Nos países onde tudo se esconde
há sempre tudo para mostrar!


Seguiam um atrás do outro. Indiferentes à névoa dos meus olhos, seguiam os caminhos que os seus corações mandavam, entretidos em serem crianças e apenas isso. É essa a magia desse tempo que parece não ter fim. Ser criança, ter a eternidade fechada nas mãos, sem receio de poder abri-las. Sinto-me velho e por isso os meus olhos turvam-se ao contemplar a infância dos outros. Olhos de água e névoa. Olhos que já não vislumbram o sol que os faz seguir em frente na cegueira de viver.
Olha, se me deres a mão não tens de ter medo de nada! Mesmo que os monstros do bosque apareçam à nossa frente, nós teremos muita força se estivermos de mãos dadas. Isso, assim não custa mesmo nada. De mãos dadas e juntinha a mim. Não te parece melhor assim? Agora podemos avançar. Já nada nos pode fazer mal. Porque, no fundo, não há monstros neste bosque. Noutros, talvez. Mas não te preocupes. Se algum aparecer, fechas os olhos, como eu, para não o veres.
Vem este texto a propósito de uma morte: a de Edith do Prato. Mas não só. Também, e acima de tudo, a propósito do disco em si mesmo, obra prima que prima por se distinguir de tantas outras pelo avesso do que geralmente apreciamos nas grandes manifestações de génio. Mas deixemos o tópico da morte lá mais para o fim destas linhas, porque é tempo de celebrar a estranha vida de Araçá Azul.
Edith Oliveira (Edith do Prato, como era mais conhecida por usar um prato e uma faca como instrumentos) morreu dia 9 deste mês. Mãe de leite de Caetano Veloso, Edith Oliveira participou no disco Araçá Azul, de 1973. No seu site Obra em Progresso, Caetano escreveu sobre Edith do Prato. O texto pode ser lido aqui. Vale bem a pena.
Deixa o fogo para depois. Mesmo que não queiramos, consumir-se-á a si mesmo, como nós. Talvez quando o frio apertar nos lembremos dele a queimar-nos o que sobrava do que fomos: coisas de acender, fogueira em lume lento, chama branda. Se um dia um outro fogo nos preencher as almas, que seja o derradeiro. Que nos queime até às cinzas e que venha o vento depois para soprar no ar o nosso antigo paradeiro.* esta imagem foi-me cedida por Moon Cat, meu amigo inglês.
Forget about the fire. Even if we don't want, it will vanish and so will we. Maybe when it gets colder we're going to remember it, burning what is left of what we were: a lighting device, a gentle fire, a soft flame. If one day another fire fills our souls, let it be the last one. May it reduces us to ashes for the wind to come and blow our ancient destiny away.
* this image was given me by Moon Cat, my english friend.
** muito obrigado à minha amiga Ana. A tradução ficou melhor do que o original!
Naquele tempo, brincar não era apenas brincar. Era viver. Era ser feliz. Naquele tempo os dias eram maiores porque eram felizes e porque brincávamos. Brincávamos para sermos felizes. E se não brincávamos (naquele tempo, de vez em quando, chovia muito e não saíamos de casa) éramos felizes na espera de brincarmos. E esperávamos pacientemente até que surgisse um balão de sol no ar lá de fora para brincarmos e sermos felizes. Não custava nada a vida naquele tempo. Era só encher os pulmões de ar.
Era uma terra estranha. Tudo parecia ser o que não era, uma vaga impressão de qualquer coisa. No limite, a imagem que se repetia na minha cabeça, indiciava uma forma estranha de existência. Talvez um momento imaginado, uma página de um livro, cena de filme... Não sei. Ou talvez a visão do mundo contemplando a minha ausência.
Estávamos em 1981. A New Wave invadia as rádios, mas nem sempre com propostas interessantes. O que não é o caso de East Side Story, dos Squeeze. Lembro-me como se fosse hoje de comprar o disco na loja a que ia habitualmente, no Monte Abraão, em Queluz. Era a única que por lá havia, aliás. Na Rádio Comercial (julgo que no programa TNT) ouvi a canção Is That Love e foi amor à primeira audição. O dinheiro das mesadas fez o resto. Já com o álbum em casa, East Side Story revelou-se um disco extraordinário. Num ápice, novas canções começaram a fazer parte do meu dia-a-dia. Temas como In Quintessence, Someone Else's Heart, Woman's World, Vanity Fair, Mumbo Jumbo, e principalmente as superlativas Tempted e Labelled With Love, nunca mais me sairam da cabeça. Ainda hoje sou capaz de as ouvir com enorme prazer. Ainda hoje me lembro das letras dessas canções. E depois, o fascínio da capa, em vinil, bom de levar debaixo do braço!!! Aquela inclinação da imagem da capa sempre me fascinou, vá lá saber-se porquê!