segunda-feira, 13 de julho de 2009

O ABC do Amor

Decorria o ano de 1983 e eu, o meu irmão e o meu primo Sérgio rumámos até ao norte, mais precisamente à Anadia, para passarmos uns dias de férias na casa de uma prima. Um casarão, aliás, vivenda imponente e antiga com quintal e tudo. Tinha 16 anos e as recordações de alguns dos momentos desses dias estão muito presentes ainda na minha memória. Os momentos e também a banda sonora dessas férias. Nessa altura, eu ouvia muita MPB e alguma POP. Fazia-me sempre acompanhar de um pequeno leitor / gravador de cassetes (usava as clássicas BASF laranjas ou verdes) e dessa vez não foi excepção: Kim Wilde (Select), Haircut 100 (Pelican West) e ABC (The Lexicon of Love) eram a minha bagagem musical. E digo minha, porque o meu irmão nunca gostou de música e o meu primo, nessa altura, tinha um gosto que me parecia muito duvidoso - ouvia Motown e pouco mais. Dos 3 discos que levava, dois ficaram para sempre na minha cabeça: o da segunda loura mais sexy da música POP e o dos ABC. E é sobre The Lexicon of Love que vos escrevo.
Os ABC estrearam-se no mundo da música com uma obra-prima absolutamente inquestionável. Um daqueles discos perfeitos do princípio ao fim, sem uma única faixa que ficasse aquém das restantes. É claro que as que mais ficavam no ouvido eram, por exemplo, The Look of Love, Poison Arrow ou All of My Heart, mas para mim todo o disco era soberbo. Ainda hoje, apesar da produção algo datada, sobrevive bem enquanto trabalho de POP certeiro aos ouvidos e ao coração. De tal maneira que o segundo disco da banda (Beauty Stab) não aguentou as comparações com o primeiro e afundou-se ( e com ele toda a carreira do grupo) no mais profundo mar do esquecimento. Injustamente, na minha opinião. Gosto muito de Beauty Stab, embora seja um trabalho completamente diferente e com outro propósito de The Lexicon of Love.
Ouvíamos (sim, deste o meu irmão gostava e o meu primo achava-lhe alguma graça) The Lexicon of Love a todas as horas: de manhã e de tarde (essas memórias misturam-se com as brincadeiras algo taurinas com o cão da casa - chamava-se Perro, se bem me lembro - que muito sofreu com as bandarilhas / molas da roupa que teimávamos em cravar-lhe no dorso) ouvíamos e cantarolávamos o disco do princípio ao fim, e mesmo de noite (mais memórias, no quarto do primeiro andar onde dormíamos os 3, às tantas da noite, com bexigas repletas de xixis nocturnos que saíam disparados pela janela - para não acordamos ninguém - e que aterravam no quintal, desenhando estranhos desenhos no chão de areia) os ABC faziam-nos companhia.
Quem nunca ouviu este trabalho dos ABC andou perdido nos anos oitenta, ou então era deficiente auditivo. Canções como as anteriormente citadas, ou como Show Me, Valentine's Day e Date Stamp são bem a prova de um disco genial. Tão genial que entra agora, triunfante, no Museu dos Melhores Discos do Séc. XX.

* já para não falar da capa, um verdadeiro clássico...

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