sábado, 23 de junho de 2012

Poema

Ocasionalmente
ando descalço pela casa
onde fui criança
e abro a gaveta dos bibes
e fecho-a logo de seguida
consciente de que há tempos
que nem nas orelhas me servem

Frequentemente
subo ao sótão da memória
mais antiga e recupero aviões
que me levam até áfrica
e me fazem descer (sem paraquedas)
na varanda onde o sol se punha
no mesmo instante em que nascia

Diariamente
sinto um ligeiro tremor
(como se os segundos me ferissem ao passarem por mim)
e chego ao fim do dia
com pequenas feridas que não saram
a não ser que adormeça
de mãos e coração abertos

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