segunda-feira, 4 de julho de 2011

Qualquer Coisa (a outra metade é Jóia)


Qualquer Coisa é a outra parte de Jóia. Os dois discos são gémeos de nascimento, embora com algumas diferenças bem audíveis. Durante bastante tempo preferi Qualquer Coisa, depois deu-se o contrário. Hoje, a minha postura volta a alterar-se: não consigo decidir-me. E ainda bem. Ouço os dois e contento-me por existirem. Qualquer Coisa é instrumentalmente mais cru, com muitos temas de voz e violão, apenas. A canção de abertura (Qualquer Coisa) é um clássico absoluto da carreira do mestre baiano, e pelo meio do disco outros clássicos lá se encontram facilmente, embora nunca chegassem a ter esse estatuto público. Mas vamos aos destaques, depois da já referida pérola inicial: Samba e Amor, Madrugada e Amor são canções que andam de mãos dadas, e Jorge de Capadócia é um hino injustamente esquecido. Depois há as três canções dos The Beatles (Eleanor Rigby, For No One e Lady Madona) apenas com voz e violão, ou quase. Mas deixo para o fim deste texto quatro superlativos momentos: Da Maior Importância (cuja letra é bem a imagem da gíria tão caetaneante daquela altura); Drume Negrinha (soberba canção de embalar); La Flor de La Canela (com uma força muito particular, que apetece cantar e cantar...); e Nicinha, minúscula na extensão, mas de enorme melodia cativante. Os versos, dedicados à sua irmã de criação, são muito bonitos, e escrevem-se assim:

Se algum dia eu conseguir cantar bonito
Muito terá sido por causa de você, Nicinha

A vida tem uma dívida
Com a música perdida
No silêncio dos seus dedos
E no canto dos meus medos
E no entanto, você é a alegria da vida

Ouça-se Qualquer Coisa e escute-se Jóia, um atrás do outro. É o que gosto de fazer há mais de vinte anos.

* a capa de Qualquer Coisa (simbolicamente desfocada) pisca o olho a Let It Be, dos The Beatles, como é fácil perceber.

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