quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Para lá e para cá

O Senhor Stein acaba de rasgar do calendário a página de janeiro. Já passou. Faltam mais onze meses para ser janeiro, e para que, passados mais trinta e um dias desse instante, possa repetir o gesto de há pouco, uma vez mais. Fevereiro ainda não chegou, mas está por horas. O Senhor Stein olha o relógio de pulso, e sorri. Sabe a mentira dessa verdade. É assim que o Senhor Stein se sente bem. Controla o tempo e percorre-o, distanciando-se do presente. Viaja nele, para lá e para cá, voltando sempre ao ponto de partida. Ou de chegada, ou de percurso, já nem sabe bem. Na verdade, o tempo não habita no seu pulso, e o Senhor Stein sabe-o bem.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Gostava de te ver por cá, Owen Ashworth!


Há dois anos atrás anunciava aqui uma nova paixão,



mas que agora mudou de nome, mantendo-se 
Owen Ashworth como peça única


desta fabulosa aventura sonora.
* e amanhã há Summer Music

sábado, 26 de janeiro de 2013

A luz daquele lugar


Ainda recordo a névoa do dia, e o sol do momento. Parece que sinto a brisa que movia o tempo e o coração. As nuvens, o sorriso preso ao rosto, os cabelos como pequenos pássaros alados que se agitavam com o seu olhar. Foi assim, já nem sei quando, nem por que razão me lembro agora desse instante. Talvez por ter olhado o céu neste dia em que não há sol, e queria tanto que houvesse... Seria outra vez assim, a luz daquele lugar: um rosto que aparecia vindo do nada, e que em nada se desfazia ao lhe tocar.

* na imagem está a minha amiga Teresinha Valadares, que foi fotografada pelo meu amigo e ex-aluno Tiago Correia. Obrigado a ambos.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Poema canção

Foi sem saber
foi sem pensar
que o poema se fez
unindo palavras
e sons
dizendo nomes
em surdina

Rosie
Cathy
Valerie
ou Beatriz

até habitarem
a essência do que são

nomes num poema
que recordam
a canção
que vou fazendo
fui fazendo
e nunca fiz

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

"Você precisa, você precisa, você precisa"


Baby é uma canção de outros tempos, e de todos os tempos também. Muitos e muitos já a cantaram, mas no essencial ela permanece imutável. Momento verdadeiramente pop de uma mpb tropicalista, Baby é também um monumento poético interessante e moderno. Mais ainda, Baby é um hino à urgência num tempo estagnado, uma ideia lúcida de um momento onde a premência em evoluir fazia que se enchessem os pulmões de ar, gritando-se "você precisa, você precisa, você precisa". Vivemos agora um outro (mas ainda e sempre o mesmo) tempo em que Baby volta a fazer absoluto sentido, agora deste lado do Atlântico. Sobretudo pela vontade de mudança, pelo desejo de recuperar o que se foi perdendo. Baby é uma canção para sempre, sem rosto e sem idade, ou com o rosto e a idade que temos agora. "Baby, baby, eu sei que é assim".

* Baby é uma canção de Caetano Veloso

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Intemporal (III)


''Eyes that tell me ''baby, you don't need no invitation"
Let me smoke another cigarette before I make a move''

* versos da canção No Imagination, de Plastic Letters

domingo, 20 de janeiro de 2013

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Cinzas da memória

Perde-se sempre mais um pouco
na procura ou no encontro

e há uma parte que quebra
ou que fica onde passamos

e que nos deixa distantes
do que fomos entretanto

Alguém lembrará um dia
num distante fim de tarde

a memória arrefecida
de um fogo que já não arde

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Intemporal (I)

Só eu ouço perfeitamente a tua voz há mais de 30 anos!

* este post é o primeiro de uma curta série, e sobretudo uma homenagem aos Blondie e a Debbie Harry.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O tempo não pára


Mais daqui a pouco, e por essas ruas, seremos dois anónimos com uma história de mais de vinte anos.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Poema

a leitura é um prazer lento
que se pega aos olhos
e às mãos
como se nada mais
tivesse interesse
para além da página
em que vais

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Bowie fez 66 anos e deu-me uma prenda

Parecia um impossibilidade, mas a verdade é que David Bowie está de regresso! Para já, temos apenas o single Where Are We Now?, mas ainda em 2013 teremos a festa completa com The Next Day. Há 10 anos que Bowie nada gravava, e corria insistentemente a ideia de que nunca mais veríamos prova alguma do seu génio. Afinal, e felizmente, era tudo mentira. Where Are We Now? é uma interessante canção que remete para Berlim (e todos sabemos da importância da cidade para Bowie), fazendo lembrar Thursday's Child, do disco 'hours...', de 1999.



* David Bowie fez 66 anos no passado dia 8.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O prazer como coisa (também) tátil (II)

Este foi um disco que me surpreendeu bastante. Não conhecia sequer a banda quando Dracula Is Only The Beginning me chegou aos ouvidos, e foi paixão à primeira audição. Os Coolrunnings fazem música indie, excêntrica qb, boa para ouvir quando não queremos fazer outra coisa a não ser ouvir música, if you know what i mean... Entrou no meu top 10 dos discos de 2012, e sobreviverá a este e aos anos seguintes, estou certo disso. O prémio da melhor capa do ano transato ninguém lhe tira! Uma pequena preciosidade.


(cover artwork por Thee Ruiner)



(todas as canções por Brandon Biondo e Forrest Ferguson)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Uma estrada sem sentido

Um dia destes sairei à rua com o entusiasmo que tinha há muitos anos, e que se perdeu como se perde alguém ao virar uma esquina. Talvez assim as surpresas sejam outras, não as de sempre, não as comuns, antes aquelas de que me lembro tão bem, uma colega bonita, um passeio a dois, uma sessão no São Jorge depois de uma viagem a fugir dos picas, na linha de Sintra. Ao virar a esquina serei quem sempre fui, uma vez mais, os John Smith azuis nos pés, as calças de ganga gastas, a t-shirt branca com letras que diziam GREEN no branco do tecido e de que me lembro tão bem, logo eu que sempre fui RED, clubisticamente falando. Um dia destes aventuro-me a ser um bocadinho mais feliz, e a jogar à bola uma tarde inteira sem querer saber da hérnia que me atormenta tantas vezes, saio determinado a comprar um LP que ouvi na rádio com o dinheiro que poupei evitando palmiers e outras delícias da Gramel, essa mítica casa que vendia sonhos no Monte Abraão em forma de massa folhada, doce de ovos e açúcar por cima. Depois, ao princípio da noite, regressarei a casa fazendo o caminho inverso, pelas mesmas ruas, e cruzarei de novo a esquina que me devolverá ao que sou hoje. Despedir-me-ei da colega bonita, porei a t-shirt para lavar, e antes de descalçar os ténis pegarei na bola, triunfante, chutando-a até a perder de vista, mas com a certeza que alguém, com uma t-shirt branca e ténis azuis, a apanhará, vinda do alto como se viesse de um outro tempo, e a colocará no centro do campo para que um novo jogo possa começar.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

domingo, 6 de janeiro de 2013

O prazer como coisa (também) tátil (I)

Alguns pedaços de 2012 só agora me chegam às mãos. Em boa hora, mesmo assim. Ouvi muitas vezes este disco, e amei-o desde a primeira audição. Entretanto, o prazer ganhou agora uma outra forma: tornou-se tátil também. Parece-me normal fotografar o que se ama, e dar conta disso. Assim sendo, aqui fica o primeiro exemplo.

OTTO

THE MOON 1111

sábado, 5 de janeiro de 2013

Le Genou de Claire (em três imagens e poucas mais palavras)

Primeiro ver, sentir e ponderar. Depois, mas só quando o momento certo chega, podemos, enfim, tocar.






* pequeníssima homenagem a Rohmer, e aos joelhos do mundo

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Caderno de notas

Assumo no meu caderno de notas
(e por escrito, como se vê)
decisões vitais para o novo ano

A saber:
amanhã (isto é para se ler todos os dias)
levantar-me-ei sem vontades gastas
nem marcas no peito
e por circunstâncias várias
serei sempre capaz de me agradar
com a noção do dever feito

E mais ainda:
se por acaso se toldar a luz nos dias curtos
eu acenderei de qualquer jeito
as velas que reponham o ar
nos dias em que estiver
mais rarefeito

Assumo no meu caderno de notas
(à boca cheia, e com proveito)
decisões maiores que as anteriores

A saber (ou sem saber):
que amanhã será um outro dia
em que a vida seja mais
do que um conceito

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Poema

Procuro a palavra distante
mesmo tendo-a comigo
para semeio

Estamos em época de não
deixar morrer a esperança
e o anseio

Procuro o que sei onde
encontrar perto de mim
no meu enleio

Porque a busca agita a vida
que só se encontra
de permeio

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Dillinger Morreu

É um estranho objeto cinematográfico, mas muito gratificante, mesmo assim. Habituei-me a gostar de Marco Ferreri, e por isso vejo todos os seus filmes que consigo ter à mão. A compra de uma recente box com 5 das suas obras tem-me dado água pela barba, o que é sempre uma coisa boa. Há dias coube-me ver Dillinger Morreu. Um homem, uma pistola, uma mulher (aliás, duas), uma noite a preparar o impensável, e alguns tiros. É isto o filme, e claro que nada disto é o filme. Dillinger morreu, mas eu sobrevivi.

Um homem,

uma pistola,

uma mulher,

uma noite a preparar o impensável,

e alguns tiros.


(Dillinger Morreu, mas eu sobrevivi)