quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Gostos e desgostos

Gosto de acordar e de ser acordado pelos meus filhos. Gosto dos meus filhos mais do que gosto de viver. Gosto de quem os fez nascer. Gosto de dias de sol e acho que devia ser sempre verão todo o ano. Gosto de calor. Não gosto do tempo que o inverno demora a passar. Gosto das folhas do tapete do outono no chão da minha rua. Gosto da minha rua mais do que das outras ruas. Gosto do que faço. Gosto cada vez menos de carne e cada vez mais de peixe. Gosto do sabor de certas águas. Gosto de frutas sumarentas e de descascar tangerinas com as mãos. Gosto de janelas grandes com vista para o infinito. Gosto de pensar que o infinito pode estar ao alcance da vista ou da mão. Gosto de repetir frases. Gosto de repetir frases. Gosto de ter amigos e de pensar que gosto ainda mais deles do que eles de mim. Gosto de encontrar amigos que já não via há muito tempo. Gosto de música. Gosto muito de música. Gosto tremendamente de música até ao ponto de me fundir com ela. E de livros. Do prazer táctil dos livros e do cheiro que têm. Não gosto das tardes de domingo. Gosto do momento em que me cantam os parabéns. Gosto de pensar que fui feliz enquanto criança. Não gosto de saber que certas pessoas de quem gostava muito nunca irão poder ler este texto. Gosto de escrever. Nem sempre gosto do que escrevo. Não gosto quando certos textos acabam.

4 comentários:

Anónimo disse...

Gosto de encontrar amigos que souberam esperarar por mim, e por quem eu quis esperar.

Carlos Lopes disse...

Teresa: há esperas que não custam, mesmo que tenham a duração de um quarto de século... Mas a partir de agora não nos podemos dar ao luxo de esperar outro tanto;-)

Anónimo disse...

Gostei da repetição do: "Gosto de repetir frases." Gostei do texto inteiro.Gosto de vir por aqui.Gosto de reler.

Tudo de bom sempre. Bom natal.

anag disse...

gosto de soletrar os instantes em que fui feliz, tremendamente feliz.gosto de ter gavetas e gavetas que se abrem em labirintos e janelas num dentro tão dentro de mim em que há amigos que o são ainda antes de o serem, que atravessam os tempos desérticos e os tempos cheios, os dias de amor e de desamor, de crença e de ilusão, de desilusão e de renascimento.ainda que não estejam, eles estão aí. como ontem, no ontem em que trespassaram a nossa vida com uma ternura absoluta de quem tem além das pontes, um elo mágico. gosto dos amigos que amo. que estarão aí ainda que não saibam, que são maiores, muitos maiores do que eu