domingo, 31 de janeiro de 2010

A crise da meia idade, agora cantada

Tenho para mim que não sou apreciador de musicais. Mas a verdade é que fui ver Nine e gostei. É, aliás, mais um para adicionar à lista de filmes desse género: adorei Hair, achei graça a Moulin Rouge, perdi-me de amores por Sweeney Todd, fiquei rendido a Les Chansons D'Amour e a lista não acaba aqui! De modo que a minha afirmação inicial deve ser entendida com algumas reservas. Fui ver Nine por causa de Otto e Mezzo, de Fellini. O filme do mestre italiano é um dos filmes da minha vida, e talvez por isso tenha gostado de Nine. As colagens ao filme de 1963 são mais que muitas, e óbvias. Para mim, esses são os melhores momentos de Nine, como os momentos da infância de Guido, por exemplo. Mas também as canções são extraordinárias, confesso. Daniel Day-Lewis é um actor superlativo, e as actrizes soberbas nos seus desempenhos. Principalmente Marion Cotillard, bela e contida no seu sofrimento. Depois há Penélope Cruz, Nicole Kidman e Sophia Loren! Como não gostar de um elenco assim?! Como não gostar de Nine quando a minha alma, ao ver o filme, sente Otto e Mezzo a cada passo?!

*este post vai custar-me algumas piadas por parte de vários amigos, eu sei...

sábado, 30 de janeiro de 2010

J. D. Salinger

Morreu, há três dias, o autor de The Catcher In The Rye. Escritor criterioso, com uma obra literária curtíssima, foi amado por várias gerações, muito por culpa do livro referido no início destas linhas. Também eu o li, e também eu lhe estou agradecido pela lição que me deu.

* em torno de The Catcher In The Rye há alguns episódios tristemente curiosos: Mark Chapman trazia-o no bolso quando assassinou John Lennon, afirmando que a sua leitura o inspirou na concretização do terrível assassinato. Mais: o homem que tentou assassinar Ronald Reagan (em 1981), afirmou exactamente o mesmo. E, para terminar, a personagem interpretada por Mel Gibson no filme Teoria da Conspiração, tem a obsessão de comprar diariamente o livro de Salinger, acabando por ser apanhado por causa disso. Curiosidades...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Edição Especial!

O número da Blitz que estará hoje à venda é para guardar! O novo século ainda agora começou,
mas já tem muito para contar!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mary and Max

Vi, há poucos dias, o filme de animação intitulado Mary and Max, a história improvável de uma amizade construída tendo por base a correspondência entre um adulto e uma criança. Mary é australiana, uma menina vítima de uma família que a deixa desamparada no seu próprio mundo, sem amigos nem nada que a faça feliz. Max, por seu lado, é um adulto americano (de Nova Iorque), na casa dos 40, que não tem amigos, sofre de perturbações mentais e é obeso, tal a sua dependência em relação a chocolates e prazeres afins.
O que dizer do filme de Adam Elliot? Pouco, muito pouco, a não ser que o que vi foi absolutamente excepcional! Depois de Coraline e Up, Mary and Max (também de 2009) é, talvez, o melhor dos três. Adorei Coraline, o mesmo digo de Up, embora um pouco menos, mas este filme é de um outro nível, e tem um outro alcance. Narrativo, com poucos diálogos, mas carregado de momentos duros, difíceis, de uma tristeza rara que nos faz pensar no mundo que temos e naquilo que somos. Verdadeiramente imprescindível!

* o filme é baseado numa história verídica

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Blondie is back!

Os meus adorados Blondie vão ter novo disco de originais no primeiro semestre deste ano! Que boas notícias! Para já, o tema We Three Kings (uma tradicional Christmas song, aqui em formato roqueiro) foi lançado como prenda natalícia para os fãs da banda!



Actual line up da banda, da esquerda para a direita:
Chris Stein, Matt Katz-Bohen, Paul Carbonara,
Clem Burke, Leigh Foxx e Debbie Harry

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sevilha Andando (V)

O Jazz na terra do Flamenco! Comprei este primeiro número da colecção Vinilos Míticos del Jazz (Planeta DeAgostini) num quiosque mesmo à saída do hotel. Que bela surpresa! O Kind of Blue (180 gramas), de Miles Davis, estava ali mesmo à minha espera. Era o último, e não vi mais nenhum nos outros quiosques de Sevilha. Será que com esta nova febre do vinil a colecção chegará a Portugal? Resta esperar e pensar que sim!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Poema

Houve um tempo
em que as minhas mãos
eram outras
mãos pequenas de criança
mãos pequenas de menino

Houve um tempo
em que essas mãos
não eram mãos apenas:
eram promessas
de destino

* Sevilha, 16/1/2010

domingo, 24 de janeiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

Poema


Mesmo assim
nos rodeios deste tempo
a vida permanece igual:

"um voo cego a nada"

Pobre de mim
que nunca me imagino
sem a vida terminada

* o verso em itálico e entre aspas pertence ao poema Eu Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia, do grande Reinaldo Ferreira

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sevilha Andando (III)

A Plaza de España, mesmo em obras profundas, é de cortar a respiração. Nela sente-se o peso da história, o peso da nação. À frente, o Parque Maria Luisa, também em remodelação de passeios e caminhos, não documentado pela imagem deste post. Este ponto da cidade de Sevilha está a preparar-se para ser ainda mais bonito. Há grandes cartazes pedindo desculpa pelo incómodo das obras. Por mim, não me incomodei e estou até agradecido pelo bom acolhimento.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Sevilha Andando (II)

O anoitecer tem o seu encanto próprio. Quando a noite começou a mostrar-se, mesmo que timidamente, Sevilha tornou-se outra, escondendo algumas marcas da idade. Uma cidade sabe mostrar-se, quando é inteligente. Mas também sabe seguir quem a visita, sempre atenta, iluminando-se, segura de si. La Giralda aparecia a cada esquina de Santa Cruz. E nós, caminhantes pelos caminhos da cidade, soubemos saudá-la sempre que íamos ao seu encontro.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Poema

As gotas de orvalho
na superfície da terra:

saliva do corpo da noite que findou

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sevilha Andando (I)

Entrámos em Espanha a ouvir Fox In The Snow, dos Belle & Sebastian! Entrada feliz, portanto. Depois, algumas dezenas de quilómetros depois, Sevilla estava à nossa espera. Elegante, de traje de gala, esplendorosa como certas cidades sabem ser. As pessoas na rua, caminhantes. E nós também, na ânsia de estarmos em todos os lugares onde nos sentíssemos em casa. Sevilla pareceu-me caseira, acolhedora, uma cidade feminina. Talvez por isso gostei tanto dela.

* o título deste post (e dos seguintes que farei a propósito da minha ida a Sevilha) é uma homenagem ao meu poeta brasileiro preferido, amante de Sevilha, e que publicou em 1990 um pequeno livro de poemas intitulado justamente, Sevilha Andando. Refiro-me a João Cabral de Melo Neto.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Um Amor de Perdição - a música

"O Simão era o meu irmão preferido. Era muito bonito, e não tinha medo de nada. Eu tinha 12 anos. Ele era o único lá em casa que me tratava como uma pessoa crescida. O outro, o Manuel, era um sonso, sempre agarrado às saias da Mãe. Naquele tempo, eu nem sequer acreditava que ele fosse meu irmão a sério. O meu irmão, de certeza absoluta, era o Simão. Se não fosse, era com ele que eu casava."

* depois do filme, a banda sonora: tudo igualmente belo!

sábado, 16 de janeiro de 2010

Poema

Um risco no papel
um traço feito
sem jeito
e sem rigor

Também a vida
é um só risco
um traço lento
no desalento
de se decompor

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sevilha














Hoje, lá mais para o princípio da manhã, vou até Sevilha: dois dias no conforto quente da Andaluzia. Vou acompanhado, para que nenhum de nós dance sozinho!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um Amor de Perdição

Um Amor de Perdição é um filme de Mário Barreiros. Um Amor de Perdição é um filme (vagamente) inspirado na obra de Camilo. Um Amor de Perdição é o filme que Portugal propõe a candidato ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, da edição deste ano. E, entre muitas outras coisas, Um Amor de Perdição é um filme lindíssimo! Nunca morri de amores pelo cinema português, tirando meia dúzia de obras como Kilas, o Mau da Fita, O Sangue, Ossos, e vários do César Monteiro. A verdade é que me perdi de amores por este Um Amor de Perdição e não há nada a fazer. Há apenas um lamento, que deixo aqui em forma de confidência: o filme conta com uma curtíssima participação de Ana Moreira, e embora isso faça qualquer um perder-se de amores por esta obra, queria uma maior presença da actriz mais bonita do cinema português! Ou será que não concordam?

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Éric Rohmer

Morreu, no passado dia 11, o cineasta Éric Rohmer. Por isso, este post deve ser entendido como um pequena homenagem a um grande cineasta. Os seus filmes são inteligentes, sensíveis, exigentes. Talvez sejam essas as virtudes que mais me agradam na sua obra. Já aqui, neste blog, tinha feito um post utilizando imagens de Rohmer, referindo-me às praias dos filmes franceses. Um dos primeiros filmes que vi da sua extensa cinematografia foi Pauline à La Plage. Evoco-o hoje em memória desse momento marcante da minha vida de espectador assíduo de cinema francês.

Paz à sua alma!

* este filme pertence à série Comédias e Provérbios.


terça-feira, 12 de janeiro de 2010

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Poema

Um ano
é sempre um tempo
incompleto
um somatório inacabado
de sombras e ilusões
que não se cumprem

Para quando
um ano autêntico
um ano tempo de sementes
que floresçam
sem lugar?

domingo, 10 de janeiro de 2010

Le Souffle au Coeur


Gosto de Louis Malle! Talvez não tanto como Godard ou Truffaut, mas mesmo assim o bastante para constar no podium dos meus realizadores franceses favoritos. Neste último Natal comprei a segunda caixa da Colecção Louis Malle, e deliciei-me com o seu conteúdo. Principalmente com Le Souffle au Coeur (Sopro no Coração), filme de 1971, um dos últimos da sua fase francesa. Aliás, a sua fase mais interessante, na minha modesta opinião. Da fase seguinte, a americana, apenas Pretty Baby me enche as medidas! Mas voltemos a Sopro no Coração... O filme gerou polémica devido à temática do incesto entre mãe e filho, deliciosamente interpretados pela belíssima Lea Massari e por Benoît Ferreux. Uma família endinheirada de Dijon vive o seu dia-a-dia de forma algo caótica. O pai, ginecologista, pouco tempo tem disponível para a vida familiar. A mãe mais parece irmã dos seus filhos, para além de ter um amante, do qual se livra antes do final do filme. Os irmãos de Laurent Chevalier (o protagonista, a quem é detectado um sopro no coração) apenas se interessam em gozar os prazeres da carne. E assim se vive, até mãe e filho terem de ir para uma clínica de tratamento por causa da saúde de Laurent! Para além de um brilhante enredo, o filme torna-se superlativo pelas excelentes interpretações, pelos diálogos, pela banda sonora (o jazz sempre foi um dos grandes prazeres de Malle), pela atmosfera de época que consegue criar! Uma obra-prima! A não perder!

sábado, 9 de janeiro de 2010

Poema

O homem vive
no nevoeiro dos dias que passam
para que não se veja
o que a névoa esconde

É sempre maior a cegueira
quando só a cegueira
nos confunde

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Poema

Quando o amanhã chegar
já não te lembrarás da espera

É essa a quimera do tempo


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Poema

os poetas
não se enganam
no que dizem

porque nada dizem
os poetas

apenas te fazem dizer
aquilo em que acreditas

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

As mãos


As mãos
são almas gémeas
separadas

As mãos
procuram mãos
para serem mãos
entrelaçadas

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

B Fachada


É bom dizer que raramente me detenho com os músicos e as bandas cá da terra. Por isso, e à cautela, só agora me resolvi a escrever um post sobre o fenómeno B Fachada. Oriundo do grupo de músicos da editora FlorCaveira (que apresenta outros nomes interessantes, como Samuel Úria e João Coração, por exemplo), B Fachada deu-nos um disco bem português, onde as influências da canção popular são evidentes (Fausto, Vitorino, Zeca Afonso, etc..., bem como alguns tons de voz à Rui Reininho), mas que tem o desplante de ser inovador, tanto nas letras das canções, como na abordagem seriamente despreocupada que parece ser imagem de marca de B Fachada. Vale a pena acreditar que há algo de novo a nascer em Portugal, musicalmente falando. Vale a pena ouvir com atenção o romantismo em tons disformes e inusitados de toda esta nova geração que se quer afirmar no difícil mundo da música competente e promissora. É certo que por vezes ainda sentimos um natural tique amadorístico e ingénuo nos discos de B Fachada (o outro a que me refiro dá pelo nome de Um Fim de Semana no Ponei Dourado), mas para além de achar graça ao facto, a verdade é que estou rendido ao som que aqui proponho. E a versos como estes, por exemplo:

“tenta lembrar-te dos carinhos que te dei se fores capaz/ e não me troques por beijinhos de rapaz ” ou ainda “é bom ter má fama,/ dá para ter vazia a cama”.

* é impressão minha ou há muito de Emilio Cao em algumas das canções deste disco?

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Poema

Sou cada vez mais
a entrelinha
o desvio sinuoso
o assunto que ficou
pendente
e por acabar
uma imprecisão fatal
um lapso sem consciência
aresta por limitar
qualquer coisa inacabada
sombra frágil
e avessa
de um todo por terminar

domingo, 3 de janeiro de 2010

Poema

Agora é só escolher:

entre as palavras
espalhadas sobre a mesa
muitas há
que não consigo entender

Se escolher é isto
eu prefiro obedecer

Poema

É tão fácil
ceder à tristeza
deste fim de tarde

Tão fácil
molhar-me na chuva
que inquieta a alma
sem o mais pequeno alarde

É tão fácil
suspender a vida
quando tudo arde...

sábado, 2 de janeiro de 2010

Poema

Podia agora
fazer um verso
com destino ao infinito
um verso forte
granito
coisa de pedra e marfim
que tivesse nas palavras
mais que aquilo que dissesse
que fosse além do seu fim

Mas isto de fazer versos
não é para mim
não é para mim