little Joy porque é deles um dos meus discos do ano de 2008. Dia 27 publicarei aqui o Best Of pessoal.

** a canção chama-se No One's Better Sake

Era

Era o caminho de volta, as costas dadas ao passado. Era o desencanto dos passos, a curvatura do corpo, o peso da coluna dos dias. Era o assombro do tempo passado em vão. Era a falta de vontade de rumar em frente, na esperança de outros lugares e de outra gente. Era, por fim, a certeza do caminho, da estrada aberta às correntezas do destino.

* esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Camelo é bom

"Pode ser até do corpo se entregar mais tarde
Parece simples mas a gente às vezes é..."


Marcelo Camelo from Peixe Grande on Vimeo.

* faixa Mais Tarde
** a canção começa aos 00:26

Palavras que se perdem

Quantas palavras se perdem no virar das páginas, sem que nos apercebamos disso?

*esta imagem foi retirada do blog http://digital-pixels.blogspot.com/

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Informação - Ai, Música

A partir de hoje começarei a usar dois servidores de música neste blog: o já habitual imeem e o novo goear. O goear não fornece música disponível em autoplay, pelo que é necessário clicar no símbolo play (na zona Ai, Música deste blog) para a ouvir. Garanto que vai sempre valer a pena.

Nada

Ao longe, tudo parecia calmo. Estávamos ali, perdidos em conversas molhadas e água nos pés. Distante, cada vez mais distante, o horizonte desenhava-se a carvão e névoa. Era o último momento. A desilusão. Os corpos mal se tocavam nos gestos que faziam. (Partir pode ser tão duro. A dor pode ser tão próxima.) E, mesmo assim, soltámos as últimas frases do dia como se nada fosse acontecer. E nada aconteceu. Foi mesmo assim: nada.

*esta imagem foi retirada do blog http://digital-pixels.blogspot.com/

domingo, 14 de dezembro de 2008

Special Edition


E que tal uma prenda de Natal antes da data?
Eu já tive essa sorte, graças ao mundo maravilhoso da net.
Ladies and Gentlemen, The Smiths - 7'' Singles Box

Poema

Põe uma flor à janela
um cheiro bom
no teu pescoço
põe a saia justa
que se ajusta à pele
a cada manhã
põe um sorriso
e o cabelo apanhado
se achares que é preciso
como se fosses bailarina
põe esse olhar atrevido
de menina
inconstante e destemida
que usas quando cai o dia
põe o roupão solto
sem cinto
para os meus olhos te seguirem
nos passos que dás por casa
põe em brasa essa lareira
que o frio da noite pede
e por ser noite
põe um ar terno
um ar digno dos deuses
e dos sábios
e depois
ao fim de tudo
põe os teus lábios
nos meus lábios

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O som dos dias frios

Nada melhor do que um disco dos Spiritualized
a faiscar a alma fria destes dias...

* refiro-me a Lazer Guided Melodies, um dos próximos discos a entrar no Museu dos Melhores Discos do Séc. XX

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Poema

Sem que se saiba
sem que se note
acabará sempre por ser noite
nos corredores desta casa

Sem que se ouça
ou se perceba
ouviremos sempre o crepitar
da nossa lareira em brasa

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

As Duas Inglesas e o Continente

Estamos no início do século XX. Em Paris, um jovem francês conhece uma rapariga inglesa e tornam-se amigos. A convite desta, o jovem Claude vai passar uma temporada ao País de Gales, onde Anne vive com a mãe e com a irmã, Muriel. Anne pretende que Claude venha a ser o homem da vida de Muriel... Estão lançados os dados para As Duas Inglesas e o Continente (França, 1971), filme de François Truffaut.
Considerado um filme falhado por alguma da crítica da época, Les Deux Anglaises et le Continent é um momento atípico na obra de Truffaut. Truffaut gostou muito do filme, mas a verdade é que o sucesso comercial não correspondeu às expectativas. Foi muito mal recebido em Paris. Escreveu-se, à data do lançamento da obra, que Claude Roc (Jean-Pierre Léaud) não se soube desligar dos tiques e trejeitos de Antoine Doinel, personagem recorrente dos filmes de Truffaut e uma espécie de alter ego do próprio realizador. Não concordo. Jean-Pierre Léaud é soberbo na forma como interpreta a personagem. Como também é Kika Markham (Anne Brown) e Stacey Tendeter (Muriel Brown). Filme de época, As Duas Inglesas e o Continente tem um colorido muito próprio, soturno, sombrio, reflexo dos sentimentos que se vão debatendo no triângulo amoroso do enredo. A banda sonora de Georges DeLerue é comovente, perfeita, ideal para os dias chuvosos e cinzentos desse tempo.
Sobre o filme, Truffaut afirmou que "em vez de fazer um filme sobre o amor físico, tentei fazer um filme físico sobre o amor." E conseguiu, na minha opinião. Romanticamente exagerado, As Duas Inglesas e o Continente marca uma mudança na filmografia de François Truffaut. E, como sabemos, mudar é sempre um risco...

domingo, 7 de dezembro de 2008

Um escritor de afectos

Faleceu hoje, com 81 anos, António Alçada Baptista. Foi uma das vozes masculinas da literatura portuguesa que mais amou as mulheres. Sentia-se isso em muitas das suas obras e o próprio autor nunca o negou. Amava-as e acreditava que o mundo seria melhor se o seu comando lhes pertencesse.
Acho que tinha razão... Li algumas das suas obras com um enorme prazer: Os Nós e os Laços (1985), Catarina ou o Sabor da Maçã (1988), Tia Susana, Meu Amor (1989) ou ainda O Riso de Deus (1994).
Que descanse em paz...

Un Chien Andalou

Só recentemente, há poucos dias atrás, vi pela primeira vez Un Chien Andalou, o célebre filme de Buñuel e Dalí. Mais vale tarde do que nunca, é bem verdade! Devo começar por dizer, antes de mais, que o visionamento dessa curta metragem (pouco mais de 17 minutos) foi uma quase decepção . Filmado ainda na segunda década do século XX, Un Chien Andalou mais não é do que surrealismo desmedido, sonho delirante, projecção de fantasias. Na verdade, tudo me pareceu muito primário, embora em certos momentos (como na conhecidíssima cena em que um homem corta, à navalha, o olho a mulher) se consiga perceber um certo encanto. Convém não esquecermos que estamos perante uma obra histórica da história do cinema. Segundo consta, no dia da primeira projecção do filme, Buñuel e Dalí tiveram de fugir apressadamente do cinema para não serem agredidos por uma pequena multidão de espectadores enfurecidos. É, sem dúvida, um filme vanguardista, à frente do seu tempo, e isso é sempre algo positivo. Assim, feitas as contas, ver Un Chien Andalou não foi tempo perdido.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Little Joy

Agora que caminhamos a passos largos para o fim de 2008, está quase na altura de fazer a lista de melhores discos do ano. Aqui fica um cheirinho de Little Joy.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Uma outra linguagem

Tenho andado atento e fascinado com as expressões que aparecem na "Verificação de Palavras" de certos blogs, quando neles deixamos comentários. Sabem a que me refiro? A isto.
Na verdade, aquilo que começou por me irritar, achando que era tempo perdido, é cada vez mais algo que me atrai. Talvez pelo imprevisto da expressão que aparece para ser digitada, talvez porque as expressões me obriguem a lê-las utilizando pronuncias variadas (às vezes em inglês, outras em francês, outras em espanhol, italiano, outras ainda numa língua nórdica qualquer que desconheço...), pelo tipo de letra e colorido que também vai mudando...
Ao longo desta última semana fui fazendo um best of dessas expressões. Deixo-vos aqui algumas à consideração. E depois não digam que não encontram verdadeiras pérolas fonéticas! Basta estarem atentos:

Zaterone, Proveat, Fornon, Sportgod, Futgagoo, Treclia, Hippen, Romalist, Bunchii, Unfier, Relyset, Datimel, Putoi, Scala, Sagois, Readroom, Ruiness, Unkid...

* não se esqueçam de escolher sempre a pronúncia mais adequada. Há autênticas maravilhas, não há? Sim, algumas parecem nomes de medicamentos, eu sei.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Liberdade

Hoje vou com os pássaros
cortar o céu
furar as nuvens
até morder o sol

Assim fosse a vida à nossa frente:
uma linha que passasse
a ponta curva do anzol

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Palette

Vivia em gestos rápidos, como se dançasse uma valsa interminável. Vivia a vida com o que sobrava dos minutos entre conversas, risos, olhares tímidos. Pintava telas. Desenhava arcos no céu que abrigava o meu futuro. As cores que usava, roubava-as a uma qualquer palette que nunca vi. Dizia sempre o mesmo: que nada no mundo nos pertence, porque se assim não fosse, éramos todos uns dos outros... e ela não era de ninguém. Do que me lembro, tinha uma casa, uma casa com jardim, e um corpo que me habitava quando os dias eram longos, tão longos que pareciam não ter fim.

* esta foto foi tirada pela minha amiga Ana Sofia Victor

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Vida quieta

Sempre quieta. Parecia ter encontrado um canto da vida onde ficar. Passou a vida assim, à espera que a descobrissem, mostrando o pouco que tinha para dar: um corpo, uma cara indistinta, frágil mas capaz de silenciar os sentidos de quem a procurava. Deu-se muito, sem nunca se dar. Permanecia assim, no canto dos quartos, entre lençóis brancos por lavar.


* esta imagem foi retirada do blog http://bocadosdetudo.blogspot.com/