terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Palavras que se perdem

Quantas palavras se perdem no virar das páginas, sem que nos apercebamos disso?

*esta imagem foi retirada do blog http://digital-pixels.blogspot.com/

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Informação - Ai, Música

A partir de hoje começarei a usar dois servidores de música neste blog: o já habitual imeem e o novo goear. O goear não fornece música disponível em autoplay, pelo que é necessário clicar no símbolo play (na zona Ai, Música deste blog) para a ouvir. Garanto que vai sempre valer a pena.

Nada

Ao longe, tudo parecia calmo. Estávamos ali, perdidos em conversas molhadas e água nos pés. Distante, cada vez mais distante, o horizonte desenhava-se a carvão e névoa. Era o último momento. A desilusão. Os corpos mal se tocavam nos gestos que faziam. (Partir pode ser tão duro. A dor pode ser tão próxima.) E, mesmo assim, soltámos as últimas frases do dia como se nada fosse acontecer. E nada aconteceu. Foi mesmo assim: nada.

*esta imagem foi retirada do blog http://digital-pixels.blogspot.com/

domingo, 14 de dezembro de 2008

Special Edition


E que tal uma prenda de Natal antes da data?
Eu já tive essa sorte, graças ao mundo maravilhoso da net.
Ladies and Gentlemen, The Smiths - 7'' Singles Box

Poema

Põe uma flor à janela
um cheiro bom
no teu pescoço
põe a saia justa
que se ajusta à pele
a cada manhã
põe um sorriso
e o cabelo apanhado
se achares que é preciso
como se fosses bailarina
põe esse olhar atrevido
de menina
inconstante e destemida
que usas quando cai o dia
põe o roupão solto
sem cinto
para os meus olhos te seguirem
nos passos que dás por casa
põe em brasa essa lareira
que o frio da noite pede
e por ser noite
põe um ar terno
um ar digno dos deuses
e dos sábios
e depois
ao fim de tudo
põe os teus lábios
nos meus lábios

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O som dos dias frios

Nada melhor do que um disco dos Spiritualized
a faiscar a alma fria destes dias...

* refiro-me a Lazer Guided Melodies, um dos próximos discos a entrar no Museu dos Melhores Discos do Séc. XX

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Poema

Sem que se saiba
sem que se note
acabará sempre por ser noite
nos corredores desta casa

Sem que se ouça
ou se perceba
ouviremos sempre o crepitar
da nossa lareira em brasa

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

As Duas Inglesas e o Continente

Estamos no início do século XX. Em Paris, um jovem francês conhece uma rapariga inglesa e tornam-se amigos. A convite desta, o jovem Claude vai passar uma temporada ao País de Gales, onde Anne vive com a mãe e com a irmã, Muriel. Anne pretende que Claude venha a ser o homem da vida de Muriel... Estão lançados os dados para As Duas Inglesas e o Continente (França, 1971), filme de François Truffaut.
Considerado um filme falhado por alguma da crítica da época, Les Deux Anglaises et le Continent é um momento atípico na obra de Truffaut. Truffaut gostou muito do filme, mas a verdade é que o sucesso comercial não correspondeu às expectativas. Foi muito mal recebido em Paris. Escreveu-se, à data do lançamento da obra, que Claude Roc (Jean-Pierre Léaud) não se soube desligar dos tiques e trejeitos de Antoine Doinel, personagem recorrente dos filmes de Truffaut e uma espécie de alter ego do próprio realizador. Não concordo. Jean-Pierre Léaud é soberbo na forma como interpreta a personagem. Como também é Kika Markham (Anne Brown) e Stacey Tendeter (Muriel Brown). Filme de época, As Duas Inglesas e o Continente tem um colorido muito próprio, soturno, sombrio, reflexo dos sentimentos que se vão debatendo no triângulo amoroso do enredo. A banda sonora de Georges DeLerue é comovente, perfeita, ideal para os dias chuvosos e cinzentos desse tempo.
Sobre o filme, Truffaut afirmou que "em vez de fazer um filme sobre o amor físico, tentei fazer um filme físico sobre o amor." E conseguiu, na minha opinião. Romanticamente exagerado, As Duas Inglesas e o Continente marca uma mudança na filmografia de François Truffaut. E, como sabemos, mudar é sempre um risco...

domingo, 7 de dezembro de 2008

Um escritor de afectos

Faleceu hoje, com 81 anos, António Alçada Baptista. Foi uma das vozes masculinas da literatura portuguesa que mais amou as mulheres. Sentia-se isso em muitas das suas obras e o próprio autor nunca o negou. Amava-as e acreditava que o mundo seria melhor se o seu comando lhes pertencesse.
Acho que tinha razão... Li algumas das suas obras com um enorme prazer: Os Nós e os Laços (1985), Catarina ou o Sabor da Maçã (1988), Tia Susana, Meu Amor (1989) ou ainda O Riso de Deus (1994).
Que descanse em paz...

Un Chien Andalou

Só recentemente, há poucos dias atrás, vi pela primeira vez Un Chien Andalou, o célebre filme de Buñuel e Dalí. Mais vale tarde do que nunca, é bem verdade! Devo começar por dizer, antes de mais, que o visionamento dessa curta metragem (pouco mais de 17 minutos) foi uma quase decepção . Filmado ainda na segunda década do século XX, Un Chien Andalou mais não é do que surrealismo desmedido, sonho delirante, projecção de fantasias. Na verdade, tudo me pareceu muito primário, embora em certos momentos (como na conhecidíssima cena em que um homem corta, à navalha, o olho a mulher) se consiga perceber um certo encanto. Convém não esquecermos que estamos perante uma obra histórica da história do cinema. Segundo consta, no dia da primeira projecção do filme, Buñuel e Dalí tiveram de fugir apressadamente do cinema para não serem agredidos por uma pequena multidão de espectadores enfurecidos. É, sem dúvida, um filme vanguardista, à frente do seu tempo, e isso é sempre algo positivo. Assim, feitas as contas, ver Un Chien Andalou não foi tempo perdido.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Little Joy

Agora que caminhamos a passos largos para o fim de 2008, está quase na altura de fazer a lista de melhores discos do ano. Aqui fica um cheirinho de Little Joy.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Há dias assim


Há dias em que nada mais somos do que números e letras.
E quase nem nos reconhecemos!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Uma outra linguagem

Tenho andado atento e fascinado com as expressões que aparecem na "Verificação de Palavras" de certos blogs, quando neles deixamos comentários. Sabem a que me refiro? A isto.
Na verdade, aquilo que começou por me irritar, achando que era tempo perdido, é cada vez mais algo que me atrai. Talvez pelo imprevisto da expressão que aparece para ser digitada, talvez porque as expressões me obriguem a lê-las utilizando pronuncias variadas (às vezes em inglês, outras em francês, outras em espanhol, italiano, outras ainda numa língua nórdica qualquer que desconheço...), pelo tipo de letra e colorido que também vai mudando...
Ao longo desta última semana fui fazendo um best of dessas expressões. Deixo-vos aqui algumas à consideração. E depois não digam que não encontram verdadeiras pérolas fonéticas! Basta estarem atentos:

Zaterone, Proveat, Fornon, Sportgod, Futgagoo, Treclia, Hippen, Romalist, Bunchii, Unfier, Relyset, Datimel, Putoi, Scala, Sagois, Readroom, Ruiness, Unkid...

* não se esqueçam de escolher sempre a pronúncia mais adequada. Há autênticas maravilhas, não há? Sim, algumas parecem nomes de medicamentos, eu sei.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Liberdade

Hoje vou com os pássaros
cortar o céu
furar as nuvens
até morder o sol

Assim fosse a vida à nossa frente:
uma linha que passasse
a ponta curva do anzol

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Palette

Vivia em gestos rápidos, como se dançasse uma valsa interminável. Vivia a vida com o que sobrava dos minutos entre conversas, risos, olhares tímidos. Pintava telas. Desenhava arcos no céu que abrigava o meu futuro. As cores que usava, roubava-as a uma qualquer palette que nunca vi. Dizia sempre o mesmo: que nada no mundo nos pertence, porque se assim não fosse, éramos todos uns dos outros... e ela não era de ninguém. Do que me lembro, tinha uma casa, uma casa com jardim, e um corpo que me habitava quando os dias eram longos, tão longos que pareciam não ter fim.

* esta foto foi tirada pela minha amiga Ana Sofia Victor

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Vida quieta

Sempre quieta. Parecia ter encontrado um canto da vida onde ficar. Passou a vida assim, à espera que a descobrissem, mostrando o pouco que tinha para dar: um corpo, uma cara indistinta, frágil mas capaz de silenciar os sentidos de quem a procurava. Deu-se muito, sem nunca se dar. Permanecia assim, no canto dos quartos, entre lençóis brancos por lavar.


* esta imagem foi retirada do blog http://bocadosdetudo.blogspot.com/

domingo, 30 de novembro de 2008

Braço de Prata

A música que ouvem neste momento é a que abre o novíssimo disco do Tim. A mais bonita canção do ano chama-se Braço de Prata e é instrumental. Deixa-me completamente rendido. Escutem...

* graças ao meu amigo Lima estive na apresentação do disco, no Coliseu dos Recreios, acompanhado pelo meu velho amigo Janeca. Que sorte!

Poema


Abrir-te assim
página a página
os dedos no papel letrado
do teu corpo
e molhar a língua
para prender-te melhor
página a página
palavra por palavra
até ao mais íntimo de ti

Depois
fechar-me no teu corpo
sem saber que me perdi

sábado, 29 de novembro de 2008

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

As tintas do sonho

Em gestos seguros, traçava as linhas do seu coração. Pintava os desejos, as vontades, os impulsos da pele. Um pouco mais de sangue, de cor de sangue, uma pitada de anil, um breve esgar de verde para acalmar o ímpeto, na tela à sua frente. Tela branca, tela pura, tela nua, a inocência que aos poucos se perdia. E nessa insistência, pintou o sonho que só no sonho se insinua.

* esta imagem foi retirada do site http://www.amoneva.com/

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Tragédia grega

Há dias em que nem tudo são flores, Quique!

O Mestre e o Rei

Caetano Veloso editará o seu novo trabalho de estúdio em 2009. Não se sabe, no entanto, muita coisa sobre o conteúdo do disco. Embora já esteja todo gravado, o processo de mixagem ainda não terminou. O disco resulta da apresentação ao vivo de um repertório que foi experimentado nos shows Obra Em Progresso, no Brasil. Primeiramente, o título escolhido era Transamba, mas Caetano alterou-o para Zii e Zie, expressão italiana que quer dizer Tios e Tias. Até que o disco se faça ouvir, podemos escutar a voz do baiano juntamente com a de Roberto Carlos, no show dedicado a Tom Jobim, que lá mais para o Natal sairá no duplo formato cd e dvd. A orquestração e os arranjos são de Jacques Morelenbaum. Coisa fina, certamente.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Poema

Deixo-te adormecer
enquanto as estrelas
se apagam no meu olhar

Mais tarde
quando a noite
for um lençol denso
sobre nós
acordarás em mim
o teu desejo

E assim
ambos despertos
acenderemos poemas
na carne dos nossos corpos
entreabertos

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Preaching Revolution

Aqui está o irmão mais novo do fabuloso Black Sheep,
de Julian Cope.
Chama-se Preaching Revolution e é um ep.
O vinil vermelho destrói corações. A música embala-nos. Wow!!!

Prenda estratégica

No dia em que fiz 27 anos (2/10/94) o meu amigo Janeca deu-me um cd de um músico que não conhecia. Tratava-se de Wim Mertens. O disco dá pelo nome de Stratégie De La Rupture e tornou-se desde essa data uma referência para mim. Tanto assim foi que fui comprando vários discos do talentoso compositor belga, mas nenhum me toca tanto como o que me foi oferecido há 14 anos atrás. Virtuoso do piano, minimalista devoto, Wim Mertens seria certamente escolhido para compor uma eventual banda sonora do Paraíso. Stratégie De La Rupture é um disco belo, de uma elegância transcendente, encontro perfeito para a voz alta de Mertens, apenas acompanhada ao piano tocado pelas suas próprias mãos.
Neste Museu dos Melhores Discos do Séc. XX, Stratégie De La Rupture ocupa um espaço que o distingue de todos os outros, talvez por ser mais luminoso, mais resplandecente, com um sotaque sonoro muito próprio. É uma obra com travo clássico, piscando o olho às canções - àquelas canções que nos podem marcar para a vida inteira -, mesmo não se tratando, verdadeiramente, de canções. É Wim Mertens, e isso já diz mais do que qualquer texto a propósito.

* já passou tanto tempo... Será que ainda te lembras de me teres dado este disco, Janeca?

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Volta sempre

Um dia, quando o único espelho possível for o da memória, saberás olhar para ti sem o espanto de outros tempos. E dirás: eu nunca fui assim. Esse olhar penetrante tem mais de cinquenta anos e o que sinto tem o dobro dessa idade. Ainda teimas em aparecer-me sem névoas no olhar!!! Impávido, triunfante. Ainda bem. Mas pergunto-te: o que foi feito de mim, afinal? E só te peço que voltes, que voltes sempre. Volta amanhã. Volta para ficares no vazio deste espelho sem memória e sem lugar.

domingo, 23 de novembro de 2008

Nu com a minha música

" E eu corri pra o violão num lamento
E a manhã nasceu azul
Como é bom poder tocar um instrumento"

* a canção Nu Com a Minha Música (Caetano Veloso) serve de título a este post.
** os versos reproduzidos a vermelho fazem parte da letra da canção Tigresa, também ela do genial baiano.
*** Gal Costa, fotografada por Antonio Guerreiro.