Enid Blyton marcou a minha infância. Isso fez-se notar, desde muito cedo, quando ainda em Moçambique, através das aventuras do Noddy, e também mais tarde, já em Portugal, lendo as aventuras d'Os Sete, e sobretudo com os 21 livros da coleção d'Os Cinco, da Editorial Notícias. Muitas e muitas horas passei eu envolvido nos mistérios daquele grupo de crianças... Conhecia, naquela altura, a ilha Kirrin tão bem como eles, o que pensavam Julian e David, Ana ou Zé, nunca deixando de parte Tim, companheiro canino de toda aquela gente. Era quase da família, e sempre me senti bem em companhia de tão célebre quinteto. Fui sabendo, à medida que deles me fui afastando devido ao avançar da idade, que a britânica escritora não foi, como inconscientemente desejava, um exemplar modelo de virtudes, ao longo do seu tempo de vida. A sua existência revestiu-se de uma enorme complexidade, desde logo pelos conflitos familiares enquanto criança, mas também por ter vivido as agruras de duas guerras mundiais, o divórcio, a frieza com que tratou os seus próprios filhos, a sua própria família, o modo como usou os que a rodearam, o sofrimento quase constante devido às críticas que foram marcando a sua carreira, principalmente quando duvidavam da capacidade de escrever tanto, em tão curto espaço de tempo. Enid chegou a escrever mais de 20 livros num só ano, tendo ultrapassado largamente a barreira das 700 obras durante toda a sua vida! No entanto, há muito aprendi que os fáceis juízos de valor que por vezes fazemos, mais não são do que exercícios óbvios de estupidez e falta de senso, pelo que tenho perdido, aos poucos, a tendência de cair nesses erros. Acontece que vi Enid, o filme de James Hawes, muito recentemente, facto que me elucidou sobre questões que há muito me acompanhavam sob a forma de dúvidas. Estou esclarecido, finalmente. Proponho-vos que vejam o filme, se a vossa curiosidade assim o desejar. Muito british, Enid conta com o sempre notável desempenho de Helena Boham Carter, no papel da escritora que já vendeu mais de 500 milhões de livros em todo o mundo. E agora, que se publica em Portugal uma nova edição dos famosos livros d'Os Cinco, este filme pode bem ser uma forma de fechar um ciclo que há muito se abriu em mim.
* filme não disponível em edição Portuguesa.
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