sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Destino por chegar


Agora que a idade já se notava em todos os poros do seu corpo, fazia contas à vida. Nunca conseguira o que sempre desejou: um abraço forte e sentido que a arrastasse para a profunda viagem de um tempo a dois, um tempo de partilha, de cumplicidade, que a passagem dos anos não fez acontecer. Compadecida, mantinha um grão de esperança de o ver chegar, de o ver dobrar a esquina, mesmo que nunca o tivesse visto. Imaginava-o com as formas e as maneiras do seu jeito. Ruborescia quando se entretinha a pensar em momentos mais íntimos, pele com pele, perdida no leito dos sonhos.
Ainda agora, sempre só, prendia o olhar no tempo de o ver chegar. E, sem pressa de antecipar o seu futuro, vestia-se a preceito, arranjava o cabelo e esperava que o destino se lembrasse dela.


*esta imagem foi retirada do site http://olharmacro.blogspot.com/

3 comentários:

Dani disse...

Já me senti assim muitas vezes, a ver a vida passar por mim, sem me levar consigo... outras sou eu que a comando e a levo para onde quero, à velocidade estonteante que quero... Mas tu tens o dom de dar vida às imagens. =)

PS - O nariz continua vermelho... mas de gripe, agora. :(

redjan disse...

' E, sem pressa de antecipar o seu futuro, vestia-se a preceito, arranjava o cabelo e esperava que o destino se lembrasse dela. '

E o destino lembrou-se, na forma de letras que a desenharam para o papel écranizado, que a levaram voada num livro de vida que alguns teriam a sorte de ler ! Como nós, neste caso !

CL: gr8 registo and not less as a post !

Carlos Lopes disse...

daniela: a vida passa sempre por nós de uma forma tão descarada que até chateia, não é verdade?

red: somos sempre leitores de nós próprios. Mesmo quando estamos a ler os textos dos outros, somos leitores de nós próprios, if you know what I mean!!! O Zé Pedro (dos Xutos) mandou-te um abraço.