quarta-feira, 31 de março de 2010

Poema

O espinho da rosa
nem sempre fere o agressor

Ninguém entende
as delicadezas do amor

terça-feira, 30 de março de 2010

Aterrar

Depois de andar no ar, aterrar para voltar à normalidade. Hamburgo e Berlim durante uma semana com os meus queridos alunos do 10ºC... Fui aluno de novo, só que disfarçado de professor!

segunda-feira, 29 de março de 2010

Poema

É uma coisa séria
isto de ter entre mãos
as mãos dos outros

Pudéramos todos
sem mãos sérias entre mãos
sermos vãos nas mãos dos outros

domingo, 28 de março de 2010

Drowning By Numbers


Algum dia tinha de ser! Decidir escrever estas breves linhas sobre Drowning By Numbers, de Peter Greenaway, não é coisa fácil. Trata-se de um filme quase surrealista, preso ao típico imaginário do realizador inglês. Sempre gostei de vários filmes de Greenaway, mas Drowning By Numbers é quem leva a melhor. Porquê? Pelo estranho enredo (avó, mãe e filha vão afogando os seus maridos por razões de somenos, sem sentirem remorsos significativos, e amparadas por um médico legista que ama as três senhoras Colpitts), pelos invulgares jogos cujas regras vão sendo referidas ao longo de todo o filme, pela grandiosa música que o percorre (de Michael Nyman, é claro), e pela particularidade (quase viciante, aviso já) de tentar encontrar as referências numéricas que vão passando no ecrã e que vão de 1 a 100, quer em imagens, quer nos diálogos que vão acontecendo entre as personagens. Em Portugal não há (nem houve) dvd do filme, por isso torna-se imprescindível ir buscá-lo aos sites internacionais do costume, embora também lá por fora seja difícil encontrá-lo, sobretudo a um preço razoável. Mas as grandes obras não têm preço, e Drowning By Numbers pertence a esse patamar.

* à esquerda, na imagem, a belíssima Joely Richardson, acompanhada por Juliet Stevenson numa cena do filme.
** afinal, e felizmente, já existe edição portuguesa de Drowning By Numbers (desde 23 de maio de 2011)

sábado, 27 de março de 2010

A procura é um caminho

Em tantas páginas
que folheias
haverá um trilho
que te leva
ao fim da história

Mas isto de ser corpo
e de ser alma
é uma coisa tão inglória...


sexta-feira, 26 de março de 2010

Poema

E é uma sorte
haver vida
no meio de tanta morte
que nos vai nas veias
e que a seu tempo
infectará o que de são
ainda havia

Sorte talvez seja apenas
uma forma de dizer
que viver é esperar tudo
menos a hora de morrer


quinta-feira, 25 de março de 2010

Depois

Depois, depois deu-se por finda a festa e os corpos permaneceram intactos, sem respirarem uma outra vontade que não a de permanecerem assim, em silenciosa dependência. Ele não sabia nada da vida porque ela era a sua vida, e ter a vida ao lado, ao dispor de um qualquer capricho, é coisa que ninguém acredita ser possível. Mas depois mudou o vento, e lá fora agitou-se o ar em reboliço. Depois veio outro tempo, o tempo de um outro compromisso.

* a imagem deste post é um frame do filme La Collectionneuse, de Eric Rohmer

terça-feira, 23 de março de 2010

Poema

Que cegueira é essa
que não entendo se acontece
só quando a palavra oscila
só quando o corpo estremece

Que filamento se quebra
ou se gasta até parecer
ser só um leve suspiro
que o corpo não quer ouvir

Que vontade não se afirma
sem que outra vontade ainda
nos lembre a dor de existir
ou o desplante de amar

segunda-feira, 22 de março de 2010

Poema

Não quero mais as palavras que me dão
o silêncio das que uso
e ninguém ouve
são mais doces
mais macias

As outras
são pó dos anos
a ser mimado por tias
e por filhos de outros pais

Palavras que não se vendem
são as que tenho para dar

Das outras
das que mais rendem
dessas já não quero mais

domingo, 21 de março de 2010

Poema

Caberá ao tempo
um último suspiro
ou um qualquer
sopro de sol

Afasto-me agora
do tempo que já passou

Por sobre a hora me deito
para lá da hora ainda sou

sábado, 20 de março de 2010

Poema

Já só me falta
o corpo estendido
entre estrelas ou poeira
tanto faz

Um último gesto
rumo ao infinito
de não ser
mais do que isto

Um corpo exangue
túmulo de voz
sem qualquer gota
de sangue

sexta-feira, 19 de março de 2010

Jazz time!


Um tributo de Dave Brubeck e Paul Desmond a Audrey Hepburn
Audrey, do álbum Brubeck Time

* Paul Desmond era uma fã incondicional da belíssima actriz

quinta-feira, 18 de março de 2010

Poema infantil

O meu coração é teu
(bate por ti e isso chega)

Não exijas mais de mim
porque de mim nem sou eu

quarta-feira, 17 de março de 2010

segunda-feira, 15 de março de 2010

Haverá tempo?

Haverá tempo para as carícias que a pele não comporta?

*fotograma do filme Prénom Carmen, de J.L. Godard

domingo, 14 de março de 2010

Poema

Pondero a letra
a margem que a faz crescer
o brilho nem sempre claro
que a produz

Pondero a palavra
quando nem ainda se insinua
a palavra na origem
palavra nua
de roupagens
e sentidos

Pondero o verso e o poema
de imponderáveis vestígios

sábado, 13 de março de 2010

Poema

Quando o corpo se abre
não é o corpo que se abre

Assim como quando nasce o dia
Não é o dia que nasce

Talvez um dia o corpo
consiga explicar o que acontece

Quando o corpo se abre
no momento em que o dia nasce

sexta-feira, 12 de março de 2010

Poema

Por entre as tuas sombras
vou conduzindo a escassa luz
que trago nas mãos
ou nas palavras
se acaso as ouvires
neste murmúrio

Eu nunca acreditei num sol que tudo queimasse
sem que se iluminasse o futuro

quinta-feira, 11 de março de 2010

Station To Station

Escolher um disco de David Bowie para constar neste meu particular Museu, não foi tarefa fácil. Mas também não foi hercúlea, visto que, a meu ver, só um outro disco mereceu forte ponderação. Não quero com isto dizer (longe disso, longe disso) que apenas dois discos de Bowie são, para mim, excelentes discos. Até aos anos 80, quase todos são soberbos, aliás. Mas tinha de escolher aquele de que mais gosto, embora ao longo dos tempos a minha opinião não tenha sido sempre a mesma. No entanto, julgo agora e em definitivo, que o melhor disco de David Bowie é Station To Station.
O disco foi lançado em 1976 e era o décimo da sua carreira. Continha apenas 6 faixas, distribuídas irmãmente pelos dois lados do vinil. Na continuação da sua vertente camaleónica, Station To Station trazia um novo "character": The Thin White Duke! Foi descrito como um "mad aristocrat", "an amoral zombie". Bowie estava num período em que vivia de pimentos vermelhos, leite e cocaína. Nunca a droga o consumira tanto. Foi, segundo o próprio Bowie, o pior momento da sua vida, e no entanto, musicalmente, Station To Station é um álbum fascinante. Tem, por exemplo, Word On A Wing, a canção de Bowie que mais gosto. Mas também podemos ouvir Stay, Wild Is The Wind, Golden Years, a assombrosa faixa título, o disco todo, enfim!
Na recepção crítica do disco, muitos foram os que referiram a sua pose de supremo ariano, descortinando em Bowie uma suposta vertente nazista. Ainda está presente na cabeça de muita gente o cumprimento hitleriano que Bowie terá usado quando saudou aqueles que o aguardavam em Londres, naquele que ficou conhecido como o Victoria Station incident, embora Bowie sempre tivesse negado a saudação, afirmando que a fotografia que lhe foi tirada o apanhou a meio do gesto. Não é por estas razões que escolho Station To Station, obviamente. Escolho-o porque é um manifesto musical repleto de ideias novas, juntando uma pitada de soul ao novo som que algumas bandas alemãs teimavam em mostrar ao mundo (como Neu!, CAN ou Kraftwerk, por exemplo). Sente-se em Station To Station um delicioso fascínio pela música electrónica, pela batida motorik, por um desenho sonoro ainda não experimentado pelo músico inglês. É, sem dúvida, um disco de transição. Depois de Station To Station, veio a famosa trilogia de Berlim, comandada por Brian Eno. Mas para mim, Station To Station é um trabalho ainda superior a Low, Heroes ou Lodger.
E cá está ele, para futuras visitas. É só preciso que tire o bilhete para viajar de Station To Station!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Poema


A forma como te deitas
espalhando o corpo a teu jeito

O modo como me aceitas
no aconchego do peito

São os versos que mais quero
és o poema perfeito

terça-feira, 9 de março de 2010

Tati em animação


Quero urgentemente ver este filme: "O Ilusionista", de Sylvain Chomet. O argumento é de Jacques Tati, num projecto nunca filmado e já com 54 anos de existência. Não tenho dúvidas que será para mim um dos filmes deste ano.


segunda-feira, 8 de março de 2010

Poema

Quando te despires
espalha a roupa pelo chão

Não há nada melhor
do que saber que a tua pele

Espera por mim
um passo à frente

sábado, 6 de março de 2010

Poema

Quando desapareceres
estarás a sós contigo
uma espécie de ser
por dentro
escondido
no que sempre foi a tua casa:

um coração a arder em brasa

sexta-feira, 5 de março de 2010

Desafio

Esta é a capa do novo disco de um músico muito referido e adorado pelo autor deste blog. Alguém consegue adivinhar? Oferecem-se recompensas ;-)

quinta-feira, 4 de março de 2010

Poema

Ando cada vez mais parecido
com o que sempre fui

E é triste caminhar assim
sem deixar rasto

quarta-feira, 3 de março de 2010

Eu (post sem efeito)

O post aqui presente desde os primeiros minutos do dia de hoje foi retirado devido a problemas técnicos, daí que hoje não haja nenhum post, a não ser este "não post". Amanhã tudo voltará à normalidade!

terça-feira, 2 de março de 2010

Poema

As linhas da pele / as linhas do corpo

o rosto que conheço / e o peito que adivinho

são os versos de um poema / para ler devagarinho

* as imagens deste post são frames do filme La Collectionneuse, de Eric Rohmer. A actriz é a belíssima Haydée Politoff.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Poema

Deixa as palavras
para aqueles que amam

São mais sábias do que tu
as palavras dos amantes

Só quando ditas assim
nesses íntimos instantes

As palavras se revelam
no sentido mais gritante

Do que dizem no momento
e do que não disseram antes