A célebre tela de Hélio Oiticica ainda hoje transmite uma válida opinião. Para mim ela estará sempre relacionada com o movimento tropicalista, mas a história diz-nos que ela foi pintada em homenagem a Cara de Cavalo, conhecido meliante morto pela polícia brasileira em 1965, ano em que a tela foi pintada. Durante muito tempo, (ó ignorância!!!) julgava que a imagem deitada na pintura de Oiticica era a do meu idolatrado Caetano Veloso, isto porque ela aparecia no encarte do disco Barra 69 - Caetano e Gil ao Vivo na Bahia, no Teatro Castro Alves, e também pelo facto de ser relativamente comum ver-se, nos concertos, Caetano Veloso deitado no palco durante alguns momentos do espetáculo, postura que ainda vai repetindo, aliás. Mas voltemos ao início deste texto, lembrando o conceito expresso no texto da famosa tela. A ideia heróica atribuída à marginalidade, entendida claramente por mim como distante da ideia que presidiu à sua aparição, parece-me cada vez mais válida nos dias que correm, embora cada vez menos representativa dos indivíduos deste tempo. Eu sou, ou tento ser, marginal. Marginal por não me rever em muito (em quase tudo, aliás) daquilo que nos chega de forma massificada aos olhos, aos ouvidos, através da imprensa escrita, falada, televisionada, através dos filmes que passam nas salas de cinema, dos espetáculos de música, e por aí fora... E sou, da maneira mais humilde que consigo, herói. Porque resisto, porque não vejo, não leio, não ouço aquilo que me impingem a torto e a direito, querendo sempre ser eu, para o bem ou para o mal, a escolher o que mais me apraz. Por isso dou razão a Oiticica, embora subvertendo o sentido da sua tela-bandeira que há tantos anos conheço.
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