sábado, 28 de março de 2009

O Cinema Falado

Há já muito tempo que ando para escrever sobre O Cinema Falado, filme que Caetano Veloso realizou nos finais dos anos 80. Desde logo porque até à sua existência em dvd, eu estive por duas vezes muito perto de assistir à sua projecção em Lisboa, e em ambas as vezes, o filme nunca chegou a ser exibido. Nunca foram dadas explicações sobre o sucedido. Daí que, quando saiu a edição em dvd, comprei-a imediatamente.
O filme conta com participações de relevo, desde logo sobressaindo nomes como Júlio Bressane, Maurício Mattar, Regina Casé, a mãe do próprio Caetano, alguns familiares mais próximos, Paula Lavigne e tantos outros.
Consta que no dia da estreia, no FestRio, em sala totalmente sobrelotada, o público foi saindo aos poucos, não aguentando o calor (dizem uns) e a qualidade do filme (dizem outros, em maioria). Só quando o filme caminhava para a recta final é que o clima se agravou, aparecendo algumas vozes críticas gritando impropérios, destruindo verbalmente o que Caetano havia filmado. Claro que muitos ficaram até ao fim da projecção, aplaudindo efusivamente a primeira longa metragem de Caetano.

O filme é um baú de referências: Godard, Fellini (Caetano chega mesmo a assobiar excertos de melodias de Nino Rotta, dos filme La Strada e Il Vitelloni), Rogério Sganzerla, Win Wenders, mas também nomes como Guimarães Rosa, Heidegger e muita mais filosofia alemã. Vozes e/ou presenças de Elza Soares, João Gilberto, Dedé (primeira mulher de Caetano) e tantas outras também se encontram no filme. Como se não bastasse, os assuntos filmados percorrem as Artes Plásticas, Teatro, Sexo, Homossexualidade, Música Brasileira, Rock Inglês...
O Cinema Falado é um filme pretensioso. Caetano foi crítico de cinema durante largos anos e tinha vontade de fazer vários filmes. Só fez um. Talvez porque fazer cinema para entendidos (esta expressão em itálico vou buscá-la ao disco Araçá Azul, apresentado por Caetano como sendo um disco para entendidos) não seja tarefa fácil num país como o Brasil.
Eu, embora suspeito na matéria, gosto do filme. No entanto, também o acho excessivo em alguns takes, mas inteligente, sensível, doutrinário e feito num tom descomprometido que me agrada. A edição portuguesa tem mais de três horas de extras, o que torna a coisa ainda mais apetitosa. Mas, ou muito me engano, ou já dificilmente se deve poder encontrar à venda.



*este vídeo mostra cenas do filme O Cinema Falado, misturadas com canções de Araçá Azul e Jóia.

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